Cinema Brasileiro 2009 – Parte I
E lá se foi metade do ano. Outro avião caiu, a Madonna segue pegando Jesus, as pessoas continuam guerreando pra lá de Bagdá, o Rio de Janeiro continua lindo, o Michael Jackson morreu. E mais de 10 milhões de pessoas foram aos cinemas só pra ver filmes nacionais. ISSO sim é novidade. No ano de 2008 inteiro não teve esse tanto de gente. Só que o engraçado é que 60% desse povo todo assistiu um filme só.
Estava pesquisando sobre os filmes que já estrearam até agora e fiquei impressionada com a quantidade de produções que nem tinha ouvido falar e que, provavelmente, nunca vou assistir por conta da dificuldade que o povo inventa pra distribuir os filmes nacionais. Aí cês me perguntam: “Mas por que, tia?” e eu respondo “SEI LÁ”. Mentira, eu sei o motivo sim. Primeiro porque boa parte do dinheiro usado pra fazer os filmes brasileiros vem de parcerias com empresas internacionais. Outra parte vem dos impostos que essas empresas internacionais pagam pra que o filme deles entre no Brasil. Dessa forma ficamos numa sinuca de bico: pra fazer filme aqui, nós temos que deixar que os gringos tomem conta da bagaça e, portanto, quanto mais concorrência, mais grana temos pra gastar no mercado nacional. Sim, é confuso.
Outro motivo pra não alavancar de vez: só agora os cineastas perceberam que nem só de filme cabeça vive um bolso, mas sim de filmes que o povão QUEIRA ver. E pra isso, tem mesmo que colocar os atores da globo, fazer o quê? Só uma cena de sexo perdida no meio do filme não faz com que as pessoas normais sigam felizes e contentes pra ver a adaptação de uma obra do Machado de Assis, por exemplo. E por “normal”, por favor considerem “a maioria”. Pra mim, anormal é não gostar de Machado. Mas enfim, o que interessa é o que filme tem que ser bom por inteiro, não uma coisa murchinha que tenta animar os espectadores com… peitos.
Outro número que me assustador: só 9% dos municípios brasileiros tem cinema. Bizarro, não? Eu fui pensar bem e na verdade a MINHA cidade em si não tem um cinema, só na do lado. Só que eu moro no quadradinho no meio do mapa e a cidade ao lado fica bem perto. Se bem que dizem que “perto” não significa a mesma coisa pra brasilienses e pro resto do mundo. Mas não é disso que eu quero falar, claro. O que realmente importa é que agora, pelo menos na teoria, está bem mais fácil fazer um filme. O Youtube que o diga. O governo anda pelo menos fingindo que ajuda mais e a tecnologia digital fez os custos diminuirem. E apesar da falta de salas pelo país, os festivais de cinema dão sua justa colaboração pra que a população veja filmes que nem vão chegar nos cinemas mais fodásticos. E de graça, em sua maioria.
E é claro que o principal motivo é que VOCÊ, tosco e inculto do jeito que é, ainda torça o nariz pra todo e qualquer filme feito na nossa terrinha, achando que é tudo merda. Daí cê pega seu rico dinheirinho e vai assistir um filme americano mais merda ainda. Mas é daquele jeito… Se é importado, TEM que ser bom. Se não bom, pelo menos melhor que um brasileiro, né não? Vocês me envergonham.
Pelo menos eu sei que cê dá valor pros filmes brasucas que saem e ganham prêmios mundo afora. Porque a única coisa melhor que um importado é um nacional que os gringos gostaram. E isso, queridos, vem acontecendo MUITO de uns 10 anos pra cá. Já nem causa mais a mínima surpresa quando um filme brasileiro é aplaudido de pé e o diretor volta com a malinha cheia de prêmios. Aí você retorce o seu cérebro e lembra que aquele filme que seu amigo gringo disse pelo msn que é mó bom passou há uns tempos atrás num festival de cinema nacional perto de você, mas, droga, tinha também o filme novo da Julia Roberts em cartaz. E ela é tão linda e talentosa… Por que ver o gordinho do Selton Mello ao invés daquela boca charmosa? Mais uma vez: cês me envergonham.
Créditos merecidos, em especial pelas estatísticas, pro artigo da Gabriela Rassy, do site Bravo! Valeu aí e tal.
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