Delírios Cotidianos (L&PM Editores)

Bíblia Nerd sexta-feira, 02 de abril de 2010

Charles Bukowski, apesar de não ser muito famoso, tem lá seu considerável quinhão de admiradores devido ao seu estilo narrativo, que denominarei realismo realisticamente escroto. Vocês, adoradores de Hollywood (Ou Bollywood, sei lá) e conhecedores de cultura estadunidense em geral, devem conhecer o termo loser, que, basicamente, serve para designar aquelas pessoas cuja maior realização na vida é comprovar a existência da atração gravitacional e da impenetrabilidade dos corpos, entre outros princípios da física que você não se lembra por estar conversando com o colega na carteira ao lado. Ou seja, um zé ninguém.

Bukowski, na maior parte de sua vida, foi um loser sem par. Alcoólatra, brigão, sem emprego ou objetivo e vagabundo, resolveu escrever por odiar trabalhos braçais. Todas as suas obras (Romances, contos, poesia) são praticamente autobiográficas, retratando vários aspectos das vidas dos losers estadunidenses das gerações de 1950 a 1970. Como nos US of A, e no mundo em geral, os jovens estavam apáticos e adotando um estilo de vida como o de Bukowski, regado a quantidades cavalares de álcool, prostituição, vagabundagem e inconsequência, as obras do mestre foram se tornando famosas. Como a juventude conseguia se identificar nos contos, Bukowski foi ganhando status na comunidade literária, se tornando um autor cult.

Em Delírios Cotidianos, são mostradas as versões quadrinizadas de oito contos de Bukowski, Dois bêbados, Kid Foguete no matadouro, Os assassinos, A puta de 135 quilos, Mamãe bunduda, Henry Beckett, N. York, 95 cents ao dia e Um trabalho em New Orleans. Todos eles textos sem frescura, que mostram, sem pudores, palavrões, sexo, consumo de drogas lícitas e ilícitas, desemprego e bebedeiras. Se Bukowski já não tinha problemas em escrever, sem frescuras, sobre todas as mazelas do mundo (E isso na década de 50), Matthias Schultheiss, o ilustrador da bagaça, teve menos problemas ainda com a adaptação do texto para a parte gráfica.

A arte, toda em preto e branco, é incrivelmente detalhada, mas pode ficar um tanto confusa em cenas com muita gente ou em ambientes urbanos, mas, fora isso, é uma obra excelente. Apesar de roteirizada e ilustrada por estrangeiros (Alemães, para ser mais exato), a obra é de idealização nacional, tendo surgido na década de 80, enquanto Bukowski (Ô nomezinho chato de se escrever) ainda estava vivo. Recomendo a leitura.

E, para que os politicamente corretos não venham me encher o saco: Não recomendável para menores de 18 anos, blá blá blá whiskas sachet…

Delírios Cotidianos


Delírios Cotidianos
Lançamento: 2008
Arte: Matthias Schultheiss
Roteiro: Charles Bukowski
Número de Páginas: 150
Editora: L&PM Editores

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