Everybody Hates Chris
Everybody Hates Chris era, pra mim, como aquela música insuportavelmente grudenta do Zeca Pagodinho: Nunca vi, nem comi, eu só ouço falar. Sempre que ligava a TV, estava passando na Record, mas era dublado. E se eu tenho um preconceito nessa vida é com dublagens. Perde-se muito da atuação e dos jargões. Se eu fosse da Polícia da Dublagem (Viu como a piada fica ruim?), provavelmente baniria a dublagem de todas as séries e filmes não animados. Além de South Park, que perde metade da graça quando não podemos utilizar a função SAP. Maldito VH1.
Voltando à série: Ela conta parte da história do comediante Chris Rock. Mais precisamente os anos escolares. O núcleo principal é a família Rock: Mãe, pai, irmãos e Chris. Incluo também o amigo Greg, que não é da família, mas ainda assim é muito representativo para Chris.
Um ponto alto da série é a facilidade de identificação com personagens. Sempre tem alguém que se parece com você. Foi fácil me identificar, por exemplo, com Chris. De onde eu vim, me zoavam com apelidinhos na rádio da escola, era a penúltima a ser escolhida na rducação física (Porque tudo o que é ruim pode piorar), ninguém me tirava pra dançar My Heart Will Go On no final das festas americanas e só não me trancavam no armário porque eu era gorda demais pra caber. A trama retrata com bom humor situações que, na época, devem ter sido torturantes. Eu quase me senti mal por achar os episódios engraçados.
Os irmãos são aceitos socialmente e isso é um motivo de contrariedade para Chris. Não pelo fato de serem populares, terem amigos e despertarem admiração. É pelo fato disso não acontecer com ele também. Justo ele, o irmão mais velho que deveria servir de referência para os mais novos.
A irmã Tonya é a típica filha/irmã pré adolescente: Fútil, mimada, cruel e egoísta. Em quase todos os (Poucos) episódios que assisti, ela estava fazendo alguma chantagem com Chris ou sendo insuportável com alguém. Pode ser coincidência, mas dada a personalidade manipuladora da jovem, diria que é improvável. O irmão Drew, por ter maior autoconfiança, não é um alvo tão bom quanto Chris, mas também sofre nas mãos da menina. Drew é o irmão do meio. Ao contrário de Chris, tem bastante jeito com as meninas. Isso acaba gerando inveja, mas também alguns diálogos interessantes. A relação deles é boa. O mais bacana entre os três irmãos é que você percebe aquela aura de intimidade que só é sentida quando estamos em família. No fim das contas, quando necessário, todos deixam de lado as diferenças e se unem.
Terry Crews interpreta o patriarca Julius Rock. Crews é um dos meus atores de comédia favoritos, porque ele não se esforça demais. É naturalmente engraçado em tudo o que faz. Inclusive como pai de Chris. Todos os defeitos que Julius possui — em especial o fato de ser pão duro — ficam adoráveis quando retratados por ele. Não vi muitas demonstrações públicas de afeto no programa, mas o amor está implícito nos detalhes. Julius se mostra um pai presente nas tentativas de aconselhar Chris, nos mimos à filha Tonya e até no fato de ser pão duro. Afinal, poupar significa oferecer às pessoas que ama melhores condições em situações emergenciais. Pelo menos essa é a justificativa que meu pai dava quando eu pedia dinheiro pra comprar os acessórios da Barbie.
A Sra. Rock é extremamente estressada. Extremamente. Quase o tempo todo. Rochelle representa muito bem o medo e pessimismo materno. O medo de que os filhos não trilhem o caminho certo faz dela muito autoritária. Mas é presente e nota-se que, como Julius, seus defeitos se justificam no amor pela familia. Não me diverti tanto com ela como me divirto com seu marido. Garanto que a experiência seria incrivelmente mais interessante se ela fosse interpretada pelo Terry Crews também.
Greg Wuliger é o melhor amigo fofo do Chris. É muito inteligente (E já mencionei como é fofo?), mas também não é popular. Apesar de terem diferenças nos hobbies e na estrutura familiar, fazem tudo juntos: Apanham, são humilhados, se metem em encrencas e não arranjam namoradas. Mas amigo é pra isso mesmo. É melhor passar por isso com alguém do que sozinho. Em um dos episódios que assisti — cujo um conhecido jurou ser o melhor — Greg questiona Chris sobre o fato de ser chamado de “Chris and Greg”, como se as pessoas não conseguissem dissociar um do outro. Isso descreve muito bem o nível de companheirismo dos dois.
O elemento mais divertido da série é a imaginação do protagonista. Como ele constrói situações hipotéticas em comparação com a vida real. Acredito que todo mundo se identifique com isso também. Tenho vários diálogos interiorizados que nunca vão acontecer, mas eles não são tão divertidos e criativos como os de Chris. Talvez por isso ele tenha se tornado rico e famoso e eu não.
Apesar de todos os elogios tecidos até aqui, eu não enxergo Everybody Hates Chris como uma série “fidelizadora”. Ela não gera curiosidade sobre as coisas que estão por vir. Não é amarrada a ponto de depender de assistir todos os episódios para compreender os acontecimentos de uma temporada inteira. Isso, pessoalmente, me desmotiva a continuar com ela. Se fosse uma pessoa, Everybody Hates Chris seria aquele cara que não cria oportunidades, mas se vale da falta de oportunidade alheia para crescer. Na prática, isso significa que não me programaria para assisti-la, mas se estivesse passando na TV e em inglês me entreteria sem problemas. Isso não é demérito da história de vida do Chris Rock, dos atores, roteiristas e diretor. Muito pelo contrário. Reconheço o valor da série mas, pessoalmente, precisaria de muito mais para me tornar a fã apaixonada que gosto de ser.
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