Boyhood, o filme de 12 anos

Cinema segunda-feira, 28 de abril de 2014

Pode até não parecer atualmente, mas por um bom tempo o Bacon foi território quase que totalmente conquistado por gente que se liga em cinema. Isso é um dos motivos por eu não me ligar muito na parada, principalmente no que tange filmes que sequer foram lançados ainda. Mas Boyhood me chamou atenção, e garanto que tem um bom motivo pra isso.


E é isso. Juntaram uma galera e levaram 12 anos fazendo um filme. Sim, 2002 foi há DOZE anos. Pode parecer idiota, e definitivamente é algo que deixa muita gente cética, mas não é. Já parou pra pensar o que aconteceu desde 2002? O que já aconteceu com você desde 2002? Acho que vocês sequer sabiam o que era punheta em 2002, quanto mais considerar a ideia de que as garotas não eram tão chatas, afinal de contas. E se você for garota, se fodeu, homens são nojentos aos 5 e continuam assim aos 17. E aos 26. E aos 38.

Se você não conhece Richard Linklater, não se preocupe, os filmes dele nunca foram tão conhecidos assim. A coisa mais famosa que ele já fez foi Antes do Amanhecer, aquele filme meloso com o Ethan Hawke e a Julie Delpy. Você sabe quem ela é, só não sabe disso. Bem, Antes do Amanhecer é de 1995 e ganhou duas sequências: Antes do Pôr do Sol, de 2004 (Sim, 9 anos depois), e Antes da Meia-Noite, do ano passado (Outros 9 anos em relação ao anterior, e quase 20 desde o primeiro). Outro filme dele, O Homem Duplo, com o Keanu Reeves, Robert Downey Jr. e a Wynona Ryder, ficou quase um ano e meio em pós produção: O cara sabe trabalhar com tempo.

 Não dá pra ter tudo.

É aí que entra Boyhood. O filme não foi lançado ainda, está programado lá pra metade do ano, mas já foi exibido em alguns festivais gringos. As frases no trailer são por causa deles. E aqui tá uma coisa que me pegou: Eu acredito nessas frases. Normalmente, num trailer, capa de livro ou coisa do tipo, sempre tem esses trechos falando bem do filme, uma “opinião de especialista”, que, como todos sabemos, tendem a ser mentiras deslavadas. É como as coisas funcionam.

Mas vejam estas: “Nunca foi feito nada assim”, “uma vez na vida”, “um filme único”, “como nada na história do cinema”. Não tem como dizer se o filme é bom, se todo o trabalho valeu à pena, não ainda, mas a questão é justamente o trabalho: Esse filme não está em pós produção há mais de uma década, não está na geladeira, não está esquecido, não teve problemas de distribuição, não teve greve de sindicato. Esse filme está ativamente SENDO FEITO há doze anos.

Por mais que você não acompanhe a TV e o cinema gringo, preste atenção no trailer: Você vai ver, em duas horas e quarenta e quatro minutos, doze anos da vida de vários atores. Do bem conservado Ethan Hawke, da Patricia Arquette (Que todo mundo reconhece de nome mas não lembra quem é), da Lorelei Linklater cabide de emprego, que faz a irmã do garoto, e do próprio Ellar Coltrane. Pensa nisso: Esse garoto é protagonista de uma história desde que tinha seis anos. A partir de agora, todo ator que disser que cresceu com uma série de TV é um mentiroso.

Não vou mentir para os senhores, há coisas parecidas. The Children of Golzow (Die Kinder von Golzow no original) é um documentário sobre 18 pessoas que foi feito desde 1961 (Quando elas tinham de 9 a 11 anos) até 2007. Eu não escrevi errado, são 46 anos e quase 43 horas de filme, divididas em 20 capítulos, mas não foi constante. O documentário tem pulos de até quase 10 anos entre uma “atualização” e outra. Outro documentário é The Up Series, sobre 14 adolescentes, que começou em 1964 e continua até hoje, mas são apenas 8 capítulos até agora, sempre com intervalos de 7 anos entre eles. Talvez a coisa mais próxima seja o personagem Antoine Doinel (Interpretado por Jean-Pierre Léaud), do diretor François Truffaut: Apesar de começar como um personagem comum, a coisa mudou, e em 5 filmes, cobre-se 20 anos de vida do personagem, mas também com várias janelas entre eles. Em suma, a trilogia “Antes do” é muito mais próximo disso tudo que Boyhood.

Aliás, caso não tenha ficado claro, o filme é sobre a vida. O filme seria extremamente sem graça se você fosse pela sinopse: Mãe solteira, a família se muda, relacionamentos começam e terminam, namoros, problemas adolescentes, o retorno do pai, escola, faculdade. Você já viu isso tudo e acharia um saco… Não fosse a execução. A promessa desse filme é gigante, e vou colocar minha mão no fogo aqui: Por pior que o filme possa ser, ainda será incrível. Reclame de Blade Runner, odeie Clube da Luta, queime cópias de Pulp Fiction, sei lá, se vira, este aqui não está disponível.

O filme ainda não tem data de lançamento, quanto mais previsão se vai passar no Brasil, e, sinceramente, eu não ligo. Vou assistir esse troço, cabe à galera decidir como… Esse é o tipo de coisa que você não pode perder. Esse é o tipo de coisa que você tem que ir ver por si mesmo, “passar por essa experiência”. O filme já ganhou alguns prêmios, e se eu tiver que apostar, acho que vai ganhar vários e vários outros. Podem esperar mais coisas sobre Boyhood aqui no Bacon, e talvez seja melhor prestar mais atenção ao Richard Linklater também.

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