Frango Gratinado

Contos segunda-feira, 04 de fevereiro de 2013

Tava pensando em escrever algo para essa semana, e como havia muitos anos eu tinha abandonado o hábito de escrever contos, resolvi atacar um pouco de escritor. Segue ai um conto bem curto, desses que a gente faz na escola.

Gratinando um pedaço de frango para o almoço. Estou tentando ser um pouco mais saudável depois do veredicto, porque me manter do jeito que estava não daria certo de jeito nenhum. Olhei no entorno da cozinha, tudo estava muito limpo, menos, claro, o que eu estava usando. Será quanto tempo eu iria conseguir manter tudo daquele jeito? O cômodo não era grande, cabia mais ou menos a pia, o fogão e a geladeira, todos alinhados, do lado oposto uma bancada onde fazia as refeições. Se eu fosse gordo com certeza não abriria a geladeira. Espaço pra mesa nem pensar. Eu sempre quis ter uma mesa na cozinha, gosto de deixar a sala para sofás e televisões.

Sentei em um banco alto, o único da casa, e comi meu frango. Odeio frango, essa porcaria não tem gosto de nada. Olhei direito meu prato e pensei que porcaria estava fazendo, comendo um frango com umas batatas. Precisava mesmo era de um bom bife de vaca com uma porção boa de arroz e feijão. Mas depois de mais de dez anos morando “sozinho” eu nunca aprendi a cozinhar um feijão e refogar um arroz. A verdade é que meus dotes culinários são limitados a carnes e a batatas. E claro, não permite muitas variações. As batatas ou são fritas, cozidas ou assadas e as carnes unicamente fritas ou assadas. Permitem ai umas seis combinações, desconsiderando-se o tipo da carne e claro, se eu não fizer vários tipos de batatas e vários tipos de carnes.

Meu telefone toca. “Alô”, falo de um lado da linha, “Marcos, sou eu”. De fato era ela, o que diabos ela queria, na hora do almoço? “Eu queria que você me devolvesse algumas panelas que ficaram com você, o jogo está incompleto e eu queria deixá-lo do melhor jeito possível”. Por isso ela tinha ligado neste horário, deve ter lembrado da merda das panelas. “Mas e eu? Como eu devo ficar, também tenho que comer!”. “Eu sei”, ela respondeu, “mas essas panelas são presente de casamento e fazem parte de um conjunto. É melhor ficar com todas, ou com nenhuma”. “Uma ova”, disse, “para mim, as que estão aqui estão tendo muita serventia”. “Quer saber de uma coisa, fique com elas, não quero brigar por conta de uma porcaria de umas panelas, vou desligar, tchau”, e desligou antes de eu poder responder. Pela primeira vez também eu consegui sentir uma nota de emoção na voz da dama de ferro, com eu comece a tratá-la após a separação. E é também uma pequena vitória para mim, apesar de ser bastante mesquinho. Mas o que importa? Ela ficou com tudo, casa, carro, crianças, cachorro. Tudo com “c”, inclusive o cu dela, que nunca vi a cor. Ri alto com esse pensamento. Por essas e por outras que aconteceu o que aconteceu. O que não foi bom pra mim, claro, meu coração não aceitou bem o susto. Agora tenho que ficar comendo frango. Queria mesmo uma picanha gorda. Quer saber? Que se dane, vou parar num rodízio antes de ir trabalhar.

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