Existem Heróis em Watchmen? – Parte II

Clássico é Clássico segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Hoje encerramos a rápida análise dos heróis de Watchmen, mas fechando com a discussão de uma das visões de herói mais deturpadas e polêmicas já criadas. Considerando centenas de correntes filosóficas – levantaremos uma das perguntas mais importante na caracterização de um herói. Qualquer coisa é válida para garantir o mais importante feito da humanidade?

Coruja II

Se somássemos o Coruja II ao Rorschach, conseguiríamos algo muito semelhante ao Batman. Ainda assim, o fato de serem dois personagens independentes os distanciam muito do que é o Homem Morcego. Claro que poderíamos falar de como o plano de fundo (Se tornar um rico orfão, expert em tecnologia) é semelhante, e até citar o papel do Coruja I, como uma espécie de Alfred. Porém um fator importantíssimo impossibilita qualquer comparação mais profunda: Batman, apesar de não ter poderes especiais, tem algo muito próximo de um “super poder”: Sua determinação e autocontrole. Como o Coringa disse em O Cavaleiro das Trevas, o Batman é a pedra que não pode ser movida. Já o Coruja II, em um tom muito mais humano, se sente desmotivado. Desiste. Engorda. Cai na obsolescência. Porém continua sendo um herói em potencial – basta uma força externa para fazê-lo com que retornasse aos tempos áureos. Inclusive, uma das motivações mais importantes (E cenas mais bonitas do longa) ficou de fora na versão final do filme: A morte de Coruja I, e vocês podem assistir abaixo.
Veredito (Apertem os cintos): Herói Clássico (flertando com um quê de Herói Romântico, Herói do Código de Conduta e Herói Trágico)

Morte de Hollis Mason

Comediante

Encarar o Comediante como um herói é arrumar dor de cabeça a toa. Ele não é um herói trágico, muito menos um anti-herói. Também não é um vilão. Eu o defino como a “face obscura” da neutralidade do Dr. Manhattan. Ele também não se importa com a sociedade ou com o indivíduo – mas diferente do homem deus, não por ser uma entidade infinitamente maior: Mas por vê-la como algo doente, hipócrita e irrecuperável. Assim como Rorschach. Porém um encontrou no seu código de conduta uma motivação para lutar. O outro, encontrou no sarcasmo uma motivação para viver. Afinal, qual a melhor forma de demonstrar a sua falta de apreço pela humanidade que estuprar mulheres que no fundo sentem o prazer de serem violentadas ou ser pago pelo governo para matar pessoas? O Comediante sintetiza essa sociedade doente na figura de um indivíduo. E por isso mesmo, indefinível.
Veredito: Doente. Como a sociedade.

Ozymandias

A figura mais complicada de Watchmen (Tanto que a falta de profundidade do personagem no filme foi o maior dos problemas). Se você não leu Watchmen e espera ler algum dia, não continue.
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Já foi embora?
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Ozymandias é a pessoa mais inteligente do mundo. Seu aspecto hiper racional, entretanto, inviabiliza a importância dada as emoções (Elas são reações químicas de fundo biológico evolutivo, afinal). Seja ela a morte de seu “gato” de estimação ou o fim de milhões de pessoas. Mas seria muito precipitado considerá-lo um vilão. Suas ações se dão em um campo em que a moral e a ética tem medo de ir. Qual a proporção para se dizer até onde os “fins justificarão os meios”?

Responda para você mesmo os questionamentos abaixo:

O vencedor do Nobel da Paz está no trilho de um trem por pura desatenção. Um serial killer está trabalhando em uma parte desativada da ferrovia. Sua única forma de salvar o vencedor do Nobel, é mudar o curso do trem para o trilho do serial killer, resultando em sua morte. O que você faria?

Um operário está no trilho de um trem por pura desatenção. Um outro operário está trabalhando em uma parte desativada da ferrovia. Sua única forma de salvar o primeiro operário, é mudar o curso do trem para o trilho do outro operário, resultando em sua morte. O que você faria?

O vencedor do Nobel da Paz está no trilho de um trem por pura desatenção. Um operário está trabalhando em uma parte desativada da ferrovia. Sua única forma de salvar o vencedor do Nobel, é mudar o curso do trem para o trilho do operário, resultando em sua morte. O que você faria?

Cem pessoas estão no trilho de um trem amarradas. Um operário está trabalhando em um parte desativada da ferrovia. Sua única forma de salvar as cem pessoas, é mudar o curso do trem para o trilho do operário, resultando em sua morte. O que você faria?

Se você, em alguma dessas perguntas, jogou fora o “uma vida é uma vida” e começou a apelar para a racionalização (Será que um Nobel é mais importante para o mundo que um operário? Ou será que cem pessoas são mais importantes do que uma? Será que as pessoas amarradas tem mais importância que as desatentas?), parabéns. Você começa a entender o limite entre o racional e o ético que vivenciou Ozymandias, cuja pergunta era a seguinte: Você mataria milhões de inocentes para evitar que o mundo se destruísse em uma guerra nuclear?

Você faria isso? Você impediria que alguém fizesse isso? Você recriminaria alguém que fez isso? Pela dificuldade inerente a cada uma dessas questões, que o meu veredito não pode definir se Ozymandias é um herói ou não. Cada um vai pensar uma coisa diferente. Na minha opinião, ele é um herói naquele contexto de sociedade – da qual o Comediante é um reflexo. Se nós não damos valor a vida humana, como exigir que nossos heróis façam o mesmo?
E na opinião de vocês?

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