Fazendo parte do gado

Analfabetismo Funcional segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Novamente venho até aqui para falar com vocês sobre tudo isso que a cada dia se torna mais comum no mundo da literatura. Não é aquela coisa que você acharia importante, mas tente dizer isso a um desses leitores. O que irei falar aqui hoje é sobre esses leitores que se dedicam demais a apenas um livro, que daqui em diante chamarei de “livros modinha”.

Os chamados livros modinha nada mais são do que livros comuns como qualquer outro, só que, do nada, recebem uma pincelada de alguma coisa que pode ser marketing ou até mesmo uma citação de algum outro autor famoso. Tudo isso conspira para que ele se torne o próximo sucesso de vendas. Com isso explicado, vamos a uma pequena história que pode desagradar uns e ser a história de outros:
José era um garoto normal, até seus doze anos de idade. Jogava videogame, lia suas revistinhas da Mônica e, ocasionalmente, dava uma espiada naquela playboy da Kelly Key. O tempo passa e esse garoto, cansado de viver nesse esquema, parte pra outra. Das duas escolhas disponíveis, virar mano do gueto YO! ou seguir uma idade normal, ele escolhe a segunda opção. Em sua escola, existem diversos grupos que eu poderia fazer uma separação, como aqueles filmes americanos, mas nem adiantaria de nada. Só digo que, por ter certa falta de popularidade, ele resolve se juntar ao grupo dos excluídos, aqueles que não se encaixam em grupo nenhum exatamente por serem diferentes demais. Mas isso é só uma parte dispensável da história. Direto ao ponto, depois de enrolar um pouco, chegamos na parte que esse grupo resolve chamar nosso amigo José pra ir ao shópis dar uma olhada em algo.
Lá ele descobre que todos iriam para uma pré-venda de um livro. Sim, eram, em sua maioria, viciados em livros os que faziam parte dos excluídos. Lá ele conhece pessoas que à primeira vista, parecem estranhos, mas depois de uma conversa (demorada, é claro, em sua maioria o grupo é formado de tímidos), ele descobre que ali têm pessoas como ele. Dali em diante, ele começa a participar de reuniões, se afilia a algum desses grupos e começa a se tornar um daqueles que ele viu na reunião.
Mas o tempo passa, o livro começa a ficar velho, sua história começa a ficar gasta também e chega a hora de partir pra outra. Pouco a pouco, ele começa a se desligar do grupo, até que não sobra muito de tudo o que ele havia feito. Mas uma coisa ainda fica, a sensação de que algo falta. Sim, aquele espaço que antes era preenchido com o que ele sentia pela história está vazio, e só resta a ele esquecer. Ou achar outra coisa para colocar no lugar.
História chata, sem sentido, mas serve bem de ilustração pra tudo o que acontece nos livros de hoje. Sei que literatura é um mundo que o que manda é o dinheiro no fim de tudo, e que tudo o que é feito sempre visa o lucro, o quanto eles irão ganhar com isso. É exatamente esse fato que faz com que os leitores se tornem parte de uma cultura idiota, que recicla idéias velhas e, com uma pincelada de verniz, a coloca novamente nas prateleiras, como se fosse algo inédito.
Esse ciclo se repete desde que me entendo como um leitor compulsivo, há mais ou menos uns 15 anos. Para um cara de 23 isso é MUITO tempo, e esse tempo me ajudou a saber escolher quando algo pode se tornar um sucesso ou algo que nem merece a atenção. Acertei algumas vezes e me surpreendi em outras, mas sempre tive cabeça para esperar e ver o que aconteceria com tudo. É certo que acompanhei as modinhas, mas o melhor momento de ver se tudo isso realmente é bom é logo depois que a febre passa. Vocês sabem de que livros estou falando, não acho que eles mereçam ser citados aqui.
Então, voltando ao título acima, só pra finalizar. Existem fãs que seguiam o autor muito antes do sucesso dele, antes de receber a camada de verniz e aqueles que só o conhecem por causa disso tudo. Qual deles é o melhor? O que GOSTA realmente do livro e o aproveita ao máximo, ou é aquele que só precisa de algo pra colocar no lugar daquilo que não tem mais graça? Coluninha de hoje com ar de auto-ajuda, mas fazer o quê? Se for pra ser auto-ajuda, uma frase pra acabar: Não seja parte do gado.

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