Eu confesso
No último texto eu fiz uma sutil apologia à pirataria. Sou um hipócrita. Sei o que é errado. Sei o que prejudica outras pessoas. Sei que essas pessoas merecem reconhecimento. Mas não ajo dessa maneira. Também sei que é crime, aqui e em qualquer lugar. Mas pratico. Eu sou um dentre os milhões de homicidas espalhados pelo mundo, ainda que muitos não saibam qual é a verdadeira vítima.
A vítima é a indústria musical. Aquela que, segundo dizem, está morrendo. Não está. A indústria musical existe desde muito antes da gravação de LPs ou da cópia em massa de arquivos digitais, e vai continuar existindo até que consigam gravar o som do Sol explodindo.
Mas a indústria fonográfica, essa sim, foi pro saco. Culpa da internet? Culpa da pirataria? Culpa da própria indústria? Enquanto executivos e empresários acusam uns aos outros e acham que só um deles é responsável, gente realista sabe que tudo contribuiu.
Lembro de um tempo não muito distante, antes dos caras de terno se preocuparem com a “indústria”, em que os CDs custavam entre $30 e $40 reais. Naquele tempo eu era um moleque besta que dependia da mãe para tudo. Se eu dependesse dela na parte musical, estava ferrado.
Muitos jovens passaram por isso ao mesmo tempo. A maioria teve a fase “vou ao camelô”. Depois de um tempo ali, pensaram “por que não eu?” e chegaram à fase da internet. E aí todos ficaram. MP3s avulsos, discos completos, discografias e bootlegs e demos e versões alternativas. Sim, a indústria fonográfica morreu.
Nem tanto por culpa própria. É simplesmente impossível acompanhar a internet. 10 anos atrás, um jogador do Corinthians se machucava e o carioca ficava sabendo depois de uma semana. Hoje o carioca segue o Lance no Twitter e fica sabendo da lesão em meio minuto.
Mas claro, a internet não é a única vilã. A própria indústria se enforcou. Acho que dois fatores foram determinantes para a morte da indústria, muito antes do Napster ou do KazaA: A invenção do CD e o mundo-cor-de-rosa.
A invenção do CD, por mais prático que ele seja, foi uma merda. Os artistas saíram de uma mídia com capacidade de 50 minutos para uma com 80 minutos livres. Meia hora que, claro, os produtores empurram pela goela dos artistas para que não fique vazia. E lá vão os caras, escrever cinco ou seis músicas ruins para preencher espaço. Mas por pior que elas sejam, elas são cobradas.
Já o mundo cor-de-rosa se refere ao cenário sociológico e alucinógeno. O lado sociológico é simples: Todo mundo escreve melhor quando está puto. Eu sou assim, você é assim, o Diogo Mainardi é assim. Com tranquilidade e estabilidade política, financeira e ideológica, ninguém mais tem do que reclamar. E a música sofre. Já o alucinógeno é simples entender, afinal as drogas estavam presentes em tudo quanto é disco produzido entre 1960 e 1985, desinibindo e dando ideias a compositores pelo mundo.
(Por sinal, é óbvio que as drogas ainda estão por aí. Mas agora elas tem que ser disfarçadas e os caras se seguram. Além disso, Justin Bieber e Lady Gaga são drogas por si mesmos.)
E com esses dois fatores, chegamos a uma resposta simples: Não vale a pena comprar um CD. É muito dinheiro por pouco produto. Cada disco tem duas ou três músicas boas, que mesmo na pior conexão possível você consegue baixar em meia hora. E mesmo essas músicas boas não precisam de um CD. A música hoje, não só em conteúdo mas também na forma, é pobre.
Só digo uma coisa: Nos últimos 6 anos eu comprei três CDs. Chinese Democracy (Só porque eu estava esperando fazia muito tempo) e dois do Pink Floyd, o Dark Side of the Moon e o P.U.L.S.E.. Por que isso? Porque nesses discos a diferença entre uma fonte sonora tangível e um arquivo mp3 era significativa. Isso não ocorre na música de hoje, que tem tanto a seu dispor, mas não aproveita as possibilidades.
O que me leva ao segundo ponto sobre pirataria: Os filmes. Aí sim, existe um abismo entre DVDs originais e suas cópias vagabundas. Um dos meus orgulhos é minha (Ainda pequena) coleção com cerca de 80 filmes em DVD (Com uma lista de espera considerável, aguardando a “verba”), todos originais.
Quanto custa fazer um filme? Muito dinheiro, muito mais do que o necessário para se produzir um disco. Então por que as Lojas Americanas vendem filmes por $12,99 e CDs por $19,99? Claro, a principal fonte de retorno para o cinema é a bilheteria, mas não teriam os shows o mesmo papel para a música? Será que o U2 precisaria reclamar do dinheiro que não entra com os CDs se eles fizessem um show mais modesto e não cobrassem $200 reais por um ingresso? (E se suas músicas não me dessem sono?)
O que digo é, a indústria musical não acabou e jamais acabará (Você pode acreditar). Mas a indústria fonográfica precisa se atualizar, e se atualizar de verdade, além de iTunes ou Sonora do Terra. Se quiserem conquistar novos consumidores, melhor começar a agir logo, porque aqueles que já perderam dificilmente serão recuperados.
Pelo menos redes sociais são legalizadas, então acompanhem o Bacon na Comunidade do Orkut, Twitter e Last.fm antes que isso mude.
Nota do editor: O estagiário foi demitido e denunciado a polícia tão logo esse texto foi revisado. O baconfrito condena a pirataria de todos os modos e acredita que você deve pagar R$50,00 num pedaço redondo de plástico, ao invés de usar de meios escusos para conseguir seu conteúdo.
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