Conto: Tese de bar

Analfabetismo Funcional terça-feira, 11 de janeiro de 2011

 Num boteco comum, de uma metrópole qualquer, numa típica noite de sexta-feira. Entre uma cerveja e outra:
– Mulher mal-comida é foda.
– É… foda mesmo.
– Parece uma bomba-relógio. Pavio curto do caralho.
– Bomba-relógio tem pavio? Puta merda, essa maminha tá salgada pra caralho!
– Porra, tu entendeu! Mulher mal-comida reclama de tudo, bota defeito em tudo, tem sempre uma respostinha mal-criada para qualquer crítica, se mete onde não e chamada e blá blá blá. É um pé no saco! Lá no trabalho tem uma dessas.
– Todo lugar tem alguma boceta queijuda dessas… Mas sabe o que é pior que mulher mal-comida?

– Fala.
– Veado mal-comido!
– Uhn… tá entendendo muito do assunto, hein?! Parece até que fala com conhecimento de causa. Bem que eu tava estranhando você reclamando do sal na carne.
– Corta essa, cê sabe que sou hipertenso, porra. E outra, o mundo tá cheio de homossexuais, e não tenho nada contra, tenho até amigos que são. A bronca é que parece que eles são mais sensíveis, sentimentais, ou sei lá o quê. No final das contas são homens, e lembre-se que falo de veados, ou seja, são biologicamente mais tarados.
– Fala sério. Isso é preconceito, machismo.
– Pensei que você que tinha preconceito com homossexuais e que você era o machista da história. Quem foi que começou com o papo de mulher mal-comida?
– Não porra. Preconceito é dizer que homem é mais tarado que mulher. A única diferença é que as mulheres são historicamente mais reprimidas pela sociedade quanto à sexualidade. E não é machismo dizer que as mal-comidas são um porre, é apenas uma constatação, partindo-se do princípio que necessitam de sexo tanto quanto os homens.
-Essa papinho todo faz algum sentido, mas não me convence. Homem não vive sem sexo, mulher vive. Com 15 anos eu mal conseguia passar um dia sem bater uma punheta. Já minha filha de 17 anos é um poço de inocência. Nem pensa nessas coisas. Entende?
– Você que pensa, meu caro.
– Penso não, tenho certo certeza. Não há maldade nela. Confio plenamente disso.
– Pois, digo-lhe que está se enganando. Você já teve essa idade e sabe como os hormônios são tentadores.
– Ela é só uma garota. Não funciona assim. Vou ter que voltar mais cedo.
Atirou alguns trocados na mesa e, sob protestos do amigo, foi pra casa um tanto transtornado. Aquela conversa o deixara confuso e a cerveja não ajudava em nada.
* * *
Ao chegar em casa deparou-se com a filha “atracada” ao namorado, no sofá da casa. As roupas estavam espalhadas pelo chão. O constrangimento foi inevitável e o infarto, fulminante.

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