Em defesa do cinema naciozzzz
Sim, eu sumi. Não, não vou explicar. Do último texto pra cá, a única novidade que vos interessa é que virei editora da área de cinema aqui. O que não mudou muita coisa na prática, mas é legal porque… *Pensa por 42 minutos* Eu tiro o trauma da escola já que meu nome é dos primeiros da lista aqui do lado. Mas enfim, vamos ao assunto do dia:
Na falta de SWU’s, Brasília se contenta com Green Day [Que eu fui. UEBA. Não, isso não tem a ver com a coluna, mas é que foi muito bom] Não tendo grandes festivais de cinema internacional, os cinéfilos mão-de-vaca econômicos de Brasília ficam o ano inteiro esperando o Projeta Brasil, um dia que a rede de cinemas Cinemark passa uma caralhada de filmes nacionais por 2 reais.
Munida de todas as moedas do meu cofrinho, uma barraca, a programação impressa, alguns amiguinhos e da minha mãe [q], rumei ao cinema, esperando encontrar filas quilométricas de fãs apaixonados pelo cinema nacional. Tinha mais ou menos 15 pessoas na minha frente. O que é muita gente pra meio-dia, mas nem de longe é o que eu esperava pra um cinema a DOIS REAU. Refleti se talvez o Vassourada estivesse certo, mas esse não é o tipo de coisa que eu vou admitir em público.
Primeiro filme: Lula, o Filho do Brasil. Eu pretendia esperar passar na Sessão da Tarde, mas como era o único filme no horário, fui. Rapaz, que vida sem graça a do presidente, benzadeus. É um filme longo, que fala de problemas que qualquer orelha seca já passou (E alguns que orelhas com brinco de diamante também), longo, de dramatismo forçado, longo, com atuações sofríveis – exceto pelo protagonista, talvez – e muito, mas MUITO longo. Eu não sei qual é a duração exata do filme, mas me pareceu maior que Cleópatra. E quando a coisa parecia ficar mais interessante, já que o homem foi preso pelos inquisidores oficiais da ditadura militar, o filme teve um corte broxante e acabou. Sim, um corte desses com tela preta e letrinhas explicantes. E é com isso que devemos concorrer a uma das vagas do Oscar. Beijão, Ministério da Cultura.
Mais pobre e com horas a menos na minha vida, fui ao segundo filme: 400 contra 1. Sobre os lindos do Comando Vermelho. Eu sou chegada num filme que coloque vilões como protagonistas, mas falharam miseravelmente ao tentar fazer desses heróis revolucionários. Eles não eram. Eram assaltantes de banco que matavam uma negada na prisão, mas se faziam de vítimas da ditadura. A não ser que seja um tipo apaixonante como o Alex, do Laranja Mecânica, que posava de coitado por puro sarcasmo, vilão bom é vilão sádico e que se orgulha disso. O resto é florzinha de novela das 8, que ao menor sinal que os planos vão falhar já se fazem de arrependidos ou de vítimas do capitalismo/algo parecido.
Depois desse, desisti dos planos de acampamento e vim pra casa. E tentei lembrar de algum filme realmente bom esse ano no cinema nacional além da continuação de Tropa de Elite. Não consegui. Vocês sabem que eu gosto do nosso produto, e, na verdade, pagaria (E pago) muito mais que esses dois reais pelos nossos filmes, mas anda cada vez mais difícil defender o cinema do Brasil. O “politicamente correto” tomou conta em definitivo das produtoras e os cineastas parecem tão cansados quanto eu pra defender suas idéias – que eu tenho certeza que ainda estão lá e o José Padilha não me deixa mentir.
Agora resta decidir qual é a pior modinha: A dos espíritos ou dos favelados. Eu continuo gastando meus dinheirinhos com o cinema brasileiro, só não sei até quando.
Nota: Um salve ao Dino de Laurentiis, um dos maiores produtores que já viveu. Trabalhou com o Fellini no início, fez mais filmes do que você, na sua vida toda, já assistiu e ganhou o único Oscar válido – o Irving G. Thalberg Memorial Award – em 2001. Só nos resta esperar que os espíritos comecem logo a se comunicar por webcams e, assim, o Laurentiis possa produzir filmes do outro mundo.
Leia mais em: 400 Contra 1 - A História do Comando Vermelho, Cinema Nacional, Lula O Filho do Brasil