Enrolados (Tangled)
Era uma vez uma flor dourada, com poderes milagrosos e que apenas a malvada Gothel sabia onde estava e a usava para permanecer sempre jovem, até que a Rainha ficou muito doente quando estava grávida e apenas a flor milagrosa poderia curá-la e salvar a criança, o reino todo foi atrás da única flor que existia e conseguiram salvar a Rainha e a recém-nascida Princesa. Gothel, então, parte para sequestrar a jovem Princesa, já que os poderes da flor dourada agora repousam sobre os cabelos loiros da bebê. A malvada Gothel consegue sequestrar a menina e a cria como se fosse uma filha, nunca cortando o cabelo de Rapunzel e nunca deixando-a sair da torre, escondida nas entranhas da floresta, para que seja a única detentora dos poderes que o cabelo possui. Passados 18 anos, eis que surge na torre um jovem ladrão, Flynn Ryder, e faz um acordo com Rapunzel: ele a leva para o reino, para ver os balões soltos anualmente e ela lhe devolve a tiara, que ele havia roubado e perdido ao chegar na torre.
Essa é a premissa (E o início, mas não caracteriza-se spoiler, por favor, né?) do filme Enrolados, nova animação da Disney, uma releitura do clássico conto de fadas dos Irmãos Grimm, Rapunzel. Releitura moderna, mas que não deve muito aos grandes clássicos da casa, como Branca de Neve ou A Bela e a Fera.
Impossível falar de uma animação nova da Disney e não dizer que um dos novos diretores do estúdio, John Lasseter, tem participação direta na qualidade do longa. Lasseter foi um dos fundadores do Pixar e diretor de filmes que já nasceram clássicos, como os dois primeiros filmes da trilogia Toy Story. Depois que a Disney comprou a Pixar, Lasseter passou a produtor executivo de vários títulos e consultor criativo de diversos filmes do estúdio de Mickey Mouse. E em Enrolados não é diferente, tanto que seu nome aparece mais de uma vez durante os créditos finais (Sim, eu assisto até o fim, só pra quando tiver alguma cena pós-créditos, eu poder avisar a vocês, sejam gratos) [Nota do editor: Geralmente as cenas pós-créditos são cortadas das cabines. Sabe-se lá porque. Sejam gratos.].
A influência do jeito Pixar de fazer animações é inegável. Isso desde 1995, quando Toy Story, primeiro longa do estúdio, foi lançado. Desde então, o nível de exigência para animações cresceu, o que demandou um maior cuidado e maior inspiração para a feitura de desenhos, até para os outros estúdios, como a rival Dreamworks (O primeiro Shrek e o genial Como Treinar Seu Dragão). É claro que há aberrações, como Meu Malvado Favorito.
Enrolados evoca os grandes clássicos de contos de fadas da Disney, mas com sua própria identidade, com sua roupagem mais moderna. Ao mesmo tempo em que tem seus números musicais – excelentes, como as grandes animações antigas; abre espaço para empolgantes cenas de ação e usa e abusa do 3D, com uma cena excelente usando a terceira dimensão, melhor que qualquer cena que James Cameron fez em Avatar (Para o uso do 3D, digo), a cena da soltura dos balões, de rara beleza, onde o 3D é extremamente bem trabalhado.
E, além de tudo isso, o filme ainda conta com seu excelente quadro de personagens. Gothel, a megera, é excelente e seu vilanismo não é apenas correr atrás dos mocinhos e ver o que acontece, há sempre um plano por trás de suas ações; Flynn Ryder é um ótimo anti-herói, mas na versão dublada perdeu 300% de sua força, o que explicarei mais adiante; Rapunzel, claro, a garota sonhadora, não compromete o filme, como muitas protagonistas conseguem fazer; o bando de ladrões pega o filme pra eles em seu número musical, sensacional; Maximus, o cavalo (Com alma de cachorro) da guarda do reino, reserva excelentes momentos de humor, não falhando em nenhum momento; mas o prêmio de melhor personagem do filme fica para o camaleãozinho de estimação de Rapunzel, Pascal, dono do filme em todos os seus momentos, só com gags inspiradas.
Porém, nem tudo são flores: A versão dublada brasileira tira boa parte da força do filme, ao enfraquecer o protagonista do filme, Flynn Ryder. Quem o dubla é nada mais, nada menos que Luciano Huck. Ele mesmo. Além de sua voz sempre estar num volume mais alto do que o restante do elenco, numa tentativa desastrada de elevar sua “atuação”, ele ainda é o narrador do filme. Parece que estamos assistindo a um quadro do Caldeirão do Huck, com sua narração. Ora, eu não tenho nada contra convidar celebridades para dublar desenhos, mas desde que sejam atores de verdade, que saibam atuar. Mesmo eu, que não suporto dublagem (Aceito apenas em desenhos, já que é só trocar um ator por outro, mas não em filmes live-action), sei que é preciso ser ator para ser um bom dublador. Não há desculpa para ter Luciano Huck no elenco de dublagem. Assistam legendado, sério. Eu daria nota 8 ao filme, mas graças à dublagem, vou dar 6.
E o óculos 3D do Arteplex me dá dor de cabeça; o do Cinemark, não.
Enrolados
Tangled (92 minutos – Animação)
Lançamento: EUA, 2011
Direção: Nathan Greno e Byron Howard
Roteiro: Dan Fogelman
Elenco de Dublagem Brasileira: Luciano Huck, Sylvia Salustti e Gottsha
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