Como começar a ouvir música clássica
Aos hipsters que lerão esse texto e, eventualmente, criticarão, resmungando que eu só falei de artista clichê e que entendo tanto de música quanto moscas entendem da terceira lei de Newton, lá vai uma pergunta: Sabe por que cabrito caga em bolinha?
Não?! Tá vendo?! Entende nem de merda, quer saber O QUE de música?!
É claro que só citarei os artistas e obras mais conhecidos, oras bolas! Vai me dizer que as pessoas nascem ouvindo black metal? Tem é que ouvir bastante Sandy e Júnior antes de chegar a tanto! Espero que derrubem seus copos de café da Starbucks em cima do computador.
Enfim, falar sobre música instrumental em geral é meio perigoso por um motivo: As pessoas são muito radicais. Elas costumam se dividir entre hipsters e pessoas que vêem o estilo como o equivalente medieval à Bíblia narrada pelo Cid Moreira.
Mas, apesar de viver em um mundo recheado de gente idiota, ainda acredito que exista boa parcela da população que simplesmente não teve quem as apresentasse ao clássico. Também acho que haverá o dia em que, num futuro perfeito, a ralação de vagina em boates será feita ao som de Mozart.
Então, munida de uma vontade desesperadora de tentar comprar minha passagem pro céu quando morrer, resolvi cumprir a difícil missão de limpar vossos ouvidos recheados de Lady Gaga. Prontos, marujos? Ainda sem motivação? E se eu trouxesse uma gostosa tocando um remix rock’n’roll pra vocês?
Melhor assim, não? Ei, tire essas mãos de dentro das calças! Nem adianta disfarçar, eu sei o que você fez quando viu essa mulher linda e talentosa! Mas a música parece mais legal agora, com certeza. Agora sim podemos começar.
Mozart
Ok, falo dos hipsters, mas admito: Sou viúva de Mozart. Ele era simplesmente fantástico, já que desde pequeno viajava pela Europa com o pai, que fazia um pequeno freakshow com o filhote. Mozart não podia sentar e escrever no cravo. A solução pra tirar aquele bando de melodias que rondavam sua cabeça era fazer som na primeira coisa que aparecesse à frente. Logo, arrisco dizer que é o cara com maior variedade de instrumentos nas obras.
Ah, e ele também me fez perceber que as pessoas são sempre as mesmas, não importa a época. Todos os ídolos são iguais e só se diferem pelo tamanho do topete.
Digo, o cara era o perfeito rockstar. Bebia e jogava que nem o cão. Morreu meio estupidamente, de infecção na garganta, deixando dois filhos e uma esposa incrivelmente pobres. E o maior compositor da história terminou numa vala comum, depois de ter torrado toda a grana na diversão. Até hoje ninguém sabe a localização dele. Uma casa pode ter sido construída em cima do corpo dele.
Pode haver um austríaco cagando sobre a cabeça de Mozart nesse exato momento… Não quero pensar nisso.
Passemos à música agora, por favor, começando com o concerto pra piano nº 21:
Essa daí é uma do meu TOP 10 favoritas. É animada, meio primaveril, meio início de outono. Perfeita pra fim de tarde de domingo, pra dormir abraçadinho (Ursinho de pelúcia também conta). Acho que se prestar bastante atenção, dá pra se enxergar o jardim florescendo ou as folhas caindo, dependendo da sua inclinação filosófica.
Depois, sugiro a Marcha Turca. O total oposto da música acima, essa aqui é divertida, alegre. Combina perfeitamente com aquele momento quando todos os amigos estão bêbados e falando coisas sem noção.
Mas também sugiro por causa dessa versão aqui:
Adoro esse intercâmbio entre dois mundos. Música clássica + rock’n’roll é sinônimo de orgasmo musical, sempre. Ah, e me lembrem de pedir o carinha em casamento.
Beethoven
Enquanto Mozart era uma pessoa animada e preocupada só em se divertir, Beethoven era pesado. Era enérgico, triste, ansioso. Se fosse descrever sua obra em uma palavra, seria agonizante. Veio de uma infância difícil (O pai morreu por causa do alcoolismo; quatro dos seis irmãos morreram), de uma família sem renome e cresceu sem se aprofundar muito na teoria musical, apesar de aos dez anos já ser capaz de executar toda a obra de Bach.
Durante sua vida toda, fora tido como fã-boy de Mozart e um pouco ignorado por isso. Até que, aos 26 anos de idade, ele teve otite e começou a perder a audição. E aí… Era criar ou era criar. O cara se virou. Encostando um canudinho de madeira no piano pra perceber melhor a música, fez obras pesadas, de acordes tempestuosos.
E se deu bem, devo dizer. Muito músico medíocre catava partitura do lixo. Beethoven era tão perfeccionista (E noiado) que jogava quilos e quilos de música fora. E tem muita obra que conta com várias versões. Começando com aquela que acredito ser a trilha sonora perfeita pra fim de namoro:
Patética. Vem de doença, de pathos, não do cara ser looser. E não sei quanto a vocês, mas lá pra 2:00 essa música, pra mim, fica com uma cara de “foda-se você, tô em outra” que deus do céu. É sério! Quase posso ouvir o Beethoven rindo da cara da menina! Como eu disse, perfeita pra fim de namoro. Principalmente se você tiver chutado a pessoa.
Depois, no meu top top favoritas, vem essa aqui:
Romântica, triste… É Beethoven se arrependendo da Patética. Acho que ele compôs na hora em que viu a menina de braços dados com outro. Bem feito, quem mandou ser pretensioso? Enfim, há várias histórias pro surgimento dessa música, que vão desde tentar descrever o luar pra uma pessoa cega à tentativa de externar a paixão por uma aluna. Esse Beethoven era mó leke piranha. Nunca vi compositor com tanta obra dedicada pra mulheres.
Emillie Autumn
Ok, ela é atual. Mas não neguemos que ela é uma linda e que, com certeza, muita gente se iniciou na vida instrumental com ela (Não só na instrumental, né seus safadjeenhos). E pensar que essa menina sofreu bullying quando pequena, dos amigos E dos professores. Achavam ela muito prafrentex. Ah, se toda pessoa bullynada terminasse assim, o mundo ia ser bem melhor. Essa aqui foi a primeira música que eu ouvi dela. E me apaixonei de cara. Tem cara de briga com o melhor amigo.
Sabor de saudade e redenção. Um pedido de desculpas cantado pelo violino e… Nossa. Preciso cortar o ópio da minha vida. Tá ficando feia a parada. Depois dessa, minha outra favorita é:
Eletrônica! Com guitarras! E mais, a menina canta!
Deuses! Podem voltar a pôr as mãos nas calças. Eu permito. Ainda reza a lenda que ela é da mesma família que Alice Lidell. Aquela menininha que inspirou a Alice, de Alice no País das Maravilhas.
As quatro estações de Vivaldi
Preciso dizer mais? Um dos meus sonhos é ver ao vivo. Amo o último movimento do inverno, me dá uma sensação de cobertor quente que não consigo descrever. Digo, com bastante atenção dá pra sentir a terra morrer e renascer!
Vai dizer que você não ficou com frio só de ouvir?! Só uma ressalva: Não sei quanto a vocês, mas eu acho que apenas a Primavera e o Inverno sejam totalmente perceptíveis. Descobrir onde estão as folhas caindo no Outono é difícil, e, mesmo hoje em dia, sinto um pouco de dificuldade na hora de ouvir. Mas ainda assim é maravilhoso sentir a mudança de atmosfera de cada movimento. Descreve perfeitamente o ciclo da vida.
Por fim, isso aqui foi só um pontapé, até por que, até eu tenho muito o que aprender. E muito feijão com arroz pra comer antes de me declarar autoridade em qualquer coisa, até mesmo cocô de cabrito. Eu realmente gostaria que mais gente jovem ouvisse o que, pra mim, é a expressão máxima do talento humano. É uma música de versatilidade incrível, que te faz sentir algo diferente a cada vez que se ouve, dando margem a várias interpretações diferentes. E digo mais, até as “baladinhas” têm mais energia que muita banda de metal farofa por aí.
Escutando com cuidado, vemos vários elementos que sobrevivem até hoje na música, uma vez que todo som tenha derivado daí. Sem falar nas progressões famosas. Até a repetição na música aparece. A forma sonata, por exemplo. Onze em cada dez artistas escreviam sonatas. Temos baladinhas e canções mais comerciais… Se a Marcha Turca fosse lançada hoje em dia, tenho certeza de que seria lead single.
Escutem Strauss e percebam certos padrões de artistas que se limitam em um estilo único. Mas, acima de tudo, parem de reclamar que nasceram na época errada. Tenho pena é de nego que não viveu na era dos downloads. Pronto, acho que Jesus não me barra mais…
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