Entrando Numa Roubada
O ator Vitor (Bruno Torres) ganha um prêmio de R$ 100 mil num concurso de roteiros e decide usar o dinheiro para filmar o “road movie” cheio de ação Aceleração Máxima. Para isso ele convida amigos fracassados: a ex-apresentadora infantil Laura (Deborah Secco), o ator Eric (Júlio Andrade) e o diretor Walter (Lúcio Mauro Filho). Mas esse trabalho ganha novos rumos quando um dos atores quer usar o filme como pretexto para fazer um assalto e outro que quer se vingar do produtor, que lhe deu calote num projeto anterior.
Antes de mais nada, se você não sabe quem é André Moraes, assista isso. Agora você já sabe quem é André Moraes: É o cara responsável por juntar toda essa gente que participou de O Destino de Miguel, uma daquelas redublagens modafoca que pipocaram pela internet brasileira na época do Orkut. Não foi a primeira, não foi a mais famosa, mas foi a que juntou mais global por metro de fita VHS.
Mas o que o cu tem a ver com as calças, você deve estar se perguntando. E eu respondo: Nada. Entrando Numa Roubada não é uma dublagem cheia de putaria em cima de um filme zoado, não senhor. Poderia, e acho até que seria um resultado final melhor, mas não é. O filme que inicialmente era pra se chamar O Troco [E que seria um nome muito melhor] é uma mistura de ação, comédia, zoeira e chanchada, já que de pornô não tem nada. É bom? Pra um filme de estreia “de verdade”, é. Mas podia ser melhor.
Eu sei lá, mesmo não esperando nada do filme, no final eu acabei me decepcionando um pouco. Talvez pelo final abrupto, mas não vamos pular etapas. A ideia do filme é muito boa, devido a sua ironia: Um filme de ação brasileiro que fode com todos os envolvidos, que deveria estar cagando grana, contratos com a Globo e participações no Jo Soares. Mas não é o que acontece, e o diretor Walter, junto com a protagonista Laura tão animando festa infantil como palhaços; Vitor, uma promessa da atuação, ganha um troco numa loja de pneus; e Eric, a estrela do show, agora é muambeiro pra pagar as contas. E tudo por qual motivo? Fácil, o produtor Alex roubou geral pra virar pastor e ganhar uma grana.
Até ai, uma ambientação totalmente compatível com a situação nacional, não só do cinema mas da vida em geral. O problema é que o filme traz, em si, uma dificuldade pra estabelecer a suspensão de descrença, tendo em vista o viés realista da porra toda. A ideia, até onde eu entendi, era de que seria uma história que poderia ser real. Mas, por não estabelecer uma época, o filme acaba não se tornando temático, o que teria salvado a obra, que seria muito mais crível numa década de 80 ou 90, ainda mais em se tratando de Brasil. Mas é complicado acreditar que um grupo de palhaços mascarados roubando postos de gasolina, sempre no mesmo carro e com as mesmas máscaras, tendo inclusive gente sem disfarce nesse mesmo carro, em uma rota linear totalmente previsível, não seria enjaulado depois do quarto ou quinto assalto.
As cenas de ação tão ok, a edição tá beleza, a fotografia tá maneira, a continuidade não peca, a atuação não compromete. Mas não tem como fugir dessa ideia de conectividade total de hoje em dia, mesmo que você dê a desculpa de que “ain são postos de gasolina no meio do nada”. E o frentista não vai notificar o dono do posto, que vai notificar a polícia? Cês acham mesmo que o cara que tem posto ae atrás vai deixar o rico dinheirinho dele ir embora? Mesmo porque geralmente o cara não tem um posto só. Sem contar o tanto de gente que tem celular com Feici, Zapzap, Twister e Istragão que vão passar por ali e ajudar a espalhar a lenda dos Palhaços na Belina? Nem sei se era uma Belina mesmo, deixa eu conferir aqui. Não, é um Opala. A Gangue dos Palhaços do Opala 74, olha que nome bacana pra gerar buzz!
E tem o final, que foi abrupto e meio frustrante. Não vou falar o que foi, já que cês podem ir assistir e discordar de mim, mas pra mim foi gerada toda uma crescente em torno do que o grupo ia fazer pra se vingar, no que os assaltos iam dar, a continuidade do roteiro do filme que estava sendo feito dentro do filme e… Cadê? Nem metade das portas abertas pelo roteiro são fechadas, e no final é aquele gostinho amargo de uma obra incompleta. E o que é pior: Não foi completada conscientemente.
Entrando Numa Roubada
Entrando Numa Roubada (90 minutos – Ação)
Lançamento: Brasil, 2015
Direção: André Moraes
Roteiro: André Moraes
Elenco: Deborah Secco, Lúcio Mauro Filho, Marcos Veras, João Guilherme Ávila, Ana Carolina Machado, Aramis Trindade, Bruno Torres, Júlio Andrade, João Guilherme Avila, José Mojica Marins, Luisa Micheletti, Maira Chasseroux, Manoela Paixão, Mariana Boccara, Ranieri Rizza, Tadeu Mello, Theo Werneck, Thogun e Tonico Pereira
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