Festa estranha com gente esquisita
Hello, party people! Hoje eu vou falar de dois filmes que são bem diferentes e, ainda assim, muito parecidos. Tanto o ritmo, quanto fotografia e atuações me fizeram linkar Coerência e O Convite. A convergência é tão grande que ambos se desenrolam no mesmo contexto: Uma inocente reunião de amigos que desanda espetacularmente.
Eu tentei resenhar cada um separadamente, mas o bloqueio criativo foi tão intenso que parecia mais com um parto de uma gravidez psicológica. De alguma forma, é como se os dois se complementassem, apesar de compartilharem mais diferenças do que semelhanças. Vamos parar com o gerador de lero-lero e cair nas dicas.
Dica #1 Coerência (Coherence)
Durante um jantar, oito amigos começam a falar sobre a proximidade de um cometa e os rumores de seu efeito sobre a Terra. Quando a luz acaba e estranhos fenômenos começam a acontecer, os convidados questionam sua noção de realidade.
Eu adorei esse filme, provavelmente o melhor que assisti ano passado, apesar de ter sido lançado em 2013. Com uma vibe que mescla suspense e ficção científica, lembra muito a versão moderna de um certo clássico *cofalémdaimaginaçãocof* que eu cito um bocado por aqui.
A história começa com Emily (Emily Baldoni) falando ao telefone com o namorado, enquanto dirige até a casa de um casal de amigos para um jantar. Durante a conversa – subitamente – a tela racha e o celular para de funcionar. Intrigada, ela comenta com os amigos e Hugh (Hugo Armstrong), outro convidado, mostra que o mesmo aconteceu com seu aparelho. Eles travam, então, uma discussão sobre física quântica e a passagem de um cometa que teria, nos anos de 1908 e 1923, causado fenômenos inexplicáveis na Terra.
Ao longo do jantar, em meio a conversas sobre suas vidas pessoais, acontece um blackout na casa e todos ficam, ao mesmo tempo que assustados, excitados com a ideia de estarem sofrendo alguma influência cósmica. Hugh, cujo irmão é um entusiasta da física, resolve procurá-lo para tentar compreender melhor os acontecimentos. Ele e Amir (Alex Manugian) decidem, então, pedir ajuda telefônica na única casa com eletricidade, supostamente a partir de um gerador, mas voltam completamente confusos da jornada e com um material perturbador em mãos, que fará os oito desafiarem sua racionalidade e a percepção de realidade.
A partir daí, você está proibido de: Pausar, beijar na boca, fazer xixi, pipoca, checar as redes sociais, piscar, coçar o saco. Qualquer coisa que te desvie é um empecilho para a experiência. Toda atenção é pouca para o dinamismo e detalhismo dos acontecimentos no longa. Com uma atmosfera de intimidade entre os colegas e tensão diante do desconhecido, que vai desmantelando aos poucos as relações, tudo nele é bom. Do contexto ao desenrolar. O desfecho, surpreendente, é a cereja do bolo de um filme de ficção científica pra lá de bem executado. Sem naves espaciais, grandes efeitos ou ETs invadindo o planeta, Coerência é rodado de forma quase artesanal, apostando na imersão do espectador através da narrativa, sem subterfúgios. Para fãs de sci fi e suspense/terror, é, se não a melhor, uma das melhores pedidas do cinema atual.
Infelizmente não está disponível no cardápio do Netflix. Ao contrário da próxima sugestão.
Dica #2 O Convite (The Invitation)
A morte do filho separa Eden e Will, um casal descontraído e apaixonado. Desolada com a tragédia, Eden some por dois anos e retorna, convidando seus amigos, e o ex-marido, para um reencontro que não sai como eles esperavam.
O Convite está nas profundezas do Netflix e eu descobri em uma lista americana de não-me-lembro-quantos filmes de terror subestimados dos últimos tempos, ao lado de alguns bons, como Goodnight, Mommy, e outros um pouco mais duvidosos, porém divertidos, como It Follows. De qualquer forma, quis dar uma chance, algo nos teasers me disse, positivamente, que fazia o meu tipo. Bati o olho, deu match e parti para o abraço.
Talvez tenha sido exatamente pelas semelhanças com Coerência, que eu gostei tanto. Tanto na interação dos personagens, quanto na restrição deles em um ambiente fechado, diante de um conflito forte, colocando a prova sua dinâmica de normalidade, bem como suas relações. Esse tipo de filme me instiga desde Festim Diabólico, do mestre do suspense Alfred Hitchcock. E esse é o forte da minha sugestão.
Will (Logan Marshall-Green) é um homem atormentado pela perda do filho e que tenta se reerguer ao lado da namorada, Kira (Emayatzy Corinealdi), que entende suas dificuldades. Há dois anos sem ter notícias da ex-mulher, um dia ele recebe um convite dela e de seu atual marido para um jantar na casa onde a maior tragédia de sua vida aconteceu. Mesmo a contragosto, se força a comparecer, especialmente para descobrir por onde Eden (Tammy Blanchard) andou durante todo esse tempo.
Na casa, ele reencontra amigos queridos das antigas. Todos estão felizes, bebendo, comendo e se divertindo com histórias constrangedoras uns dos outros. Tanto sua ex-mulher quanto o marido, David (Michiel Huisman) são hospitaleiros e parecem viver bem. Ainda assim, um clima estranho toma conta da reunião quando Eden passa a demonstrar um comportamento errático e todos descobrem, afinal, onde ela passou os últimos dois anos. Will não fica atrás no hall de esquisitices, demonstrando uma paranoia desmedida diante de pequenos detalhes, com aquele sentimento constante de algo errado não estar muito certo. Talvez tenha a ver com a escalação de John Carroll Lynch para o papel de melhor amigo do David. Eu também ficaria meio desconfiada.
Intimista, O Convite coloca o espectador na pele de Will, te deixando constantemente dividido entre os fatos que está assistindo e o crescente sentimento de desconfiança dele acerca de algo que nem o próprio compreende muito bem. Com um ritmo mais lendo do que Coerência, permite alguns momentos de desatenção, mas não por isso deve ser subestimado. É um bom filme de suspense/terror psicológico que te faz embarcar em uma espiral de paranoias e percepções conflitantes. Certamente um bom substituto para as clássicas baladas de sexta com litrão a 5 reais que eu tanto desprezo.
Ajudem a amiguinha com sugestões de temas para as dicas da semana que vem nos comentários aqui embaixo, no Twitter ou no Facebook. A cada comentário, o Biel perde mais uma semana de carreira.
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