Corra, Lola, Corra (Lola Rennt)

Filmes bons que passam batidos domingo, 28 de março de 2010

Ei, vocês aí, noobs que pensam que filmes como os de Hollywood prestam. Leiam com atenção este texto.

Diferentemente do cinema americano, o cinema europeu entende que filmes não são apenas uma forma de entretenimento, mas uma mescla de entretenimento e pensamento crítico. Não é a toa que o cinema é chamado de sétima arte, tendo em vista que arte é aquilo que se aprecia e faz refletir.

Desde os primóridios do cinema, o velho mundo nos presenteia sempre com ótimas obras, e quase sempre afirmando tudo que eu disse acima. Na Europa o cinema é de fato, arte. Minha cara colega Uiara já falou sobre o cinema alemão em uma outra coluna e até citou com uma breve introdução do filme que vou trabalhar:

 “Run Forrest, run”

Corra, Lola, Corra

Sinopse: Lola é filha de um rico pai bancário, extravagante em seu modo de vestir e com um namorado, digamos, que se meteu em uma ‘pequena’ encrenca. Manni é o coletor de uma quadrilha de foras-da-lei e estava tendo o seu dia de sorte: carregava uma grande quantidade de dinheiro do bando para testarem sua confiança. Só que, para o seu azar, perdeu o dinheiro no trem da cidade, entrando em desespero e tendo que, em 20 minutos, recuperar todo o valor perdido. Desesperado, liga para sua namorada, que começa uma incansável corrida contra o tempo para tentar arrumar todo o dinheiro e seu namorado não ter de acertar as contas com a gangue com sua própria vida.

Olhando para a sinopse parece que teremos um filme com uma história frenética e sem muitas surpresas. Não é bem por aí! A história se inicia com a ligação telefônica do Manni, namorado da Lola (Franka Potente, aquela da Identidade Bourne), desesperado por ter perdido a grana que deveria entregar para a gangue, como já foi dito. A Lola (Adoro esse nome) tenta tranquilizar o cara, falando que vai dar um jeito de resolver a encrenca dele. Como solução, ela pensa no pai, que é um importante banqueiro. Manni avisa Lola que só vai esperar por 20 minutos, senão ele vai assaltar uma loja.

PRESTEM BASTANTE ATENÇÃO NO PARÁGRAFO ACIMA, ele ira se repetir 3 vezes idênticas.

 Seven days

A partir daí, Lola corre pra valer (Corre mesmo), para conseguir a grana e encontrar com Manni antes que ele cometa alguma loucura.
Uma das coisas que é genial nesse filme é justamente o roteiro, que começa sempre igual, mas devido a várias atitudes e ações dos personagens toma rumos diferentes. Na primeira história, por exemplo, alguns acontecimentos poderiam ter ajudado Lola a chegar mais rápido em seu destino, ou mesmo ter conseguido o dinheiro. Nessa história o pai dela a chama de louca e enxota a ruivinha pra fora do banco. Lola não chega por pouco no horário marcado com Manni.

Na segunda, após a mesma introdução, ao pedir dinheiro ao pai, e ele negar, ela pensa duas vezes e o faz de refém. Isso mesmo, o próprio pai! (Tipo assim, nas 2 primeiras histórias dá pra ver que o cara não presta). Ela consegue fugir com a grana por causa de um mal entendido e consegue encontrar com Manni. A conclusão da segunda história é a melhor.

 “Love’s in the air…”

Na terceira história acontece simplesmente dela não conseguir encontrar com o pai no banco, só esse fato já interfere na vida de quase todos os outros personagens do filme. Como ela não encontrou com o pai, ela tem que arrumar outra maneira de ganhar o dinheiro para que a gangue não meta pipoco no seu querido namoradinho. Ela tenta a sorte em um casino. A conclusão dessa história também e fantástica e encerra muito bem o filme.

O filme quer que a gente veja é a que uma palavra, uma ação que seja, pode mudar o destino de uma pessoa várias pessoas, seja ela conhecida ou não. É como se todos nós estivessemos unidos por uma linha invisível. Outra sugestão legal do filme é que como ele não tem uma introdução prévia da vida dos personagens, não limita as cenas futuras, como por exemplo, em uma história Lola sabe usar uma arma e em outra não.

Os finais são uma surpresa a parte, todos inteligentes, um mais agitado, outro mais emocinal e um mais dramático. Outra coisa legal são os planos de câmera que o diretor usa, por exemplo na cena em que Lola desliga o telefone. O uso de animação e de música eletrônica é perfeito, ambos entram em perfeita sincronia.

 Desenho dentro do filme, MTO LOKO

Voltando ao início do meu texto: Eu usei esse filme em especial para mostrar a antogonia dessas duas principais fontes cinematográficas. Enquanto Hollywood preza a “aparência do filme”, ou seja, toda a parte técnica, o cinema europeu preza o conteúdo, como o roteiro, as atuações e a interação com o espectador. Em Hollywood o filme tá lá, você assiste e acha legal e bonito. Na Europa você faz parte do filme, é como ele a todo momento te perguntasse: Entendeu isso? O que achou daquilo?
Tá aí um filme sem muitos efeitos especiais que a maioria de quem assisti fala ou deveria falar que é bom.

Espero que depois dessa pequena análise, vocês tentem ver que um livro DVD é muito mais que apenas sua capa.

Corra, Lola, Corra

Lola Rennt (81 minutos – Ação)
Lançamento: Alemanha, 1999
Direção: Tom Tykwer
Roteiro: Tom Tykwer
Elenco: Franka Potente, Moritz Bleibtreu, Herbert Knaup, Nina Petri, Armin Rohde

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