Do Começo ao Fim
Ai ai, nada como uma boa polêmica para ressurgir das cinzas. Antes mesmo de sair do Bacon, eu já havia comprado (E jogado na gaveta) o filme nacional Do Começo ao Fim, do diretor Aloizio Abranches (Cujo trailer o Vassourada já tinha divulgado aqui). Quando quebrei o pé no mês passado, não teve jeito de adiar, ficava o dia inteiro com as pernas pro ar. Sem desculpas pra não assistir aos mil filmes que estavam lá pegando poeira, eu comecei a rezar o terço. E no meio disso, lá estava a história dos (Meio) irmãos assumidamente gays e… Incestuosos. É, incestuosos, cê leu certo sim. Para de ser franga e senta aí, vamos falar sério de homossexualismo (Esquece os paetês e as plumas). Afinal, mergulhar na alma de um gay sem trejeitos pode ser muito mais chocante do que presenciar um travesti montado. Tá duvidando? Então vamos lá.
O filme começa com a narrativa de Tomaz, o irmão mais novo, no dia de seu nascimento. Depois de dias sem abrir os olhos, ainda na maternidade, Tomaz surpreende ao abri-los pela primeira vez para o irmão mais velho, Francisco. Logo após, as cenas nos levam à infância dos dois, período onde começam a aparecer os primeiros sinais de que ali tem algo além de carinho de irmão. A mãe, Julieta (Interpretada com grande competência por Júlia Lemmertz), é a primeira a notar a tendência homossexual do filho mais velho, e tenta com muito cuidado fazer com que o filho diga o que sente. Sem sucesso, mas com a consciência tranqüila, a mãe cria os dois de forma livre, sem interferir. Na fase adulta de Francisco e Tomaz, Julieta acaba morrendo e o resultado é previsível: Os dois assumem um romance incestuoso com tórridas cenas de sexo.
Mas, se engana quem pensa que o caso descamba pra promiscuidade, pelo contrário! O caso é tão, mas tão sério, que os protagonistas usam até aliança. E não existe essa história de “homenzinho” e “mulherzinha”, os dois são homens comuns, que se vestem de forma normal e não se transformam em Samantha Raio-Laser mulher à noite. As tais cenas de sexo, que incluem nu frontal, agarramentos de todo tipo, língua pra cá, língua pra lá, etc e tal, são mergulhadas num profundo sentimento de amor. O filme mostra em todas os seus momentos um relacionamento monogâmico entre dois caras. E como um casal hétero qualquer, enfrentam seus altos e baixos. Quando Tomaz é convidado a treinar natação durante 3 anos na Rússia para as Olimpíadas, os sentimentos de posse e ciúmes ficam ainda mais evidentes, numa tentativa de “adequar” o casal homossexual aos clichês cinematográficos das histórias de amor.
Tecnicamente, não há do que reclamar. O longa é bem filmado, tem tomadas externas lindas de Buenos Aires e surpreendentemente conta com o músico Yann Tiersen (O mesmo de Amélie Poulain) como compositor de sua trilha sonora. Os atores não são lá aquelas coisas, mas as falhas dos outros são absorvidas pelo talento da veterana Júlia Lemmertz. A edição peca em alguns momentos pela altura do som, mas nada que atrapalhe demais. A fotografia do filme também é bem explorada, casando com a trilha delicada.
Mas, apesar de ter agradado na parte técnica, não deu pra fugir do fato de que me assustei com a história e principalmente com a forma que foi mostrada. Pessoalmente, não fiquei à vontade na maior parte do filme, passei o tempo todo achando que estava “atrapalhando” e que devia desviar o zóio. Preconceito enrrustido? Talvez. O que não dá pra negar é que é muito difícil jogar a intimidade de um casal gay no ventilador achando que vai ficar tudo bem, que todo mundo vai encarar com naturalidade. Não é uma situação comum para parte da – vamos falar que nem a tia de Sociologia – sociedade. Detalhe que eu falei parte, não disse grande parte, o prefixo grande já caiu faz tempo. Homossexuais vêm crescendo e estão se igualando aos casais héteros, isso é um fato que não dá simplesmente pra ignorar. Uma hora isso iria ser mais amplamente discutido e encarado de frente. Foi o que aconteceu em Do Começo ao Fim, baixaram as cortinas e deixaram a homossexualidade exposta.
Na minha opinião, Aloizio Abranches, mesmo negando, fez o filme para chocar, realmente chamar a atenção para a causa gay. O filme era tão perturbador que alguns patrocinadores toparam a empreitada com a condição de permanecerem ocultos. Foi bacana? Deu certo? Deu. Mas eu poderia ter dormido sem ter visto dois caras barbados se pegando e dormindo pelados de conchinha. Por mais que tenham tentado evitar o olhar censurador, o excesso de cenas do gênero dá um desconforto brabo. Abranches poderia ter tratado o tema com a ternura que colocou, mas explorando mais o sentimento do que a sensação. Uma falta sem tamanho foi colocá-los como meio irmãos, a repulsa que poderia não haver em algumas pessoas pelo fato dos protagonistas serem gays, surge pelo fato dos dois possuírem parentesco (Mesmo que seja só por parte de mãe). Coisas difíceis de digerir…
Do Começo ao Fim é o filme que desbanca o moderninho que diz que é a favor da liberdade homossexual, mas tem aquele nojinho de ver dois homens se beijando. Os mais preparados e que tenham a questão já maduramente discutida em suas cabeças, vão saber levar a história com um olhar mais calmo. Quem não tiver estômago, pode ficar chocado e pra mim, chocar não adianta muito. Nunca vi, por exemplo, protesto de gente pelada adiantar muita coisa, mas de qualquer forma vale pela iniciativa. Meu veredito: O filme é ousado, mas está longe de ser ótimo.
Do Começo ao Fim
Do Começo ao Fim (90 minutos – Drama)
Lançamento: Brasil, 2009
Direção: Aloizio Abranches
Roteiro: Aloizio Abranches
Elenco: Júlia Lemmertz, Fábio Assunção, Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcellos.
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