Diretores e suas fórmulas
Outro dia eu falei sobre a falta de criatividade de Hollywood, sobre as adaptações de livros e principalmente hqs para o cinema. E este tópico se encaixa na mesma discussão sobre criatividade, uma vez que certos diretores encontram uma fórmula de sucesso e não largam o osso de jeito nenhum. Vários deles repetem e repetem aquilo à exaustão. Bom, isso pode ser negativo, ou não, dependendo de como é usado, certo? Vamos falar sobre isso então.
Primeiro, isso não é exclusividade do cinema. Vários artistas dos mais variados tipos possuem suas fórmulas, suas assinaturas. Quem não vê um quadro de Modigliani sem saber e não reconhece os traços do pintor imediatamente você claro, que nem sabe quem é esse cara, seu ignorante? E do mesmo jeito quem não lê um poema de Augusto dos Anjos e logo sabe o que está lendo? E claro, Michel Teló, que sempre situa suas canções magistralmente, que logo você associa uma batida a ele. Muitos artistas possuem suas assinaturas, a ver: Modigliani sempre pinta mulheres, com longos pescoços e rostos delgados; Augusto dos Anjos escreve sempre com uma frieza clara, sem deixar a estética de lado, e um forte apresso por termos médicos que geralmente suscitariam nojo nos mais puros; Michel Teló sempre situa suas grandes canções em um espaço-tempo específico, a balada.
O cinema não poderia ser diferente e sempre nos deparamos com diretores que repetem suas fórmulas em cada um dos seus filmes. Assim como nos quadros, as vezes reconhecemos um diretor por suas fórmulas. Vamos fazer uma listinha aqui dos que eu to lembrando de cabeça. Depois eu irei retomar dizendo quais eu acho que ainda não esgotaram seus esquemas e quais já o fizera.
Quentin Tarantino
Um dos diretores mais aclamados da década de 90 até hoje tem em seus filmes marcas muito claras. Primeiro, a maioria deles (Se não todos) seguem um esquema de divisão por capítulos. Segundo, muitas vezes, como Pulp Fiction e Bastardos Inglórios, seus filmes possuem um storyboard descentralizado, contando com mais de uma história que não se cruzam necessariamente mas que estão interligadas por um princípio, um personagem, ou pela própria trama do filme.
Alejandro González Iñárritu
Este aqui, pra quem não sabe, dirigiu 21 gramas e Babel nos States e Amores Brutos ainda no México, além de um mais novo, Biutiful. O esquema é o seguinte: Rola uma treta cabulosa que muda a vida dos protagonistas dramaticamente, entrelaçando-as de uma maneira complicada, mesmo que estes nem venham a se conhecer. A narrativa não-linear também é uma assinatura deste diretor, que retrata momentos distintos que vão desde antes, durante e depois do acontecimento x. Amores Brutos e Biltiful eu não assisti, mas eu sei que o primeiro segue o mesmo esquema de 21 gramas e Babel.
M. Night Shyamalan
O diretor de O Sexto Sentido também é conhecido por sempre repetir suas fórmulas de maneira exaustiva em seus filmes, que normalmente pertencem ao gênero suspense. Sua marca registrada é sempre tentar surpreender o espectador com um final que foge totalmente do imaginado. Se ele consegue ou não, isso é outra história.
Michael Bay
Explosões, monstros gigantes, gostosas e asteroides.
Darren Aronofsky
Um dos diretores que também possuem um grande hype em torno de suas criações, Darren Aronofsky também possui suas fórmulas. Personagens sofrendo dramas fortíssimos que sempre buscam chegar a em algum lugar se esforçando além da conta e ficando perturbados por causa disto ou então por utilizarem meios menos ortodoxos, como o consumo de drogas, o que gera problemas por si só. Além disto, ele gosta de sacrificar seus protagonistas. Os aspectos técnicos que estão sempre presentes em suas obras são cenas aceleradas e cortes rápidos.
Pedro Almodóvar
Este, apesar de não ser de Hollywood, é provavelmente o cineasta europeu mais famoso do mundo. Seus filmes exploram pessoas normais que acabam sofrendo traumas, ou se metendo em altas confusões problemas complicados de lidar. Outra marca forte deste diretor é o uso de cores quentes na fotografia, o que torna seus filmes visualmente muito belos. Outro ponto recorrente em suas obras é a centralidade da figura da mulher, ou de quase mulheres.
Destes nomes que eu apontei, acredito que o M. Bay (Que não deveria fazer filmes), Shyamalan e Iñárritu já passaram dos limites em seus filmes. Os dois últimos fizeram ótimos filmes, mas suas fórmulas os deixam um pouco previsíveis, pois já se sabe que eles terão alguma coisa de imprevisível para acontecer e isso pode gerar grandes expectativas. Com grandes expectativas vêm grandes decepções. Os outros ainda estão conseguindo fazer suas fórmulas funcionarem, mas alguns como Aronofsky podem começar a pensar em outra coisa, porque logo logo seus filmes irão incorrer do mesmo erro do que o dos outros dois falados aqui. Tarantino faz filmes para divertir com violência nonsense e referências as mais variadas. Além disso, ele é muito pop e tem crédito. Almodovar é intelectualizado demais, e tem seu público fiel, que gosta das suas coisinhas. Mas sei lá, acho que ele tá começando a dar no saco precisando dar uma variada também, apesar de não ser tão grave quanto outros casos apresentados aqui.
Para resumir, as fórmulas não são negativas, são as marcar de um artista. Porém diferente das outras formas de arte, o cinema possui mais movimento e se renova com mais constância. A repetição delas pode deixar o filme enfadonho e por muitas vezes previsível. Ninguém gosta muito de ir ao PirateBay cinema e ver mais do mesmo. Porém, quando o cineasta consegue envolver sua fórmula em uma trama interessante, e não tentar repetir todos os elementos que o consagraram a todo momento, eles podem se tornar um trunfo que joga ao seu lado.
P.S.: Estes são os diretores que eu lembrei de cabeça, provavelmente eu deixei passar vários e vários. Além disto, não assisti todos os filmes destes e possivelmente em um ou outro eles mudam a tônica das suas criações, porém acredito que não disse nenhuma bobagem apontando as marcar recorrentes de cada um.
Leia mais em: Alejandro González Iñárritu, Darren Aronofsky, M. Night Shymalan, Matérias - Cinema, Michael Bay, Pedro Almodóvar, Quentin Tarantino