Das linhas pros quadrinhos

Nona Arte quarta-feira, 30 de junho de 2010

Nesses longos anos em que eu escrevi pro Ato Ou Efeito/Bacon Frito, eu resenhei algumas dezenas de HQs para o deleite de vocês, queridos leitores. A esmagadora maioria consistia em obras já escritas para edição em quadrinhos. No entanto, DUAS resenhas fogem a essa regra. A primeira, publicada há quase um ano atrás, foi Criaturas da Noite, baseada em dois contos do livro Fumaça e Espelhos – Contos e Ilusões, de Neil Gaiman; a segunda exceção, publicada em abril desse ano, foi Delírios Cotidianos, do porra-louca do Charles Bukowski. Como vocês, argutos e sagazes leitores já devem ter percebido, o ponto que une essas duas HQs é bem simples: Ambas são adaptações de livros.

Inúmeros livros já foram transferidos de suas páginas simples para o formato dos quadrinhos, desde clássicos como Dom Quixote, Sherlock Holmes e Drácula, até obras mais atuais, como O Analista de Bagé, O Curioso Caso de Benjamin Button e O Hobbit. O problema não é a adaptação; qualquer livro com um mínimo de descrições pode ser usado como roteiro para HQs, vide Cornwell e Tolkien, extremamente descritivos. Até mesmo aqueles com poucas descrições podem ser facilmente transcritos com um pouco de observância ao ambiente da história.

O problema, enfim, não é o conteúdo ou a adaptação per se, mas os leitores. Como já se disse milhares de vezes aqui, e todos vocês sabem disso, quadrinhos não são exatamente bem vistos pelas pessoas comuns. Não importa se a pessoa ao seu lado está lendo crepúsculo (Me recuso a gastar maiúsculas com essa anomalia) enquanto baba nas próprias calças e grita “Brilhante! Brilhante! Hurr durr!”, e você está calmamente lendo seu Watchmen; VOCÊ é quem vai ser considerado o retardado, afinal, VOCÊ é quem está lendo quadrinhos.

Eu nem mesmo preciso usar meus colegas de faculdade como cobaias para provar o quanto estou correto, basta imaginar a situação:

Dia 1: Você, durante o intervalo de 5-10 minutos entre uma aula e outra, saca um livro qualquer. Digamos, o livro de auto-ajuda que está entre os mais vendidos da Veja dessa semana. Note que, fora uma ou outra pessoa que virá lhe perguntar o título do livro, ninguém questionará a seriedade ou o conteúdo do que está sendo lido.

Dia 2: Você, durante o intervalo de 5-10 minutos entre uma aula e outra, saca a versão quadrinizada do Malleus Malleficarum/Necronomicon/Dom Quixote/o que diabos for. Note que, fora um ou outro nerd interessado em quadrinhos, ninguém levará a sério o que você estiver lendo, mesmo que seja a receita para a Pedra Filosofal deixada pelos druidas irlandeses de Stonehenge, que permite transformar água em Guinness e guardanapos em bacon frito.

Como minha mensagem final a vocês (Ô, drama!), peço que, enquanto membros conscientes da comunidade nerd (Não tentem negar), espalhem a palavra! Mostrem ao mundo que, sim, quadrinhos podem ter conteúdo! Livros, internet e TV não são os únicos meios de difusão cultural (Aproveitem e extendam isso para jogos, também)! Adiós, amigos!

A partir da semana quem vem, as colunas Nona Arte e Bíblia Nerd entram em recesso, só voltando em meados de Agosto. Don’t cry for me Argentina…

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