Crítica – Fun Home – Uma Tragicomédia em Família
Vocês devem estar cansados dessa punheta em cima de heróis e zumbis por aqui. Vocês devem até estar pensando “puta, por isso que não gosto de HQ. é só gente mal-comida com cueca por cima da calça e umas recriações horríveis de Madrugada dos Mortos em quadrinhos. que saco!” Mas eu sou bondoso. E por ser bondoso resolvi presenteá-los com a Verdadeira Nona Arte. A maravilhosa encruzilhada entre literatura e simples desenhos. E eu não poderia estar falando de outra coisa além do novo lançamento da Conrad: Fun Home – Uma Tragicomédia em Família.
Fun Home é um quadrinho diferente. Não há ninguém com super-poderes. Não há irrealidades. Nada de fantasias e ficções. A obra foi escrita pela jornalista americana Alison Bechdel com um objetivo bem simples: contar a história de sua infância e sua relação com seu pai. Sim, uma biografia, uma memoir em quadrinhos, narrada ao ritmo do pensamento.
A capa da Criança.
Não há uma ordem cronológica para as diferentes cenas que compõem Fun Home. A narrativa desenrola-se através de pequenos casos contados e recontados á medida que novas informações são adicionadas ao relacionamento pai-filha.
Bruce, o pai da narradora, é um professor de literatura/dono da única agência funerária da cidade viciado em decoração de interiores, passando todo o seu tempo vago mergulhado na remodelização da casa, recuperação dos móveis e recriação do antigo estilo Vitoriano do imóvel. Possui um Gênio singular que parece lançar sua relação com os filhos no Céu e no Inferno, além de tornar o casamento com a mãe de Alison, atriz e dona de casa, uma guerra de gritos. É também o astro central da narrativa, que parece servir como resposta á seguinte pergunta: “Quem era meu Pai? Ele está Morto agora. Ok, eu acho que ele se jogou na frente daquele caminhão, mas a verdade é que ele está Morto agora. Quem era meu pai? Quem Era essa pessoa? E será que eu realmente era tão Diferente dele quanto pensava?”
Ao longo da narrativa, vários pontos ficam claros: não é só o amor á literatura e as tendências homossexuais que unem as duas personagens (sim, mesmo casado, descobrimos que Bruce era conhecido na cidade por xavecar e comer garotinhos malhadinhos. E Alison descobre ser lésbica ao entrar na faculdade).
Publicado no Brasil pela Editora Conrad no final de 2007 e escrito com estilo próprio, Fun Home (uma brincadeira com “Funeral Home”) trabalha intensamente com citações literárias e paralelos com escritores famosos, passando por Fitzgerald, Proust e Virginia Woolf. Além da literatura ter estado sempre presente na vida da autora, em suas própria concepção seus pais e sua vida pareciam mais reais quando considerados em termos “ficcionais”, “literários”. A obra tem tudo para se tornar um divisor de águas na publicação nacional de quadrinhos e vem com força para mostrar, de uma vez por todas, que Isso também é Literatura. E das Melhores.