Boardwalk Empire – 2ª temporada
Então pessoas, semana passada tivemos o último episódio da 2ª temporada de Boardwalk Empire. E que episódio, senhores. Se Breaking Bad não existisse, seria o melhor do ano fácil, fácil. Mas chega disso, que não é hora pra spoilers (ainda).
Eu lembro que só comecei a ver Boardwalk Empire por causa da direção do Martin Scorsese e tal. Mas aí acabou que ele dirigiu só o primeiro episódio. Cuja qualidade acabou destoando de todo o resto da primeira temporada. Não que ela tenha sido ruim, mas o primeiro episódio nos preparou pra uma história de gangsters padrão. Com as ocasionais traições, perseguições e execuções. E o que se seguiu foi uma narrativa mais lenta, reflexiva. E talvez eu apenas esperasse isso da série, mas os episódios seguintes nos prepararam pra um grande confronto final. Que acabou não acontecendo.
Só que essas escolhas foram justamente o que possibilitaram o sucesso da segunda temporada. Reflexo da preocupação absurda da HBO com a qualidade. Sério, como é foda ver uma série que não se preocupa descaradamente com audiência. A ambientação, o desenvolvimento dos personagens e das situações, foi tudo tão bem feito que quando a segunda temporada começou, com a Ku Klux Klan metralhando a destilaria do Chalky White, o primeiro pensamento que veio a cabeça de todo foi: Já era.
Não pra KKK, claro, estamos nos anos 20, nos Estados Unidos. Mas sim pro Nucky Thompson. A primeira temporada esmiuçou com tanta competência as manobras que mantinham o Nucky no controle de Atlantic City que nós até esquecemos do delicado equilíbrio que mantinha tudo isso funcionado. Equilíbrio esse que foi abalado logo nos primeiros momentos da temporada. Sem Chalky White, sem álcool. Sem álcool, sem dinheiro. Sem dinheiro, sem pessoas felizes. Sem pessoas felizes, sem lealdade. Paralelamente, o Comodoro decidiu que era hora de retomar a cidade pro filho dele, Jimmy, que agora trabalhava com Nucky.
Com o Comodoro de volta e Jimmy no controle da parada, e sem álcool pra controlar a galera, o Nucky acabou sendo indiciado por fraudar as eleições. E por assassinato, violação da Lei Seca e etc. Isso deu uma dinâmica sensacional à toda a temporada. Foi legal ver Nucky, sempre no controle, lutando pra sobreviver e finalmente provando porque estava no controle. Ao mesmo tempo, Jimmy se revelou um antagonista de primeira. Eu diria até que essa temporada foi toda dele.
Se ele começou a série como um guarda costas de luxo, acabou como um dos personagens mais complexos da televisão. Desde as revelações do seu passado, até a chegada ao topo e a descida ao fundo do poço, foi tudo magistralmente orquestrado. Principalmente seu poético fim, onde revelou-se que ele estava caminhando pra morte desde o começo da série, quando voltou das trincheiras da I Guerra Mundial.
O que nos leva a outra coisa: A série foi lentamente se tornando sombria pra caralho. Todos os personagens tiveram seu lado negro exposto nesses últimos episódios. Com direito a incestos, parricídios e todo o tipo de relações familiares não muito saudáveis. E isso foi particularmente surpreendente no caso do agente Nelson Van Alden, que passou de incorruptível defensor da lei à fugitivo procurado por assassinato. E ele continua sendo o mocinho da série! Pra ver o nível de profundidade dos personagens.
A única que decepcionou foi Margaret. Ela começou como uma personagem até interessante, mas foi sucessivamente mudando de personalidades até ficar insuportável. Tipo o que aconteceu com a Rita no Dexter, tá ligado? Com a diferença que ela não morreu. Mas também, é graças a ela que o season finale foi tão sensacional. E vai ser interessante ver essa relação de amor e ódio entre ela e o Nucky na próxima temporada. Até porque a série não nos deixou com gancho nenhum.
Com um protagonista morto, outro exilado, eu acredito que mais um personagem deve ser apresentado, pra colocar as coisas em movimento de novo. De qualquer forma, podemos esperar algo com um nível de excelência absurdo. É só prestar atenção a alguns detalhes, tipo a forma sutil como a série utiliza eventos contemporâneos à trama em função da história. Como a chegada de imigrantes aos Estados Unidos, as revoltas na Irlanda do Norte, a compra da World Series de beisebol de 1919, até a participação do jovem Al Capone, que eu achava que seria erroneamente explorada ao máximo. Ou a dosagem de ação na série. Como eu disse lá no começo, não é todo episódio que alguém é preso, assassinado, ou algo assim. Mas quando isso acontece, é impactante ao extremo.
É por essas coisas que dá pra ter quase certeza de que Boardwalk Empire é um seriado que não vai apelar pra súbitas mudanças de direção, ou quaisquer medidas desesperadas para garantir audiência. Porque ele simplesmente quer contar uma boa história. E é graças a isso, que eu espero ansiosamente (E tranquilamente, pra variar) pela estreia da próxima temporada.
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