Crítica – Spider-Man: One More Day
No início de minha vida de leitor de quadrinhos eu tive a infelicidade de passar os olhos em muito lixo. Como todos devem lembrar, a década de 90 foi marcada por desenhistas ruins (dos quais se destaca Rob Liefeld), que destruiam os personagens com traços grotescos e desproporcionalidade. Com o tempo esses desenhistas foram sumindo (exceto Liefeld e Madureira, que me dão nojo até hoje), e as técnicas de desenhos se tornando cada vez melhores. Parecia que o mundo dos quadrinhos estava se aproximando da utopia, até que roteiros abomináveis começaram a surgir e se espalhar entre as editoras. Em exemplos recentes, posso citar Infinite Crisis e Countdown, da DC Comics, e o patético One More Day, da Marvel.
Tudo começou em Back in Black, onde vimos a Tia May ser baleada por um dos capangas do Rei do Crime. Isso foi o suficiente para que Peter Parker voltasse a usar seu uniforme negro, e mudasse um pouco sua atitude com os criminosos. Apesar de ser obviamente uma jogada de marketing para aproveitar o sucesso de Spider-Man 3, Back in Black foi até divertido. Ver o Rei do Crime ser humilhado na frente de seus “colegas” na Ilha Ryker foi impagável. A meu ver, a única coisa ruim em Back in Black foi o fato de que é um prelúdio para One More Day.
Para salvar a sua Tia May da morte, Peter se dispôs a tudo. Quer dizer, tudo menos se aliar a Tony Stark, o Homem de Ferro (coisa que ele já tinha feito no começo de Civil War). Sem resultados, o pobre Peter tentou a sorte com o Doutor Stephen Strange, também sem resultado. Então, ele aceitou a proposta de Stark e deixou que ele usasse alguns de seus milhões para salvar sua Tia em troca de uma aliança na Iniciativa? Haha, claro que não, isso seria lógico demais. Como se as três primeiras edições não fossem ruins o suficiente, Joe Quesada, editor-chefe da Marvel, resolveu intervir para piorar ainda mais. Sem outras opções (ignoremos Stark por um tempo), Peter decide fazer um pacto com MEPHISTO. SIm, vocês acabaram de ver “Peter”, “pacto” e “Mephisto” na mesma frase. O demônio estava disposto a salvar a vida de May, se Peter aceitasse ter alguns anos de sua vida apagados. Peter e Mary Jane nunca seriam casados, nem teriam lembranças desse acontecimento. Peter aceita com o consentimento de Mary Jane, e assim acontece. Peter acorda em seu apartamento, toma café com May, e se dirige até um prédio. Lá ele se encontra com Harry Osborn (não é erro de digitação, é o Harry mesmo), que estava dando uma festa em comemoração á sua volta da Europa. Eles então brindam e assim acaba One More Day. Os 6 anos que J. Michael Straczynski passou como roteirista de Amazing Spider-Man acabam de ser ignorados.
Sinto em dizer que One More Day é provavelmente a publicação mais desrespeitosa da Marvel. E não digo isso porque meus 10 anos de leitura das revistas do Aranha foram negados, mas porque é a mais pura verdade. Já houveram outras tentativas de acabar com o casamento de Peter e MJ (casamento que para mim sempre foi um dos pontos fortes da revista), mas isso foi golpe baixo. Não consigo expressar o quanto estou decepcionado. Me sinto pior ainda quanto tenho que admitir que One More Day não é inteiramente ofensiva. A arte está impecável, se aproveitando das sombras para dar um toque de tristeza á história. O diálogo de despedida entre Peter e MJ é decente se você desconsiderar a porcaria que vem depois. E as três primeiras edições.
Tenho certeza de que isto vai se reverter (afinal, esta decisão não agradou NINGUÉM), mas tenho medo de quanto tempo irá levar. E por mais que eu queira deixar de ler Amazing Spider-Man, não posso. Não só pelo respeito que tenho pelo personagem (empatado com Deadpool no topo da minha lista de favoritos), mas também pelo fato de que Steve McNiven será o novo desenhista. De qualquer forma, meu fim de ano acaba de ser prejudicado. E antes deu ir suprimir minha tristeza com Halo 3, uma pergunta: Sou só eu que não vê sentido em trocar sua bela, sempre presente e fiel esposa por alguém que vai morrer de velhice cedo ou tarde?