E as quotas chegam aos quadrinhos
Se tem uma coisa que nunca gostei nos projetos governamentais são as cotas, ou quotas, seja em concurso, seja em vestibular. E acho que isso é algo injusto e discriminatório: Acho injusto porque perde o critério de “igualdade” na disputa de vagas e discriminatório porque dá a impressão de que os “dependentes de cotas” seriam mais burros menos inteligentes que os demais.
Mas não são as cotas trabalhistas ou educacionais que quero abordar aqui, mas sim sobre o projeto de lei nº 6.060/2009 do deputado federal Vicentinho, sob tutela atualmente do deputado Rui Costa que estipula quotas de publicação de quadrinhos nacionais pelas editoras brasileiras.
O projeto entrou em discussão e virou noticia na mídia no final de outubro, quando uma reunião entre o deputado Rui Costa e Associação dos Cartunistas do Brasil e da Associação Nacional dos Editores de Revista realizada em Brasília e voltou a ser abordado essa semana na mídia especializada por causa de uma nova reunião que será realizada em São Paulo.
A base da idéia é incentivar a produção e distribuição de HQs nacionais, e isso seria algo maravilhoso, já que o Brasil tem grandes artistas na nona arte e que atualmente são destaques no mercado internacional como Fábio Moon, Gabriel Bá, Ivan Reis, entre outros. Mas assim como as cotas “raciais”, isso é um péssimo negócio.
Digo isso porque os idealizadores do projeto acreditam que as HQs nacionais são dominadas atualmente pela Turma da Mônica, o que de certa forma é verdade, porém, obrigar as editoras publicarem e distribuírem um percentual mínimo (O projeto fala em 20%) poderia trazer para o mercado boas obras, mas creio a maioria seria uma bela porcaria.
Para compensar a forçação de barra editorial, o governo daria incentivo as editoras com
“ações do Poder Público de incentivo à leitura em sala de aula, promoção de eventos e inserção de disciplinas como roteiro e desenho nos currículos escolares (…) os bancos e as agências de fomento federais financiarão a produção de quadrinhos de origem nacional.”
como é ressaltado no projeto.
É claro que incentivar não só os quadrinhos, mas qualquer arte é uma idéia válida, e algo que infelizmente faz falta à cultura brasileira, só que tentar forçar um incentivo na marra é demonstrar que apesar de termos bons artistas, estes não tem capacidade de fazer um bom material.
Aliás, esse erro já foi cometido anos atrás com o cinema, quando as salas eram obrigadas a apresentarem um número específico de filmes nacionais por ano. O problema é que na época, para cumprir tal cota com nossa sétima arte, as telonas acabavam exibindo obras bizarras da pornochanchada como Alucinações Sexuais de Um Macaco, entre outras pérolas.
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