E pluribus anus

Televisão terça-feira, 28 de abril de 2015

Community. Não sei nomear este texto, literalmente deixarei pro Pizurk fazer isso (Ao qual ele arregou). A sexta temporada começou em 17 de março, no Yahoo! americano, estando em seu sétimo episódio (De treze). Vi até o sexto, por enquanto… Cansei de introdução, preciso passar pro que importa.

É estranho falar sobre Community. Não só porque tanta coisa já aconteceu na série e com a série, mas porque, afinal de contas, estamos na sexta temporada. A tão esperada sexta temporada. Community fez (Três vezes!) o que tantas outras séries não conseguiram: Ser salva pelo público, mesmo quando todo o resto era, no mínimo, desfavorável. O cancelamento enfim veio, e depois de uma briga extra-oficial entre serviços de streaming na internet e canais de TV, enfim o Yahoo!, meio que surpreendentemente, ganhou a disputa. Nunca esperei nada do Yahoo! (Ao menos não do nacional) e não creio que mais alguém espere.

Community tem um encerramento agora, com uma música idiota tocando enquanto os créditos passam. Créditos. Com nomes. Community nunca foi feita por gente… Claro, tem os atores, e os convidados, e os roteiristas, produtores e o Dan Harmon, mas gente? Com seus respectivos nomes e funções? Não, isso não. E alguém precisa dizer pro Yahoo! que aquela vinheta tirolesa é uma merda. Era uma merda antes e é ainda pior agora, no fim de Community.

Não tenho problemas com a abertura inicial, com Yahoo! Original aparecendo, apesar da presunção. Aí o episódio começa, no típico estilo americano de ter uma “introdução” antes da abertura. E então vem a abertura. A música está lá, a dobradura (Aquilo tem nome?) também, e alguns dos nomes idem… Quando Chevy Chase saiu foi, bem, difícil ouvir aquela música e ver o papel de dobrando e não ter o desenho dele, com o nome e tal… Depois o Donald Glover saiu e, por fim, Yvette Nicole Brown… Chevy Chase foi o mais complicado, foi o primeiro… Agora Community tem apenas alguns daqueles nomes, e tem uns desenhos quaisquer no meio. Eu não suporto vê-los. Nem o dragão jogando basquete, nem o flamingo de botas, nem as bananas bebendo… Primeiro a abertura da série era uma abertura legal, diferente; depois passou a ser uma companhia, provavelmente a única abertura que eu assistia inteira; depois foi um ombro amigo, um apoio, principalmente por causa da música, lembrando que, mesmo que as coisas não estivessem indo bem para a série, tudo daria certo. Tínhamos café. Eu nem bebo café, mas café é quente, aconchegante, tem um bom cheiro… Agora temos água e gelo.

 E uma lapiseira.

Community… Não é a mesma coisa. Desde o começo da sexta temporada, não é a mesma coisa. Eu não ligo para os novos personagens, Frankie e Elroy. Não tenho nada contra eles, mas simplesmente não me importo com eles. Nem um pouco. Sei que nunca me importaria o mesmo que me importo com os outros personagens, mas nada? Eu estou torcendo para que eles não durem a temporada toda. Frankie (Interpretada pela Paget Brewster) é uma consultora contratada para colocar Greendale na linha e Elroy (Keith David) é… Eu não sei o que ele é. Ele faz parte do Save Greendale Committee e é o novo chefe do departamento de TI, mas ele não faz nada. Quero dizer, ele vai consertar algumas coisas, mas só quando alguém meio que pede um favor… E isso não é uma piada com a galera de TI.

Me faz feliz que Keith David tenha estado em The Cape, a série que, de uma forma ou de outra, cunhou a fatídica luta pelas seis temporadas, bem como ele ser, de certa forma, uma reposição para a personagem anterior da própria Paget Brewster na quinta temporada (Nenhum comentário sobre isso foi feito na série até agora, nem oficialmente e nem como uma meta-piada), mas é só. E é pouco.

As coisas estão fora… Assistir Community é muito bom. Cada episódio novo feito, cada episódio que se pode assistir é muito bom e uma vitória, mas nestes seis até agora, as coisas não se encaixam. Greendale da sexta temporada não é a Greendale que eu conheço e que gosto. Não consigo explicar isso muito bem: Tudo está lá, todos os elementos que fizeram dessa série o que ela é, mas ela não é a mesma. Não é o mesmo sentimento. Não sei se é porque, após anos brigando por essa série a expectativa tenha aumentado à pontos inatingíveis, mas a verdade é que nunca esperei nada dessa série… Que ela continuasse, claro, mas nunca nada mais específico que isso: “Vida”. Então dizer que seja por expectativas não correspondidas também não parece muito certo, mas ainda sim a diferença está lá.

E não sei porquê está lá já que, até onde se sabe, a série nunca esteve em melhores condições há anos: Há mais recursos, mais liberdade criativa, mais espaço… Ao que se tem de informações, todas as condições de produção são as melhores desde a metade da terceira temporada. A equipe ainda é a mesma… Claro, houveram modificações, mas os principais nomes, tanto de escritores, produtores e demais pessoas são os mesmos… Não todos, mas os mesmos.

Já considerei se o excesso de liberdade influenciou nisso, já considerei o excesso de recursos (Afinal, quando se está no aperto é que se acha o jeito pras coisas), já considerei as mudanças de produção, já considerei as diferenças entre Yahoo! e a NBC, já considerei a saída da Yvette Nicole Brown… Eu não sei. Não sei. Só sei que mudou e mudou para pior.

Eu não me divirto com Community. Claro que tem piadas boas, claro que tem coisas legais, referências, brincadeiras… Poder ver Community é sim muito bom e a série ainda tem tudo que sempre teve, mas eu não me divirto assistindo-a. Rio de algumas coisas, mas é pontual. Eu não gostei do segundo episódio. Não dei bola pro quarto, também não gostei do quinto e o sexto… O sexto já assisti umas quatro vezes e só agora começo a rir das coisas, mas não ri quando vi pela primeira vez. Eu rio agora de algumas das piadas, mas não gostei do episódio. O terceiro foi legal, foi interessante, mas o melhor foi o primeiro. O melhor até agora de longe, e mesmo ele não passa livre… Os bons momentos são o suficiente para me fazer ignorar os momentos ruins ou irrelevantes, mas não chega perto de ser “um bom episódio” de uma das temporadas anteriores. Assisti o primeiro episódio da sexta temporada com um sorriso na cara, e isso não se repetiu até agora.

Community é uma série única não só por brincar com tudo que é tipo diferente de coisas, das situações absurdas aos episódios especiais em animação tradicional, stop motion, especiais de datas importantes e coisas assim, mas porque trata de si mesma de forma diferente: Greendale é, mais que qualquer outro lugar, sobre si mesma. Desde o começo Community tratou de seus problemas de forma bem óbvia: Qualquer um que acompanhe a série sabe pelos problemas que ela passou, e não há porque negar isso dentro da própria série. Alguns dos melhores momentos são os momentos em que, seja Abed, seja outro personagem, fala diretamente com o público, quebrando ou não a quarta parede, e sendo sinceros sobre tudo que a série engloba. Community não perdeu nada disso, muito pelo contrário: A sexta temporada é, de longe, a mais auto-referencial de todas, e a que mais usa a metalinguagem. O problema é que, dessa vez, não colou.

Os dois primeiros episódios, que são dedicados a apresentar Frankie e Elroy respectivamente, foram liberados juntos e sua missão é muito simples: Dizer que sim, Community vai ser diferente. Há várias e várias piadas sobre isso, tem discursos sobre isso… Mas não deu certo. Ao menos não para mim. E isso me incomoda porque sempre deu certo antes. Community mudou muito desde que começou, tanto por uma questão natural da série quanto pelos problemas que enfrentou, e sempre funcionou: Community mudou muito, mas ainda era Community. Agora que Community não parece Community, o discurso é vazio.

Pra quem ainda acompanha este texto: Eu sei que metade disso aqui é só um problema com a mudança (Como a própria série fala, inclusive), mas eu garanto que uma ou outra coisa é legítima… O discurso faz o que deveria fazer, endereçando e reconhecendo todas as dificuldades possíveis para que as pessoas não gostem desta sexta temporada, mas no fundo, que é onde deveria fazer efeito, não fez.

Community continua com suas cenas finais, aquelas depois do fim do episódio… Elas estão mais longas. Bem mais longas. Aliás, o tamanho do episódio também aumentou em alguns minutos agora que está na internet e não depende mais do padrão da TV aberta. Mas a questão é que a cena final, que era aquela piada, normalmente meio boba, agora não tem mais graça. Simplesmente não é mais engraçado. Não por não ter Troy e Abed, ou não ser exatamente como antes, mas elas deixaram de ser gags para serem cenas com piadas… É na cena final do primeiro episódio que tem a participação da Yvette Nicole Brown, numa típica meta-referência, explicando que Shirley se mudou e agora trabalha para um detetive particular, estando agora numa outra série. Legal, e alguma coisa do tipo já tinha ocorrido em Community antes, mas passa do ponto. A piada final, que seria divertida e encerraria o episódio, se estende demais e tenta demais. Episódio após episódio.

E já que o assunto são os antigos personagens, ao que a série indica, Buzz Hickey (Interpretado por Jonathan Banks que agora está fazendo o spin-off de Breaking Bad) morreu. E isso nem foi dito, foi mostrado por alguns segundos, de forma meio escondida. Não se sabe o que aconteceu com Ian Duncan (Interpretado por John Oliver, que tem feito bastante sucesso como apresentador) e nem com Troy, cujas últimas notícias foram na quinta temporada. De novo, houveram as meta-referências, mas isso não é o suficiente: De uma temporada para outra quatro dos grandes personagens deixaram a série. Hickey talvez seja o melhor exemplo: Ele chegou depois, enfrentou todos os problemas que Frankie e Elroy agora enfrentam e se saiu muito bem… Os bastidores de Community mudaram tanto ao ponto de que novos personagens não consigam mais se encaixarem/serem encaixados? Levei um tempo para me acostumar e gostar de Hickey, mas não vê-lo mais, e ter uma notícia meia indireta de que ele morreu, de uma hora pra outra, me incomoda.

Outra coisa que me incomoda são os nomes dos episódios. Eles continuam os mesmos, mas não tivemos nenhum 101 e nenhum Introduction. Em cada temporada em que os personagens estudam em Greendale há um episódio nomeado 101. E em cada temporada há um episódio nomeado Introduction. É verdade que ainda é cedo para dizer sobre isso, afinal a temporada ainda está na metade, mas até agora nada. Em teoria, Britta, Annie e Abed ainda estudam em Greendale, Shirley e Troy deixaram a série mas, de certa forma, ainda são estudantes. Chang e Jeff são professores. O reitor Pelton provavelmente foi quem menos mudou (Me acostumei tanto com “dean” que acho “reitor” extremamente estranho).

Assim entramos onde eu não quero estar. Durante este texto todo venho brigando com a vontade de parar e falar de cada episódio, reclamar de pequenos detalhes, comentar algumas das coisas que gostei, mas isso aqui não é uma resenha. Nunca quis resenhar Community. Falar sobre, claro, resenhar não. Talvez por ser o tipo de programa que ou você gosta ou não gosta, e não por ser controverso, mas por ser do seu tipo. Se Community for do seu tipo, como obviamente é do meu, é um (Secundário) tipo de programa intimamente ligado à experiência particular de cada um. Community, mais que técnicas de direção, uso de outras mídias, meta referências, humor cínico e todo o resto, é sobre pessoas. Sim, são personagens num programa fictício, mas representam pessoas. Community sempre foi sobre seus personagens, e esses personagens passaram a ser Community, para quem assiste a série.

È claro que a saída de vários membros do elenco é um problema, e um que tende a piorar, mas sendo sincero, Community pode lidar com isso. Já lidou antes, pode fazer de novo. Talvez esta sexta temporada fosse melhor se não contasse com ninguém do elenco original. Não que seja o que eu queira, mas talvez… Só talvez. Não, o maior problema de Community, o maior problema dos personagens, tanto os novos quanto os antigos, é que eles não estão mais fazendo o que sempre fizeram, e o que é o cerne da série desde o começo: Eles não estão melhorando. Como pessoas.

Não são os atores e seu trabalho, não são as ações “diárias” dos personagens. Community é sobre um grupo de pessoas, ajudando umas às outras a serem pessoas melhores. Nenhum deles melhorou nesta sexta temporada, nenhum deles cresceu. E eles fizerem isso praticamente todo episódio, em todas as outras temporadas. Frankie e Elroy tiveram muito menos tempo, é verdade, mas já são quatro episódios. Um terço de temporada, e o grande motivo para que todos eles estejam em Greendale, para que todos eles estejam juntos e sejam amigos, para que todos eles continuem se apegando ao pouco que têm, não está funcionando. Greendale não está fazendo o que Greendale deveria fazer.

Vou me repetir uma vez mais: Tudo isso foi exposto pela série, em sua meta-linguagem, mas não torna as coisas melhores.

 Isso não é uma piada, é que é literalmente mais fácil achar imagens sobre a briga pela sexta temporada que da própria sexta temporada.

O que me leva à falar algo que, até uns dias atrás, eu mesmo consideraria um sacrilégio: A quarta temporada tinha mais a cara de Community que a sexta tem.

A quarta temporada, a fatídica tentativa da NBC de substituir Dan Harmon como showrunner (Quem cuida da execução diária/comum de uma série), não é tão ruim quanto pareceu à época: Há bons momentos, boas piadas e os atores continuavam tornando tudo melhor. É verdade que é a pior das cinco temporadas, é verdade que fizeram de tudo para emular o que Dan Harmon fazia, mas também é verdade que, em retrocesso, a quarta temporada foi uma temporada de Community. Uma temporada ruim, ok, mas ainda assim Community. A sexta temporada, até agora, tem a fórmula de Community, mas não é o que ela passa (Ao menos para mim): Na quarta temporada os personagens tentaram melhorar, Greendale tentou melhorar. Houveram acontecimentos importantes, pra não falar que foi a última temporada de Pierce. Greendale da quarta temporada foi, do início ao fim, Greendale. Com influência do vazamento de gás, mas ainda Greendale. Coisa que, na sexta temporada, até agora, não tem sido.

Esta metade da sexta temporada tem sido justamente isso: Fórmula. Já falei dezenas de vezes, mas vou repetir só por garantia: Fórmulas dão resultados, mas não funcionam. Community precisa decidir o que vai fazer… Bem, já decidiu, mas o público ainda não sabe. O que eu sei é que os personagens são eles mesmos, Greendale é ela mesma, e ambos não sabem porque estão ali, juntos. Finais são tão complicados quanto inícios, mas não dá para adiá-los para sempre: Qual o destino dessas pessoas que, por vários anos, tanta gente acompanhou e que se importam como se fossem pessoas de verdade? E como essas pessoas vão tornar definitivamente sua faculdade em mais do que uma mera máquina de diplomas? Os novos personagens vão ter um papel realmente importante nisso? E o que aconteceu com os outros personagens? Sei que, muitas e muitas vezes, é a viagem que importa e não o destino, e não espero de jeito nenhum que Community tenha um “viveram felizes para sempre”, mas espero poder ver as pessoas de quem gosto “bem encaminhadas”. Depois dessa frase eu bem que poderia ser pai, e não tenho dúvida alguma de que, de certo modo, é assim que Dan Harmon se sente em relação à cada um em Greendale, mas há de se notar que nem sempre os pais realmente sabem o que é melhor para os filhos. E não falo isso para desacreditar Harmon, mas para garantir à vocês que não pretendo ter filhos assim tão cedo.

Meu medo é que Greendale mude para pior justamente quando não se tem mais tempo para consertá-la. Um filme não é lugar de obras, é lugar de aventuras. E redenção.

Não sou do tipo que se apega à alguma coisa ou alguém à ponto de ignorar o resto ao redor. Em outras palavras, nunca esperei que Community tivesse além de seis temporadas. E um filme. Não nego entretanto que uma pequena parte de mim gostaria que esta sexta temporada, caso se mantenha do modo como está, seja na verdade a penúltima, e que chegue uma sétima (E final), com tudo “de volta nos eixos” (E com isso não quero dizer igual ao que já foi)… É o trabalho de Frankie garantir isso, de certa forma. Mas a realidade é que tanto o meu lado racional quanto o outro (E sinceramente não sei qual lado seria esse) querem que Community termine ao fim destes 13 episódios. Desde o primeiro episódio nota-se que alguma coisa grande está sendo preparada, e não seria para menos. Ao passo que um filme é um sonho distante (Mas, no que toca Community, não se pode nunca chamar de “impossível”), a sexta temporada está aqui, é uma realidade. Inclusive ela já terminou de ser filmada, em 27 de Março.

O sétimo episódio já está disponível no Yahoo!. Aliás, o serviço só funciona nos EUA, Taiwan, Hong Kong, Singapura, Malásia e Indonésia (Pelo Yahoo!), além do Reio Unido (No canal da Sony) e Austrália (No serviço de streaming Stan), então nada feito para quem está no Brasil, ao menos oficialmente (Não sei como ficará a situação do canal da Sony por aqui, que ainda passa até a quinta temporada): Todos sabemos que a internet sempre dá um jeito. E isso vale o dobro pra Community.

Dica do editor: Hola!

É interessante que eu nunca tenha falado muito sobre a série aqui no Bacon… Como já disse nesse texto, se eu fosse falar sobre cada pequeno detalhe que eu quero falar sobre, isso aqui seria enorme, mas Community é sobre experiência individual: Gosto dessa série e desses personagens mais do que pode parecer pela quantidade de textos. Estarei com Community para o que der e vier: Os próximos sete episódios, filme, mais temporadas, spin-offs… Vou acompanhar essas pessoas até o fim, seja este o melhor fim possível seja o pior fim possível. Não vai ser fácil, nem feliz e nem divertido, mas Greendale precisa de mim. E de cada um que já se importou com ela. Mais pelo simbolismo que pelas palavras: #SixSeasonsAndAMovie.

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