Filmes Dublados e a preguiça de ler
Na minha última ida aos cinemas percebi uma coisa preocupantemente chata: TODOS os filmes em cartaz eram dublados. E investigando o fato, constatei que isso está se tornando a regra: Mais cópias dubladas do que legendadas nas salas de cinema Brasil afora. A simples preguiça de ler dos “usuários” dos cinemas predomina. Preferem a comodidade de assistir a um filme que não os obrigue a praticar o que não aprenderam na alfabetização. Em geral eu nunca encontrei alguém que tivesse o hábito da leitura e reclamasse de legendas. Infelizmente, são estes espectadores medíocres e preguiçosos que estão sendo levados em consideração pelas distribuidoras. Nunca fui muito de querer impor meus pontos de vista (Com exceção aos meus gostos, mas isso é outra história) e como sempre existe quem discorde, vou responder todas a suas críticas antes que vocês as façam. Então vamos lá:
As legendas “atrapalham” o filme.
Tá bom. Então ouvir uma voz diferente da dos atores e completamente dessincronizada com os movimentos labiais dos atores não incomoda? Mesmo? Acho mais fácil ver o Stallone matando 600 pessoas com um único tiro do que ouvi-lo soltando um “Seu filho da mãe!”, um “Ora, bolas!” ou mesmo um “Mermão” carioquíssimo enquanto pratica seu genocídio particular. Quando o Bill Murray abre a boca e fala com a voz de Wesley Snipes, Will Smith, Kevin Spacey, Samuel L. Jackson, Danny Glover, Alfred Molina, Ed Harris e Denzel Washington (Todos dublados por Márcio Simões) é engraçado. Mas quando me acostumo com a voz do Bruce Willis sendo a mesma voz durante anos e subitamente fica diferente (Em 2006, o dublador dele, Newton da Matta, faleceu), a coisa fica meio chata.
Fora isso tudo, perdemos o trabalho bem feito dos atores. Assistir ao clímax de Coração Satânico e tentar ignorar a rouquidão desesperada de Mickey Rourke substituída pelo trabalho apenas esforçado de um dublador é dose. Imagine então a diferença entre o Coringa de Heath Ledger dublado e o original… Meses dedicados pelos atores originais aos seus personagens e as poucas horas (Se muito!) que os dubladores brasileiros tiveram para gravar seus diálogos.
Por causa disso, não vejo nada demais em dublarem as animações. Só substitui o trabalho de um ator pelo de outro. Mas é foda ver que o cuidado não é o mesmo (Luciano Huck gravou todo o seu péssimo trabalho em Enrolados em apenas 4 ou 5 horas).
E os deficientes visuais? Não podem nem tentar ir ver um filme?
Claro que podem sim. Mas novamente, não creio ser justo que uma minoria absoluta seja responsável por moldar a maneira com que a maioria irá assistir aos filmes. Além disso, há duas questões: É obvio que o cinema é uma mídia visual. E não podemos esquecer dos deficientes auditivos. Faz infinitamente mais sentido facilitar o acesso dos deficientes auditivos aos filmes em tela grande do que o dos deficientes visuais.
Os dubladores não vão trabalhar?
Temos alguns dos melhores profissionais do ramo. Mas o que vem tirando o ganha pão dessa classe trabalhadora na verdade são as “celebridades” convidadas ultimamente pra dublar os filmes de maneira vergonhosa. Mas mesmo assim temos que concordar com outra coisa: Dublagem distorce, deforma e prejudica a obra de arte original. Pros dubladores o que não falta a eles é trabalho: Séries de TV, animações (Para cinema e televisão) e praticamente todas as produções lançadas em home video contam com suas versões dubladas. É na verdade o contrário que vem ocorrendo: Com um número cada vez maior de projetos com versões dubladas, tá rolando uma enxurrada de trabalho. E as dublagens vão sendo feitas de qualquer maneira.
Pow cara, quem não sabe ler não tem direito de ir ao cinema?
É muita estupidez e muito cinismo dizer que mais cópias dubladas vão atrair o público analfabeto pras salas de cinema. Quem não sabe ler geralmente não tem o melhor dos salários pra ficar indo ao cinema e assiste mesmo aos filmes piratas. Menos de 0,01% daqueles que vão às salas de cinema são analfabetos (E dentre estes a grande maioria é de crianças). “Acessibilidade” é o caralho. Isso não justifica o crescente aumento das cópias dubladas. O negocio é simples: Preguiça de ler. Analfabetos têm acesso aos filmes pela TV aberta onde 100% das produções são dubladas e praticamente todos os lançamentos em DVD já vêm com a opção da dublagem (E a palavra-chave aqui é “opção”). A população analfabeta (Seja este analfabetismo real ou funcional) não está sendo excluída do acesso ao cinema.
Ir ao cinema para ver um filme em tela grande é um gesto de amor ao cinema. Seria muito menos trabalhoso pra mim baixar um filme, procurar a legenda e assistir no conforto do meu sofá, podendo pausar o filme quando eu quiser, assistindo no volume que eu quiser, o filme que eu quiser. É deprimente sair de casa e ter que pagar entre R$10,00 e R$20,00 pra ver um filme (Fora gastar gasolina, pegar trânsito, pagar estacionamento, pipoca, etc) e ainda por cima ver que a sua opção de ver um filme dublado ou legendado não existe mais. Boicote o filme. Eu não vejo mais filme assim. Desisti.
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