Bezerra da Silva
Falar de música brasileira tem algo de apócrifo. Ou antes, falar de música brasileira antiga que não tenha nenhuma influência americana ou européia para um público jovem – isso sim, é apócrifo. É quase errado, do ponto de vista da popularidade. Vou logo fazendo ressalvas (Antes até de dizer o que direi): Acho os Estados Unidos um país formidável. Ouço rock, jazz, blues. Mas, a verdade é: Estamos saturados de inglês, de Estados Unidos, de indivíduos que se fecham no rock. Mas antes também que os antiamericanos (Falsos, de universidade, claro) venham chiar, quero deixar na ata da reunião que não é culpa do país citado, não. É culpa nossa, culpa do brasileiro que é um narciso às avessas. Opa, mas como tá ficando sério isso aqui, vou passar logo pro assunto do dia: Bezerra da Silva.
É provável que uma parcela considerável dos leitores desconheça esse nome, só tenha ouvido falar, ou tenha um parente mais velho que escute até. José Bezerra da Silva foi um cantor e compositor brasileiro e era intérprete dos gêneros musicais coco e partido alto, que vejam só, são sub-gêneros do samba. Agora, se na sua mente, ao ler a palavra “samba” só vem carnaval ou no máximo algum pagodeiro moderno, esqueça. O tal partido alto pode ser interpretado como o popular “fundo de quintal”, ou pagode de raiz, pois a eles deu origem.
Todos esses termos parecem marginais (Apócrifos, eu falei). O roqueiro ortodoxo é um que, se leu até aqui, está torcendo o nariz. Não sei porque isso acontece e só posso pensar que seja um preconceito adquirido sabe-se lá de onde. Só sei que se o Luan Santana de repente quisesse cantar samba de raiz, seria o estilo mais popular do Brasil. Captaram?
Então. Bezerra da Silva é de Recife e seu pai, que era da Marinha Mercante, saiu de casa cedo. Ainda pequeno, Bezerra foi morar no Rio de Janeiro. Mais velho, morou no Morro do Cantagalo, foi pedreiro e até mendigo em Copacabana. Depois de tentar o suicídio e ser salvo por um santo de umbanda (?!), Bezerra enveredou pelo caminho do samba. Aliás, musicalmente ele estava no limite entre a marginalidade e a indústria musical. Suas músicas tratavam de temas da realidade do morro, por exemplo: Malandragem Dá um Tempo (Muito conhecida), Sequestraram Minha Sogra, Defunto Cagüete, Bicho Feroz, Overdose de Cocada, Malandro Não Vacila, Meu Pirão Primeiro, Lugar Macabro, Piranha, Pai Véio 171 e Candidato Caô Caô. Os temas mais recorrentes eram a malandragem e os cagüetes, ou dedo-duros, a polícia, etc.
Malandragem Dá Um Tempo, uma das suas músicas mais conhecidas.
Em 2005, pouco antes de morrer, Bezerra gravou com alguns artistas mais novos, como Marcelo D2 e Velhas Virgens. Aliás, há uma história interessante sobre a morte do cantor: Ele abotoou o paletó de madeira numa segunda-feira, 17 de Janeiro de 2005, depois de ter uma parada cardíaca. Foi enterrado na terça, no cemitério do Caju, no Rio. Como Bezerra se entitulava o “bom malandro”, ele não queria morrer em uma sexta-feira ou feriado, pra não estragar a praia e o lazer dos amigos. E morreu em uma segunda. Aliás, como eu já disse, era dia 17 de Janeiro: 17/1 – o número do malandro.
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