Fone de cinco, fone de dez
Tem sei lá quanto tempo que estou sem nenhuma música no celular. O aparelho que acabou por substituir os mp3 players (E que está sendo substituído até mesmo por fones com entrada pra cartão de memória), ao menos pra mim, tem ficado silenciosamente no meu bolso… E isso é estranho.
Bora colocar a coisa em perspectiva aqui: A razão pela qual eu não botei música nenhuma no celular foi porque, após resetar aquela porcaria várias e várias vezes eu simplesmente enchi o saco de restaurar o backup dele. Em outras palavras, isso significa que não tenho confiança nenhuma no aparelho, e com certeza não vou perder mais tempo o necessário tentando arrumar o treco.
Em termos práticos isso significa que eu só ouço música – do tipo colocar música para tocar, não estar tocando em algum lugar – quando estou dirigindo ou quando estou no computador. E porram, eu não sinto falta… Não que não tenha tido vontade de ouvir música, principalmente num ônibus, trem ou qualquer coisa do tipo, mas eu não sinto falta de ter a companhia da música. Eu sequer fui o tipo de adolescente que acha que o mundo iria implodir se, subitamente, todas as guitarras do mundo deixassem de existir, mas a verdade é que a ação de ouvir música já foi muito mais importante e muito mais comum na minha vida.
Isso também significa que o único motivo pelo qual eu ainda carrego fones por aí é pra poder usar no metrô e não ter que ouvir “promoção” de paçoca e capa de celular: Este sou eu miguelando literalmente UM REAL E CINQUENTA CENTAVOS num protetor auricular de verdade (E que faria um trabalho melhor). Se você acha desrespeitoso conversar com alguém usando fones espera só até conversar com alguém usando fones que não estão ligados em aparelho nenhum.
A grande diferença é justamente a constatação de que não faz diferença. Não faz diferença entre ouvir o barulho ao meu redor e ouvir qualquer que seja a música que está tocando no momento. Não faz diferença ter o cuidado de escolher o que eu quero e gosto de ouvir e ouvir simplesmente o que está acontecendo: Sequer mesmo é uma escolha entre diferentes tipos e estilos de música, é uma escolha entre o mundo “exterior” e o que eu (E cada um de nós) crio para mim mesmo.
Quer dizer, eu poderia muito bem assinar o Spotify ou qualquer outro serviço de música. Poderia acessar o Youtube, Last.fm, Palco MP3… Não é falta de opção e nem de acesso. Claro que esse tipo de coisa gastaria mais dados de internet, mais bateria e sei lá mais o que (Aliás, ouvir música no celular é justamente uma boa opção porque gasta muito pouco de tudo que você possa precisar), mas a real é que a escolha não é ouvir ou não ouvir música, mas sim qual vai ser o barulho de fundo que você vai ouvir.
Porque a real é que cê não vai apreciar que palavra babaca, meu deus um novo álbum no busão. Cê não vai descobrir uma nova banda na fila do banco. E cê definitivamente não vai notar a harmonia de acompanhamento no refrão da nova versão remix daquele single do ano passado enquanto cê espera pra bater ponto e ir embora. A real é que você só quer ocupar as orelhas. Até porque o resto cê consegue ignorar, som (E barulho) é bem mais difícil… Eu parei de ligar. Só não quero que esse barulho de fundo seja alto (E repetitivo… E a ÚLTIMA OPORTUNIDADE QUE EU VOU SAIR DO VAGÃO) demais a ponto de atrapalhar.
É um ponto baixo na importância da música, é verdade… Talvez seja um ponto baixo pra mim também: Isto tudo são apenas constatações. Diferentemente da maioria das coisas das quais falo aqui, isto sequer é um problema (Ao menos não ainda), é apenas uma exposição de que, atualmente, ouvir música se tornou ao mesmo tempo mais irrelevante e mais respeitável em si mesmo: Só ouço música quando dá pra ouvir a música, e ao mesmo tempo isso significa ouvir muito menos música. E não é uma troca de quantidade por qualidade não, já que “qualidade” vem com sua compreensão da música, o tempo e esforço que você deposita em cada faixa e canção para então dar-lhe um valor de verdade. Não, isso aqui é só um jeito fresco de dizer que ouvir música só tem importância quando não é o acompanhamento de mais nada.
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