Coisas Para Se Fazer Em Denver Quando Você Está Morto (Things to Do in Denver When You’re Dead)

Filmes bons que passam batidos segunda-feira, 09 de março de 2009

Nos anos 90, graças ao sucesso de Pulp Fiction e Cães de Aluguel, ambos do diretor/maluquete/nerdcinematográficomór Quentin Tarantino, filmes sobre o crime tornaram-se enormemente populares. Esse tipo de filme já tinha encontrado muito sucesso nas mãos de gente como Francis Ford Coppola (com a série dos filmes d’O Poderoso Chefão) e Martin Scorcese (Os Bons Companheiros). Mas tanto os filmes do Coppola quanto os do Scorcese tinham algo em comum entre sí: tratavam sobre a máfia, mas sobre a máfia italiana.

Chamar a máfia de máfia italiana é na verdade uma redundância, já que o termo tem relação com a Cosa Nostra, o conglomerado de famílias criminosas do país da bota, que fazem coisas más que fazem duvidar o Satanás. É um assunto extenso e de certa forma perigoso, e que graças novamente aos filmes do Coppola e Scorcese virou um tópico popular tão presente na cultura pop até chegar quase ao ponto da exaustação do tema.

O que eu quero dizer é, depois de O Poderoso Chefão III, fazer um filme falando sobre a máfia não era um bom negócio.

Mas filmes sobre o crime sim. É aí que voltamos ao Tarantino e seus criminosos freelancers, mestres do crime negros (algo impensável em um filme sobre a Cosa Nostra) e demais maneirismos. Crime vende, sempre vendeu, sempre venderá. Porque mesmo que você seja honesto, trabalhador, não faça mal a ninguém e pague as suas contas… você ainda quer saber como seria se você fosse um sujeito perigoso, do tipo que pode quebrar facilmente um sujeito na rua só porque esse te olhou torto. Esse é o fascínio que os filmes de gente errada causam nas pessoas, não tenho dúvidas quanto a isso. O crime é apenas algo que você não faz porque sabe que não deve fazer, e não porque não quer.

Com a nova onda sendo criminosos humanos que seguem muito mais seu próprio código que a agenda de uma organização criminosa qualquer, vários filmes floresceram com esse tema. Um deles se chamava Coisas Para se Fazer em Denver Quando Você Está Morto.

O filme conta a história de Jimmy “O Santo” Tosnia, um cara esperto que mora em Denver. Cheio de classe, anda pra todos os lados usando um belo e alinhado terno, posando como uma pessoa importante. Ele conhece a todos, e todos o conhecem. Seu meio de vida? Um tanto inusitado, mas totalmente legal. É assim, uma pessoa se descobre portadora de uma doença terminal, e tem poucos meses (ou até semanas) de vida. Mas essa pessoa tem um filho, ou familiares, e ele quer deixar uma mensagem pro futuro, com conselhos e pensamentos. Essa pessoa contrata a firma do Jimmy, grava uma fita no estúdio falando o que quiser, e a fita fica arquivada, para que seus familiares assistam quando quiserem. Jimmy “O Santo” aparentemente faz uma boa renda com esse negócio, e se sente bem consigo mesmo, pois empresta um pouco de imortalidade aos que se vão prematuramente.

Mas Jimmy nem sempre teve uma vida tão simples. Nos velhos tempos ele fazia pequenos serviços para o “homem com o plano” (Christopher Walken), que é um cabeça de várias ações criminosas. O “homem com o plano” é um sujeito amargurado, pois várias coisas ruins aconteceram com ele. Viúvo de uma mulher que ele amava, e que morreu de forma horrível (câncer se bem me lembro). Alguns anos atrás sofreu um atentado de um chefe rival, que o deixou imobilizado do pescoço pra baixo. Seu único filho (Michael Nicolosi) ficou louco quando foi chutado por uma namorada. Por conta disso tudo o “homem com o plano” é um sujeito extremamente amargo e paranóico.

Como já falei, Jimmy trabalhava pro “homem com o plano”, mas resolveu se indireitar. Logo, ele não fazia mais nada ilegal, mas continuava com um espírito gangster, que transpirava forte pelo corte de seu terno, e por seu cabelo bem penteado.

Até que um dia, o “homem com o plano” convoca Jimmy. Aparentemente, o filho dele fez uma cagada tremenda. Veja bem, o cara é pinel. Um dia ele estava olhando garotinhas brincando num playground de escola pela cerca, quando uma das meninas derrubou uma bola que parou bem em frente dele. Ele não pensou duas vezes, pulou a cerca e foi entregar a bola pra garotinha, perguntando ainda se podia brincar junto.

A garotinha respondeu “sai daqui, seu retardado”. E é quando desandou a lambança. Embaraço gigantesco pro “homem com o plano”.

O “homem com o plano” contou todo o ocorrido pro Jimmy, que o tempo todo sabia “lá vem… um novo plano”. E sim, tinha um novo plano na jogada. Ele acreditava que se a garota que quebrou o coração do seu filho retornasse tudo ficaria bem. Talvez o seu filho recuperasse a sanidade, e as coisas voltassem a ser boas. Mas, como fazer a garota voltar? Simples, é só tirar o novo namorado dela da jogada. Trabalho fácil, grana fácil. Mas Jimmy não quer. Ele largou essa vida, e está se dando bem. Mas o “homem” insiste, e pede pra que Jimmy faça isso como um favor. Jimmy balança, mas aceita.

Pra isso, ele vai pedir a ajuda de velhos companheiros que também largaram essa vida maledeta, e eles são: Pedaços (Christopher Lloyd), que agora trabalha como projecionista em um cinema pornô, e tem uma doença degenerativa estranha parecida com lepra (por isso o apelido); Franchise (William Forsythe), o hell angel gentil, morador de trailer, com uma família e várias crianças; Easy Wind (Bill Nunn), um cara até boa praça que serviu pena na cadeia com Critical Bill(Treat Williams), um tremendo psicopata que agora trabalha numa funerária. Easy Wind e Critical Bill eram grandes amigos, mas durante a pena algo ocorreu e agora os dois se detestam. Critical Bill chama Easy Wind de “crioulo sujo”, que retorna o cumprimento o chamando de “garoto marrom” (Critical Bill comeu fezes por algum motivo na cadeia, e perdeu o respeito de Easy Wind).

O plano era simples: o namorado da garota ia fazer uma viagem de estrada numa data marcada, e a turma deveria só dar um susto nele. Dar uma espancada e falar pra ele nunca mais chegar perto dela. Eles achavam que ele ia estar sozinho no carro, mas a garota resolveu viajar junto… é quando a maior merda que você conseguir imaginar acontece… uma merda grande o suficiente pra deixar o “homem com o plano” possesso de raiva, a ponto de declará-los oficialmente MORTOS. A pena virá no formato de um mensageiro letal (Steve Buscemi), que vai chegar quando eles menos esperarem, caçando um a um. Não adianta fugir, não adianta se esconder. Eles já estão mortos.

E é daí que vem o nome do filme, legal né? É um filme bem legal SIM que passou batido na época justamente por ser visto como um Pulp Fiction menor. O que é uma injustiça já que são dois filmes diferentes que apenas tratam do mesmo assunto.

Queria chamar destaque pra belíssima atriz Gabrielle Anwar, que interpreta Dagney, a garota difícil que Jimmy “o santo” vai fazer de tudo pra dar um “baque” (palavra dele).

Ou morrer tentando. ;)

Coisas Para Se Fazer Em Denver Quando Você Está Morto

Things to Do in Denver When You’re Dead (115 minutos – Crime)
Lançamento: EUA, 1995
Direção: Gary Fedler
Roteiro: Scott Rosenberg
Elenco: Andy Garcia, Christopher Lloyd, William Forsythe, Bill Nunn, Treat Williams, Jack Warden, Steve Buscemi, Gabrielle Anwar, Michael Nicolosi, Christopher Walken

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