Continuações e a morte do cinema
Então, uma semana antes de eu começar a escrever esse post, eu fui no cinema pra conferir qualé que era a do Prometheus. O que deve ter acontecido a quase um mês atrás. E claro, depois de tanto hype em cima do filme e do material promocional bacana que o precedeu, uma certa expectativa, e até esperança em cima da coisa era inevitável. Porém, é com pesar que agora eu afirmo: O filme é uma triste afirmação de tudo que está errado na atual indústria cinematográfica. E o problema aqui não é o Prometheus ser simplesmente ruim. O problema é que ele falha miseravelmente como filme por causa de um único motivo. Estúpido. E no entanto, lucrativo. E claro, ter um dos criadores de Lost como roteirista não ajuda também.
Certo, primeiro eu gostaria de explicar que a questão também não é o Prometheus ser uma continuação. Ou um prequel, o que pior ainda. Não, isso nós aprendemos a aceitar, com o penoso passar dos anos. Mas explorar o universo de uma obra de todas as maneiras possíveis não era o suficiente pra Hollywood. Modificar os filmes originais a ponto de eles se tornarem irreconhecíveis também não bastava. Agora, essas explorações precisam GERAR NOVAS CONTINUAÇÕES. E o Prometheus é o mais recente manifesto dessa filosofia.
Porque olha só, o filme tá cheio de elementos legais, tipo a parada da origem e evolução humanas em paralelo com a criação dos androides. Com todo esse material, não era difícil construir algo bacana. Mesmo com as falhas usuais de um blockbuster típico (Porque sim, é exatamente isso que o Prometheus é, apesar de toda a pretensão envolvida). Tipo jogar as explicações e resoluções na cara do expectador do jeito mais forçado possível toda hora e tal, vide a desnecessária revelação sobre a relação da personagem da Charlize Theron com o Weyland. Só que, mesmo optando por esse caminho, o filme resolve simplesmente omitir TODAS as informações que poderiam definir alguma coisa no filme. E por quê? Simplesmente pra deixar o máximo de possibilidades possíveis abertas para o máximo de sequencias possíveis.
Tipo, NADA tem uma conclusão nessa merda. Desde as coisas menores, como porque caralhos (E do que) os Engenheiros tavam fugindo e o que deu errado afinal, até as mais básicas. Como, vejamos, que porra é aquela gosma preta. E as questões que o filme levanta, nem se fala. Saber porque os Engenheiros criaram/tentaram destruir a humanidade? Talvez daqui a uns dois filmes. E já deu pra ver que nem são questões interpretativas/filosóficas nem nada. Pelo contrário, tudo tem uma resposta bem objetiva. Só que os realizadores decidiram adiá-las, pra não barrar nada do que talvez resolvam explorar no 3° ou 4° filme da série.
Ou seja, a coisa chegou num ponto onde um filme é feito com o pensamento de o quanto as suas sequências vão render. Uma ideia nova é tão rara que precisa durar o máximo possível. A qualidade do filme de agora? Foda-se, já é em 3D e tá cheio de cenas de ação, é sucesso na certa. E sim, eu sei esse pensamento já vem reinando há algum tempo. Mas o novo filme do Ridley Scott passou dos limites. E só ver o papel do Weiland, cara. Eles usaram o Guy Pearce em vez de um ator velho porque podem vir a retratar o passado desse cara no futuro! Como assim???
O que nos leva a considerar todo o momento atual da sétima arte. De novo. Porque, por mais que pareça que já estamos no fundo do poço, a coisa tá ficando pior, camaradas. O momento é tão ruim que o James Cameron tá tão confiante que tá vai filmar o Avatar 2, 3 e 4 ao mesmo tempo. E há quem pense que é só uma fase, mas eu não consigo pensar num único filme feito nos últimos 10 anos que possa ser chamado de clássico, futuramente. E tudo ficou mais preocupante ainda quando a Marvel descobriu a formula mágica, para o bem e para o mal. Que começou dando um novo fôlego nos filmes baseados em quadrinhos, mas acabou dando tão certo que se tornou o modo mais fácil e rápido de se fazer dinheiro no meio. Filmes divertidos, despretensiosos, que não ofendem ninguém no processo. E claro, não acrescentam absolutamente nada ao expectador nem cogitam correr o mínimo risco. O que acaba acarretando consequências inimagináveis, vide a polêmica com a piada do Thor nos Vingadores.
Os Vingadores aliás, que se tornou o filme modelo pra muita gente, mesmo com todas essas limitações aí de cima. Parece que todo mundo se esqueceu que dá pra fazer algo melhor. E curiosamente, são os filmes de super-heróis que representam melhor todo esse cenário, já que o contraponto vem justamente do Batman do Christopher Nolan. Mas estamos falando só de Hollywood, certo? Enquanto o mercado americano não pode ser salvo, no resto do mundo, centenas de filmes bons continuam a ser produzidos. Eu acho (Nota: A partir daqui, eu começo a escrever sem provas/conhecimento algum. Ou ou seja, tratam-se de divagações, pura e simplesmente). Só que por mais que isso ocorra, eles são direcionados a públicos cada vez menores. A divulgação pela internet, ao mesmo tempo que que torna a informação mais democratizada, também cria cada vez mais segmentos e sub-segmentos. Tornando, por consequência, essas produções cada vez mais idiossincráticas. E o que torna uma grande obra grande é justamente a possibilidade da compreensão universal.
Mas o problema maior é que o cinema é uma forma de arte que precisa de muitos recursos. Mesmo que as pequenas produções tenham seus (Grandes) méritos, a qualidade técnica é um aspecto fundamental no formato. Como muitos cineastas já afirmaram, um filme pode ser a mais próxima representação de um sonho. Tanto que Hollywood atende pela alcunha de Fábrica dos Sonhos, no bom e no mau sentido. Aliás, essa sempre presente dualidade é ao mesmo tempo a maldição e trunfo do cinema. Não há limites pra o que possa ser retratado na tela, mas essa grandiosidade tem um preço. O que faz com que um filme precise lucrar, diminuindo suas possibilidades criativas. Ou aumentando, já que grandes clássicos surgiram justamente em meio a luta incessante entre diretores e estúdios. Enquanto outros não puderam sequer existir pelo mesmo motivo.
Enfim, até pouco tempo atrás, apesar de alguns percalços e épocas tumultuadas, o gosto do público e a visão dos realizadores coexistia em uma certa sintonia, o que permitia a realização de algumas obras de arte. Mas hoje, as possibilidades da realização de um grande filme são cada vez mais escassas. Porque todas esses recursos não servem pra nada sem conteúdo. E através da evolução dos efeitos visuais, o 3D e tudo o mais, o conteúdo não é mais necessário, financeiramente. Um filme é um divertimento passageiro, descartável. Não é preciso ser memorável quando uma sequência já está a caminho, com uma experiencia ainda mais sensorial. O cinema está cada vez mais próximo de se tornar um grande brinquedo.
Eu geralmente acabo esse tipo de post com alguma mensagem/previsão positiva, uma solução para o problema, ou algo do tipo. Mas quando a picaretagem do Prometheus passa por um filme complexo, eu não vejo saída alguma. O nível é tão baixo que qualquer mudança teria que ser impulsionada por uma mudança social real em maior escala, ou algo assim. Mas isso também não deve acontecer num futuro próximo, obviamente. Então, eu realmente não sei. Ou seja, a saída é não levar nada disso a sério e encarar o abismo com uma boa dose de niilismo. Por hora, apreciando esse pertinente vídeo com centenas de questões não respondidas sobre o Prometheus:
Leia mais em: Hollywood, Matérias - Cinema, Prometheus, Ridley Scott