Cidadão Kane (Citizen Kane)
Olha eu aqui de penetra na coluna no quadro da Uiara.
Para compensar minha boa ação, falarei sobre a considerada “obra máxima” do cinema: Cidadão Kane, de Orson Welles (que também foi roteirista e protagonista, nesse que foi seu primeiro filme).
O filme em questão nos mostra o decorrer de uma investigação, feita por um jornalista, para descobrir o significado da última palavra do magnata da imprensa, Charles Kane.
Rosebud.
É isso mesmo. A história não passa disso – anos e anos escutando falar sobre esse filme, aposto que no mínimo se esperava uma história épica não ? Mas antes de soltar a franga reclamar, saiba que essa adoração toda é justificada.
Vou enumerar alguns motivos:
Primeiro: A ruptura com os padrões da indústria cinematografia da época na forma que a história é contada – o filme começa com Kane já morto, e com o tal jornalista investigando cinco diferentes pessoas. Sendo assim toda a história do magnata é contada através de relatos (entrando ai a parcialidade de cada um que conta), fazendo o público chegar a sua própria conclusão através da junção destes. Se hoje em dia pode não soar tão impactante, lembremos que estamos falando de uma obra lançada em 1941, e até então praticamente todas as obras hollywoodianas eram contadas de forma linear, e com personagens pouco complexos, psicologicamente.
Segundo: Kane foi um personagem inspirado em vários barões da imprensa da época, com foco principalmente no jornalista William Randolph Hearst. Então dá pra imaginar o impacto que a obra causou em Hollywood, explicando inclusive o porquê de ter levado apenas um dos oito Oscars a que foi indicado (o de melhor roteiro original).
Terceiro: A utilização de técnicas revolucionárias, como o uso de flashbacks, sobreposição de vozes, e utilização inteligente de efeitos sonoros e da câmera – recursos que mesmo tendo aparecido anteriormente, nunca haviam sido combinados ou utilizados da forma que Welles fez. Além disso, pela primeira vez a cenografia mostrava o teto – o que, apesar de parecer frescura, subjetivamente faz uma diferença enorme. Méritos do diretor de fotografia Gregg Toland.
Sala Quarto: O filme é de extrema qualidade, e eu vou fazer um resumo do que se trata essa história tão cultuada – e não, isso não é um spoiler, já que o próprio Welles nos apresenta os principais acontecimentos nos primeiros minutos de filme, para depois se aprofundar.
Como eu disse o filme já começa com a morte de Charles Foster Kane, para logo depois na forma de um noticiário, apresentar-nos sua mansão (a maior mansão privada do mundo: Xanadu) e a uma rápida história de sua vida – afinal, como é dito pelo próprio narrador: “Poucas vidas privadas foram tão públicas”.
A partir daí acompanhamos o jornalista Jerry Thompson, que recebeu a missão de descobrir o que significava a tal palavra que Charles disse antes de morrer.
E então através do diário do falecido tutor do magnata, Walter Thatcher, somos apresentados a infância de Kane e vemos como ele ficou rico, e quando adquiriu seu jornal, que começou como nada menos que uma diversão. Nada descobrindo sobre a palavra, este procura seu ex-secretário Bernstein, que conta a história de quando Kane assumiu o jornal Inquirer, e começou sua jornada para se tornar o maior treinador pokemon jornalista de seu tempo.
Ainda sem resposta, Thompson procura Leland, que como é dito pelo próprio:
Maybe I wasn’t his friend, but if I wasn’t, he never had one.
SAP:Talvez eu não fosse seu amigo. Mas se não fui, ele nunca teve um.
Este nos conta sobre seus dois relacionamentos – com a primeira esposa, sobrinha do presidente, e depois com sua amante, Susan, que logo se torna Sra.Kane – em paralelo a sua vida política, já que nesse período se candidata a governador. Nesse segmento começa a ser contada a queda de Kane, culminando com os problemas envolvendo as apresentações de ópera de sua esposa, que não tinha o menor talento, e as críticas feitas pelo seu jornal.
Finalmente temos o depoimento de Susan – que ficava de doce se recusava a falar até então. Ela conta sob sua ótica como foi a primeira e desastrosa apresentação que fez. Aqui mais do que em qualquer outra parte, fica aparente o talento de Welles unindo humor pastelão e drama, além também de contar com o momento mais simbólico do filme, na qual Kane destrói aquilo que julgava mais valioso.
A última pessoa a ser entrevistada é o mordomo de Kane, que não, não foi culpado pela sua morte. Seu depoimento nos diz o que aconteceu quando Susan largou o jornalista – e vemos aqui, mais do que em qualquer outro momento, o quão fenomenal era a atuação de Welles, em uma cena na qual, representado um velho decadente, explode toda sua raiva sozinho em um quarto. Mas sejamos justos, ele brilha em todo o filme: desde cenas monumentais como seu discurso, quanto em pequenos momentos, como sua arregalada de olho quando sua mulher descobre sua amante.
Após isso temos o parecer final do jornalista, que resume a vida de Kane como um quebra-cabeça, e então é revelado, somente, ao público o significado de “Rosebud“, o qual eu não irei contar. Porém para não deixá-los desamparados, uma curiosidade: para W.R.Hearst (o tal magnata em que Welles se inspirou) “botão de rosa” era o apelido do clitóris de sua amante.
Agora façam um favor a vocês mesmo e vão assistir a essa obra prima.
Cidadão Kane
Citizen Kane (119 minutos – Gênero)
Lançamento: EUA, 1941
Direção: Orson Welles
Roteiro: Herman J. Mankiewicz e Orson Welles
Elenco: Orson Welles, Joseph Cotten, Dorothy Comingore, Agnes Moorehead
Leia mais em: Cidadão Kane, Clássicos, Orson Welles, Resenhas - Filmes
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