Dor de Corno
Ok, eu tenho um problema grave com livros: Eu tenho manias. Gosto de coisas de um determinado jeito sem nenhum motivo ou razão lógica para elas.
Faz tempo que não escrevo nada deste tipo, mas taí: Acabo de descobrir que odeio que leiam o livro que estou lendo. A capa, beleza. Contracapa, abas. Isso tudo é feito para interessar o possível leitor, é externo, social, comunitário.
A história é minha.
O recheio, seus personagens, seus dramas, desafios e pensamentos, suas ações e motivações, suas dúvidas. Meus. Tudo meu.
Não sou ciumento na vida real. Ou melhor, na minha vida. Mas acabo de descobrir que sou com a vida dos personagens do livro que estou lendo. Sou fresco pra emprestar livro pra outras pessoas, mas as poucas às quais confio meus livros têm liberdade com eles.
Mas o livro que eu estou lendo atualmente é meu e de mais ninguém. Tem meu marcador de páginas, tem minha atenção, meu tempo e dedicação. Estamos num relacionamento sério, comprometido, e eu sinto ciúmes.
Pior, me sinto invadido ao ver as páginas do meu livro abertas para outra pessoa. Por outra pessoa. Ver meus personagens contarem suas vidas para quem não deveria estar aqui. Pra mim é uma traição.
Não tenho problemas em ler para outra pessoa (Embora não morra de amores) e nem de criarmos uma história juntos: Não sou monogâmico, suponho. Mas acordos desfeitos – quebrados – aí sim o problema surge.
É, sem sombra de dúvidas, um relacionamento possessivo: Meu livro. Comprei, paguei. Ou mesmo ganhei: É minha propriedade, sem minha autorização expressa o livro deve ficar fechado, mudo e sozinho. Talvez não seja saudável, mas é a relação que tenho, e sinceramente não quero mudar. Nesse tipo de relação não importa se a capa é dura ou se o papel é novo. Sedução não existe, só coleção. É meu direito ter mais do que preciso, ter mais do que consigo dar conta. E nunca há reclamação, inveja, histórias intrusivas de amor verdadeiro.
Talvez seja minha culpa ao depositar minha confiança e me deixar vulnerável para o quê não liga de quem são as mãos e olhos sobre seu corpo. Falar a mesma língua é o único requisito necessário para se começar uma relação fadada ao fim. Faz parte, e gosto desses romances assim: Com a sensação constante de destruição iminente, inevitável e fatídica. Talvez seja o medo de compromisso, de algo sério. Talvez a morte seja só oral.
Mas a vida deve ser escrita, narrada, rimada, em versos e parágrafos, às vezes ilustrada ou numa língua nova, ainda a ser explorada, mas acima de tudo em preto e branco. E eu a quero só pra mim.
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