Drácula (Bram Stoker)

Livros segunda-feira, 01 de abril de 2013

Eu ia começar esse post me desculpando por ter demorado tanto pra ler o Drácula e tal, só que aí eu vi que o Bacon não tem uma mísera resenha desse negócio, então me considero automaticamente perdoado. Mas o fato é que isso só confirma a suspeita de que muita gente que critica essa nova ~literatura vampirística~ em prol do ~vampiro de verdade~ nunca leu a obra mor do gênero e, portanto, não saca de porra nenhuma. Porque o Drácula não representa nada disso aí não, galera. Quer dizer, até representa sim, mas não do jeito que vocês tão pensando.

 Nosferatu, melhor adaptação não autorizada.

Porque a primeira coisa que temos a esclarecer é: O Drácula é um merda. Tipo, a única razão de ele conseguir causar algum dano é todo mundo ignorar a existência dele. Mas voltemos ao começo, pra entender melhor. O livro abre com o agente imobiliário Jonathan Harker em viagem pra Transilvânia, com o objetivo de cuidar da compra de um monastério em Londres, por um tal de Conde Drácula. Durante o trajeto, consecutivos sinais de que algo está errado vão aparecendo, como o surgimento ocasional de lobos e as repentinas mudanças climáticas, além dos avisos um tanto quanto enfáticos de todos os habitantes do local. E a coisa piora chegando no castelo, já que o Conde aparentemente vive sozinho, nunca come, não aparece à luz do dia e essas coisas. Mas Harker não percebe nada, porque aparentemente os vampiros não eram tão populares assim na Inglaterra vitoriana.

A coisa muda quando ele percebe que virou um prisioneiro no castelo. E o fato de o Drácula tentar chupar o dedo cortado dele ajuda um pouco também. Mas aí já é tarde demais, o vampiro já está a caminho de Londres, e Harker, após conseguir escapar em meio a delírios, após um encontro com as três noivas do personagem-título, toma tudo o que ocorreu por uma espécie de pesadelo. Enquanto isso, o Conde chega a cidadezinha de Whitby, onde coincidentemente a noiva de Harker, Mina, visita a amiga Lucy. Lucy, que recentemente recebeu três propostas de casamento, do Dr. Jack Seward, do americano Quincy Morris e de Sir Arthur Holmwood. Fato um tanto irrelevante inicialmente, mas os três compõem o restante do elenco principal da obra.

Voltando a sinopse, coisas estranhas começam a acontecer por ali também, Lucy adoece e Dr. Seward é chamado pra analisar o caso. Sem entender porra nenhuma, como o resto da galera, ele chama seu antigo professor, Dr. Abraham Van Helsing, pra tentar resolver a parada. Porém, claro que não é tão simples assim, e o Drácula ainda apronta altas confusões em Londres também. Ajudado indiretamente pela predileção do doutor holandês pelo suspense e a descrença geral dos personagens. E diretamente, por um paciente do Dr. Seward, que chega a convidar o Drácula a entrar no hospital psiquiátrico onde todo o pessoal tá reunido pra… Tentar destruir o Drácula.

Porque o vampiro só pode entrar em determinado local se for convidado, no caso. E falando nessas restrições mitológicas do personagem que se perderam com o tempo, o Drácula também só pode descansar durante o dia no solo em que foi enterrado. O que faz com que ele leve 20 caixas de terra pra Londres junto com ele. Por isso toda a preocupação com propriedades, e mais adiante, meios de transporte em geral, que fazem com que o livro vire uma especie de estudo sobre a especulação imobiliária e viagem aduaneira na Europa do final do século XIX.

Nessa altura, a obra já se transforma numa aventura das boas, já que os protagonistas formam uma comitiva pra impedir que o Drácula volte pra Transilvânia e recupere suas forças. E essa mudança de ritmo não diminui o suspense presente desde o início, em grande parte por causa do formato do livro. Que é composto por um amontoado de trechos de diários dos envolvidos, documentos e reportagens sobre o ocorrido, postos em ordem cronológica. Ou seja, o leitor vai juntando as peças da narrativa, enquanto o personagem fica limitado ao seu lado da história.

Mas, apesar de relativamente original, o Bram Stoker não criou nada de novo não, pessoal. As lendas (E livros) envolvendo vampiros já eram conhecidas, em maior ou menor grau por toda a Inglaterra. Ele apenas selecionou os elementos que achava que funcionavam e descartou outros. O mérito do autor foi ir além do que a literatura gótica tinha apresentado até o momento, já que o estilo era sempre focado nos mistérios e monstros do sul da Europa católica, em contrapartida ao racionalismo do norte protestante (Tirei isso do prefácio do livro, tou nem aí). O Stoker levou essa ameaça primitiva pro centro do império britânico, e ainda por cima, através da presença do Van Helsing, deu preferência às antigas superstições, em detrimento da ciência moderna, pra vencer o inimigo.

Que aliás, vira um criminoso comum depois que o grupo de heróis vai à caça dele. E o enquadra nessa categoria com base na crença da época, de que seria possível definir a índole do indivíduo com base no formato do crânio. Aí sim, dá pra estabelecer uma relação com o estado atual do vampiro em geral, com o do Drácula durante o livro. A força dos vampiros vem das sombras, da dúvida (E em grau menor, da “classe”, que também tá dentro disso aí e os diferencia dos outros monstros). Portanto, tal qual acontece com o personagem, toda essa desmistificação, em que se joga cada vez mais luz sobre o vampiro, é que faz com que o gênero perca a força. E se torne cada vez mais desinteressante.

Drácula


Dracula
Ano de Edição: 2011
Autor: Bram Stoker
Número de Páginas: 391
Editora: Oxford

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