Escrevendo sobre HQs
Há cerca de quatro mil anos, um fenício desocupado qualquer arranjou um martelo, um cinzel e uma pilha gargantuesca de placas de barro. Como ele arranjou esse monte de placas de barro? Sei lá, pô. Devia estar com desconto no mercadinho da esquina, como é que eu vou saber? Enfim, esse fenício desocupado, então, pegou as ferramentas e começou a entalhar símbolos nessas placas de barro. Ao final desse trabalho, ele colocou AdSense nas placas e se tornou o primeiro blogueiro da história nosso amigo fenício poderia não saber, mas ele tinha acabado de dar um dos maiores saltos da humanidade: ele havia inventado os livros!
Pois é, livros estão por aí há muito, muito tempo. São, mais ou menos, uns 6000 anos de produção ininterrupta de livros (Ok, até a invenção da prensa nem foi tão prolixa assim, mas aí é outra coisa) de todos os tipos: coletâneas de fábulas (que não eram TÃO bonitinhas assim no começo), romances, códigos de leis e condutas, livros científicos, técnicos e religiosos e, mais recentemente, os odiosos livros de auto-ajuda (Que só ajudam quem os escreveu. Você, pobre fodido, continua servindo ki-suco para caminhoneiros num posto de gasolina sem nome na beira da estrada Pindamonhangaba-Itaquaquecetuba).
Voltando ao assunto: livros são produzidos desde há muito tempo atrás. São milênios de produção e, literalmente, milhões de livros para se falar, criticar, discutir, resenhar e qualquer outro verbo no infinitivo que se aplique a esse caso. O nosso intelectual catador de lixo provavelmente vai morrer antes de esgotar todos os assuntos referentes a literatura. E, provavelmente, o sucessor dele também. Afinal, o que não falta é do que se falar.
Mas, e as HQs?
Se contarmos Yellow Kid como a primeira HQ, temos incríveis, espetaculares e duradouros 114 anos desde o surgimento das histórias em quadrinhos.
Nestes pouco mais de cem anos, tivemos uma produção fragmentada, pouco estimulada e malvista de modo geral pela população, o que acabou por impedir o crescimento desse tipo de literatura. Somente com o advento dos quadrinhos da Disney é que o mercado de HQs começou a ganhar alguma visibilidade. Daí, a coisa deslanchou: surgiram vários ilustradores e roteiristas focados nessa área, permitindo que surgisse uma gama incrível de conceitos, idéias, personagens e roteiros que, devido ao preconceito da sociedade com esse tipo de mídia, não tiveram a divulgação merecida.
Sejamos francos: 99% da sociedade considera histórias em quadrinhos coisa para crianças ou mongóis gigantes, não uma variedade de literatura. Muitas HQs, como Sandman (mais a frente vou explicar essa minha fixação por algumas HQs), têm mais conteúdo que muito best-seller por aí, mas que é ignorado por ser “gibi”.
Se colocassem à sua frente a obra de Dan Brown e a coleção completa de Preacher, qual você escolheria?
(Continua na próxima semana)
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