Ex Machina (Wildstorm)

Bíblia Nerd quinta-feira, 30 de abril de 2009

Imagine-se num mundo onde super-heróis existem de verdade… deja vu?

Talvez. Vamos falar mais uma vez duma reutilização daquele velho cliche do outro dia, do cenário em que um mundo como o nosso possui pessoas com poderes que se tornam heróis, mas dessa vez, como na última, tem um elemento novo: não são TODAS as pessoas com poderes, mas UMA SÓ. O PREFEITO DE NOVA YORK.

Mitchell Hundred era um engenheiro civil normal, como qualquer outro, talvez diferente dos demais por saber a respeito da ponte do Brooklin melhor que qualquer um, mas ainda assim um cara como eu ou você. Até que um dia é chamado para investigar um estranho dispositivo naquela mesma ponte e o bicho EXPLODE, deixando cicatrizes permanentes em seu rosto (que lembram circuitos eletrônicos) e o poder de se comunicar com máquinas, dando ordens a elas e fazendo-as fazer o que quiser.

Assim Mitchell se torna A Grande Máquina, um super herói que é ajudado pelos gadgets criados por seu amigo de trabalho, e agora gadgeteiro em tempo integral, Ivan “Kremlin” Tereshkov (um russo que ainda acredita no socialismo e apoia A Grande Máquina com suas invenções), e seu outro amigo Rick Bradbury, ex-Marine que dedica seu tempo a auxiliar Hundred na sua carreira de combatente do crime.

Ai você me diz “Ok, whatever, grandes bostas esse quadrinho ai”. É, até agora tá bem genérico mesmo. Se não fosse o fato do Hundred TAMBÉM começar a achar tudo isso muito pouco. Então ele decide fazer MAIS pela cidade em que vive e mais pelos cidadãos que tenta proteger diariamente com seus poderes, quando das eleições para prefeito de NYC em 2002, Hundred decide concorrer e acaba ganhando, em muito por sua recente popularidade como Crimefighter e por ter desviado um dos dois aviões do 9/11. Mitchell Hundred decide se aposentar como herói para ser em tempo integral o prefeito de NY. E aí que começa DE VERDADE a história e a carreira heróica do cara.

Você pode pensar no que diabos aquele cara em quem você votou (ou no que você se recusou a votar, afinal estamos em tempo de consciência politicóide) faz o dia inteiro sentado na sala dele. Eu também me pergunto isso e acho que muito cidadão por aí anda votando nos bonecos sem saber o que eles fazem direito, ah a condição humana… divago. E é esse um dos pontos de Ex Machina, que mostra que tão emocionante e difícil quanto voar e desviar o curso de um avião comercial é comandar uma cidade do porte de Nova York atualmente, nesta primeira década do século. Num mundo governado por máquinas, o homem que conversa com elas e as entende governa a maior cidade do planeta. Na verdade, a medida que fui lendo eu vi que a cidade é mais difícil e emocionante e que voar num jetpack deve ser moleza.

Parece mais um político ou um super?

Os pequenos problemas de diplomacia em que se vê envolvido, questões atuais (como, por exemplo, casamento entre pessoas do mesmo sexo), questões com a polícia de NYC (que não confia tanto em Hundred devido a seu passado como vigilante marginal) e até mesmo com a opinião pública (sofrendo até mesmo tentativas de assassinato com… um arco e flecha! Afinal Hundred seria “imune” a armas de fogo se tivesse tempo de “convencê-las” a não atirar. Uma forma ideal de matá-lo a distância seria utilizando um dispositivo mecânico! Brilhante isso…) povoam as páginas de Ex Machina (Latim para “saido da máquina”) e mostram que um trabalho hercúleo, dedicado ao bem comum e a ordem não necessariamente passa por superpoderes. E junto a tudo isso, temos também acontecimentos misteriosos envolvendo Hundred e a origem dos seus poderes, obrigando o prefeito a revisitar seu passado de vigilante e dividir seu tempo e dedicação entre a vida pública e o passado, tentando fazer com que o último não interfira com o primeiro. Conseguirá o prefeito evitar que seu passado pessoal interfira no seu bom trabalho para com a cidade? Se um tema recorrente em histórias de heróis é a questão da Identidade Secreta e o que ocorre quando esta é revelada, pondo em risco os entes queridos, imagine o que acontece quando esses entes são toda uma cidade? Às vezes tornar-se um homem público pode trazer mais problemas que soluções. Será que tornar-se prefeito foi o caminho correto ou será que o certo, o propósito da vida de Hundred, era mesmo tornar-se um super herói e utilizar seus poderes de Grande Máquina a serviço do bem?

Ex Machina inova por mostrar que ter superpoderes é bem legal, umas das coisas mais incríveis que poderia te acontecer se o mundo fosse um local mais justo, mas os verdadeiros desafios te cercam no nosso mundo mesmo e nem sequer vemos. Quando Hundred concorreu para prefeito, ele se deixou guiar pelo senso de solidariedade que adquiriu enquanto era um super, mas quando assumiu viu que na verdade quem faz a cidade andar, quem garante a segurança dos seus habitantes, são os mesmos habitantes que ele achava proteger. Mitchell fala com máquinas eletrônicas, mas acaba precisando aprender a dialogar com uma maquina maior do as que estava acostumado, uma grande cidade.

Ganhador do Eisner Award for Best New Series de 2005 e com seus direitos adiquiridos pela New Line Cinema em 2005 para a produção de um filme, Ex Machina é criação de Brian K. Vaughn (criador também do excelente Y: o Último Homem) e Tony Harris.

Ex Machina

*Ex Machina*
Lançamento: 2004
Arte: Tony Harris
Roteiro: Brian K. Vaughan
Número de Páginas: Variável
Editora:Wildstorm

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