Corra, Lola, Corra (Lola Rennt)
Ei, vocês aí, noobs que pensam que filmes como os de Hollywood prestam. Leiam com atenção este texto.
Diferentemente do cinema americano, o cinema europeu entende que filmes não são apenas uma forma de entretenimento, mas uma mescla de entretenimento e pensamento crítico. Não é a toa que o cinema é chamado de sétima arte, tendo em vista que arte é aquilo que se aprecia e faz refletir.
Desde os primóridios do cinema, o velho mundo nos presenteia sempre com ótimas obras, e quase sempre afirmando tudo que eu disse acima. Na Europa o cinema é de fato, arte. Minha cara colega Uiara já falou sobre o cinema alemão em uma outra coluna e até citou com uma breve introdução do filme que vou trabalhar:
Corra, Lola, Corra
Sinopse: Lola é filha de um rico pai bancário, extravagante em seu modo de vestir e com um namorado, digamos, que se meteu em uma ‘pequena’ encrenca. Manni é o coletor de uma quadrilha de foras-da-lei e estava tendo o seu dia de sorte: carregava uma grande quantidade de dinheiro do bando para testarem sua confiança. Só que, para o seu azar, perdeu o dinheiro no trem da cidade, entrando em desespero e tendo que, em 20 minutos, recuperar todo o valor perdido. Desesperado, liga para sua namorada, que começa uma incansável corrida contra o tempo para tentar arrumar todo o dinheiro e seu namorado não ter de acertar as contas com a gangue com sua própria vida.
Olhando para a sinopse parece que teremos um filme com uma história frenética e sem muitas surpresas. Não é bem por aí! A história se inicia com a ligação telefônica do Manni, namorado da Lola (Franka Potente, aquela da Identidade Bourne), desesperado por ter perdido a grana que deveria entregar para a gangue, como já foi dito. A Lola (Adoro esse nome) tenta tranquilizar o cara, falando que vai dar um jeito de resolver a encrenca dele. Como solução, ela pensa no pai, que é um importante banqueiro. Manni avisa Lola que só vai esperar por 20 minutos, senão ele vai assaltar uma loja.
PRESTEM BASTANTE ATENÇÃO NO PARÁGRAFO ACIMA, ele ira se repetir 3 vezes idênticas.
A partir daí, Lola corre pra valer (Corre mesmo), para conseguir a grana e encontrar com Manni antes que ele cometa alguma loucura.
Uma das coisas que é genial nesse filme é justamente o roteiro, que começa sempre igual, mas devido a várias atitudes e ações dos personagens toma rumos diferentes. Na primeira história, por exemplo, alguns acontecimentos poderiam ter ajudado Lola a chegar mais rápido em seu destino, ou mesmo ter conseguido o dinheiro. Nessa história o pai dela a chama de louca e enxota a ruivinha pra fora do banco. Lola não chega por pouco no horário marcado com Manni.
Na segunda, após a mesma introdução, ao pedir dinheiro ao pai, e ele negar, ela pensa duas vezes e o faz de refém. Isso mesmo, o próprio pai! (Tipo assim, nas 2 primeiras histórias dá pra ver que o cara não presta). Ela consegue fugir com a grana por causa de um mal entendido e consegue encontrar com Manni. A conclusão da segunda história é a melhor.
Na terceira história acontece simplesmente dela não conseguir encontrar com o pai no banco, só esse fato já interfere na vida de quase todos os outros personagens do filme. Como ela não encontrou com o pai, ela tem que arrumar outra maneira de ganhar o dinheiro para que a gangue não meta pipoco no seu querido namoradinho. Ela tenta a sorte em um casino. A conclusão dessa história também e fantástica e encerra muito bem o filme.
O filme quer que a gente veja é a que uma palavra, uma ação que seja, pode mudar o destino de uma pessoa várias pessoas, seja ela conhecida ou não. É como se todos nós estivessemos unidos por uma linha invisível. Outra sugestão legal do filme é que como ele não tem uma introdução prévia da vida dos personagens, não limita as cenas futuras, como por exemplo, em uma história Lola sabe usar uma arma e em outra não.
Os finais são uma surpresa a parte, todos inteligentes, um mais agitado, outro mais emocinal e um mais dramático. Outra coisa legal são os planos de câmera que o diretor usa, por exemplo na cena em que Lola desliga o telefone. O uso de animação e de música eletrônica é perfeito, ambos entram em perfeita sincronia.
Voltando ao início do meu texto: Eu usei esse filme em especial para mostrar a antogonia dessas duas principais fontes cinematográficas. Enquanto Hollywood preza a “aparência do filme”, ou seja, toda a parte técnica, o cinema europeu preza o conteúdo, como o roteiro, as atuações e a interação com o espectador. Em Hollywood o filme tá lá, você assiste e acha legal e bonito. Na Europa você faz parte do filme, é como ele a todo momento te perguntasse: Entendeu isso? O que achou daquilo?
Tá aí um filme sem muitos efeitos especiais que a maioria de quem assisti fala ou deveria falar que é bom.
Espero que depois dessa pequena análise, vocês tentem ver que um livro DVD é muito mais que apenas sua capa.
Corra, Lola, Corra
Lola Rennt (81 minutos – Ação)
Lançamento: Alemanha, 1999
Direção: Tom Tykwer
Roteiro: Tom Tykwer
Elenco: Franka Potente, Moritz Bleibtreu, Herbert Knaup, Nina Petri, Armin Rohde
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