Edmund (Não jogue se você é estúpido)

Nerd-O-Matic sábado, 12 de setembro de 2009

Muito bem, hoje farei mais um daqueles lances que já fiz antes com outros jogos indie. Lembram do Jogo mais depressivo do mundo? Ok, então cês já sabem como funciona; PRIMEIRO vocês baixam e jogam o joguim, e DEPOIS, pra não estragar o impacto do jogo, vocês lêem as minhas impressões sobre o mesmo.

A bola da vez é EDMUND (clica aqui pra baixar), um jogo com uma história linear, mas com um tema não muito comum nos games. Leia meus comentários sobre o jogo depois da figura. E só pra lembrar de novo: NÃO jogue se você é um imbecil ou não possui um mínimo de flexibilidade mental para ver significados além das imagens e pixels que pululam na sua cara.

Ah sim, pra te ajudar: os comandos são as teclas do direcional e as teclas Z e X.

Ok, agora minhas impressões.

Quando eu jogo esse tipo de jogo, a primeira coisa que eu faço é me auto-perguntar algumas questões, pra ajudar a formar uma impressão mais concreta sobre a experiência:

1) O jogo tem história? Qual? É linear? É interativa?
2) O jogo me fez sentir coisas? Que coisas?
3) Valeu a pena jogar essa porra?

Sugiro que vocês também se façam estas perguntas, antes de simplesmente sair xingando este jogo ou qualquer outro. Vamos por partes.

1) Definitivamente Edmund tem história. Eu entendi como um caso de stress pós-traumático, coisa que a gente vê bastante em filmes de guerra. Na tela do menu principal, quando você mexe as teclas de direcão você tem três opções: o personagem “de cima”, o personagem “de baixo” ou a porta de “exit”. Eu escolhi primeiro o personagem de baixo, que eu entendo como sendo o Edmund (Eddie) ainda jovem, quando ele participou da guerra. Isso fica evidente pelo fato de você começar dando tiros da porta do helicóptero, passando geral que tá lá embaixo. Aí você desce do helicóptero com uma arma típica de soldado na guerra e sai pulando minas terrestres, enquanto avança o cenário pra direita. Aí, depois de me foder um pouco pra pular as minas terrestres sem cair em alguma delas (morri umas 4 vezes), cheguei naquela vila, onde dei tiro na cara do magrão que tava lá. Aí apareceu a mina. Aí dei tapões nela. Aí, sem titubear, ESTRUPEI ela. Porque eu sou mau.

Aí reverte pro menu principal e depois disso joguei a outra parte, onde o taxista (acho que é o mesmo Eddie, só que mais velho) leva o Eddie para a outra parte da cidade e, chegando lá, o Eddie cata a mina no ponto do ônibus e ESTRUPA ela, do mesmo jeito que aconteceu na primeira parte. O taxista corre atrás do Eddie, que levou a mina pro apartamento dele (o taxista) e lá você tem a escolha de ESTRUPAR a mina ou passar fogo no Eddie. Eu passei fogo no Eddie, e o mesmo tiro me matou. Então, lógico, os dois eram o mesmo Eddie, separados por um lapso cronológico. O Eddie/estuprador era um fantasma do passado que continua atormentando no presente, onde o Eddie/Taxista continua sentindo culpa e se auto-torturando pelas atrocidades que praticou durante a guerra. A história de Edmund pra mim é: você não pode nunca fugir do seu passado, e nem apagar totalmente o que você fez um dia, por mais que você tente ou vire taxista. A culpa é uma consequência de suas ações, e pode ser que você chegue ao extremo de SE MATAR pra escapar da culpa ou vergonha pelo que fez. Lógico que essa é só a minha interpretação, mas acho que é válida.

Até onde pude sacar, a história é totalmente linear, já que você não tem muita opção do que fazer no jogo, você só vai seguindo o caminho pré-definido. Coisa com a qual já estamos bem acostumados, já que qualquer Resident Evil é assim hoje em dia. Mas a história é poderosa e contada em pouquíssimos minutos. Eu aceito linearidade se for pra ter uma moral dessas condensada em uma quantia tão pequena de tempo e pixels.

2) Só pra contextualizar, ultimamente tenho assistido toda a nova safra de filmes de horror franceses, coisas como “Martyrs”, “Calvaire”, “Haute Tension”, “Frontiers”,”A L’Interieur” etc. E eu curto pra cacete esses filmes. Então digamos que eu estou bastante dessensibilizado pra violência. Mesmo assim, confesso que me senti… esquisito… no papel de estuprador. Esse jogo me lembrou muito de outro filme francês, “Irrevérsible”, que não é um filme de horror, mas que tem uma cena de estupro altamente incomodativa. A diferença é que Edmund é só um amontoado de pixels, e o “estupro” na tela nem tá sendo encenado por atores reais. É quase como aquelas cenas de sexo que aconteciam no Atari. MESMO ASSIM, quando eu percebi que o meu amontoado de pixels tava violentando outro amontoado de pixels, minha reação foi correr com o direcional pra esquerda, pra fazer o Eddie parar com aquilo. Eu não previ que o que ia acontecer era um estupro, porque só depois percebi a animação da calça do Eddie abaixando depois de estapear a moça. Acho que uma coisa é você ASSISTIR a um filme com uma cena violenta, outra coisa bem diferente é você tomar PAPEL ATIVO no ato em si. Mesmo que seja só um jogo. E mesmo que o “estupro” seja quase irreconhecível na tela. Acredito que isso seja uma coisa boa, aliás. Significa que mesmo estando dessensibilizado pra violência, ainda assim eu nunca tomaria uma atitude violenta ou invasiva por causa dessa dessensibilização. Isso também ajuda a desconstruir um pouco aquela argumentação de que jogos violentos criam pessoas violentas.

Enfim, isso foi o que mais me surpreendeu em Edmund: a minha resistência em cometer o estupro, em levar o jogo adiante. Na segunda parte do jogo, quando eu percebi que o estupro ia acontecer de novo com a moça no ponto de ônibus, eu amarelei nervoso. Fiquei procurando outras coisas pra fazer no cenário, até que finalmente saquei que o estupro era a única maneira de acabar com aquilo. Lógico que eu podia simplesmente parar de jogar, caso estivesse REVOLTADO ou algo assim. Nessa hora você racionaliza, pensa “isso é só um jogo, é só uma experiência. Veja até o fim o que o criador do jogo preparou pra você”. Aí levei a coisa adiante, de forma pragmática. Mas fiquei bastante aliviado quando o comando do personagem mudou para o Eddie taxista, e mais aliviado ainda quando percebi que ele ia “vingar” o estupro, correndo atrás do Eddie com a arma.

Quando eu finalmente cheguei no apartamento onde o Eddie estava, e ele disse que era o MEU apartamento, e que era a minha chance de fazer DE NOVO com a garota, comecei a entender o lance de que era tudo uma criação da mente do Eddie. Automaticamente atirei no Eddie, ainda querendo “fazer justiça” (como se um homicídio fosse apagar um estupro) e vi os dois personagens morrerem ao mesmo tempo. Orra, foi do caralho.

3) Acho que valeu a pena jogar Edmund. Primeiro que é um jogo rápido. Gostando ou não do que acontece na tela, você gasta mais ou menos uns 15 minutos com o negócio todo. Já vi filmes MUITO piores que gastaram quase duas horas da minha vida. E definitivamente já joguei jogos EXTREMAMENTE ruins, que levaram embora várias horas a mais do que eu gostaria. Em segundo lugar, mesmo que eu não gostasse da história ou do impacto causado por Edmund, ainda assim sobraria a excelência do CLIMA do jogo. Presta atenção nos cenários, no seguimento das telas e, principalmente na música e nos efeitos sonoros. Porra, eles compõem um jogo totalmente soturno e mórbido. E é FODA pra conseguir criar isso num jogo de nível Atari. Foda. Os gritos da mina enquanto é estuprada são especialmente horrorizantes. E, em último lugar, valeu a pena jogar Edmund porque eu gostei de descobrir coisas sobre mim, sejam elas boas ou más. Qualquer jogo que te permite ver uma parte de você mesmo que você não conhecia, pra mim, é um jogo válido. É uma experiência valiosa.

E aqui tem uma entrevista com o criador do jogo, caso você esteja interessado em se aprofundar um pouco mais na criação de Edmund.

E vocês, bando de estupradores, o que acharam do jogo?

Leia mais em: , ,

Antes de comentar, tenha em mente que...

...os comentários são de responsabilidade de seus autores, e o Bacon Frito não se responsabiliza por nenhum deles. Se fode ae.

confira

quem?

baconfrito