Gastando tempo com Almodóvar

Cinema quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O primeiro filme de Almodóvar que assisti foi Fale Com Ela, aos 12 anos. Me lembro que foi um dos primeiros filmes em Digital Video Disc (DVD, pros leigos) que eu assisti. Nós alugamos juntamente com O Mistério da Libélula e Casamento Grego. Nunca me esqueci disso, tamanha frustração. Foi um filme que eu odiei com todas as minhas forças. Eu passei minha adolescência acreditando que alguém ainda me devia 112 minutos da minha vida, que haviam sido desperdiçados naquela porcaria. Sem preconceitos, mas a história te dá a mesma sensação de quando você bebe cerveja quente e sem gás, comendo amendoim sem sal assiste um daqueles filmes ‘cult’ japoneses. Fale Com Ela ganhou Oscar de Melhor Roteiro Original (Juno e Pequena Miss Sunshine também. So what?) em 2003, e isso me faz rir descontroladamente. Nevermind.

Depois de madura, assisti Abraços Partidos, Tudo Sobre Minha Mãe e Volver. Filmes fantásticos, principalmente por suas fotografias, na singelíssima opinião de quem não entende porra nenhuma de cinematografia. Cada um com sua peculiaridade, cada um com sua própria Penélope Cruz.

Abraços Partidos é genial pela história, que é jogada em forma de flashbacks da memória de Henry Caine. Nossa menina dos olhos está perfeita na pele de Lena, que se vende para ajudar na saúde do pai e para conseguir o que sempre sonhou: Ser atriz. O filme, na verdade, gira em torno da história de amor (Ou interesse mútuo – algo a se pensar) entre Lena e o diretor do filme de sua estréia, Mateo Blanco (Que futuramente perderia a visão e passaria a responder pelo nome de Henry Caine). Vamos deixar o lenga-lenga pra lá e partiremos ao que interessa. Tá, ela é casada com um velho rico que a sustenta, ela tem um caso com o diretor do filme, e aí? E aí que ela morre. É, morre. A partir da morte dela é que todo o filme começa a fazer sentido. E então você percebe que Mateo/Henry foi punido não somente com a morte de Lena, mas sim pela vida sem ela e sem a imagem dela. Provavelmente as melhores cenas de sexo que eu já vi em filmes. Um filme para assistir mais de uma vez.

Nota: O filme dirigido por Mateo, em que Lena é protagonista – Chicas y Maletas – é simplesmente hilário!

 Can’t read my, can’t read my, oh he can’t read my po-poker face.

“Surreal” é a palavra que define Tudo Sobre Minha Mãe. Um filme onde você encontra todas as desgraças possíveis que podem acontecer com pessoas de classe baixa. Um garoto de dezessete anos morre atropelado no dia de seu aniversário por correr atrás de uma atriz. Irmã Rosa engravida de um traveco e, de quebra, pega AIDS. Uma mulher lésbica viciada em heroína quer ver as genitais de um traveco-garoto(a)-de-programa, por prazer. Um travesti é abusado sexualmente. Gente, aqui você vê de tudo e mais um pouco. As cenas nas ruas, nos becos, são cenários muito reais. Um filme para assistir e recomendar.

Nota: Clap, clap, clap para Almodóvar na criação de Agrado, um dos travestis.

Volver é engraçado, é dramático, é envolvente, é chocante. Cenas apaixonantes. Penélope Cruz (Óbvio) – que agora não vou lembrar o nome da personagem, então vou chamá-la de Filisbina – é Filisbina, cujos pais mal esfriaram no túmulo e ela já está secando o sangue do marido morto, com papel toalha. Vítima de abuso sexual, Paula, filha da Filisbina, é quem mata o próprio pai em um ato de defesa. Enquanto Filisbina tenta colocar o marido na geladeira, um vizinho bate à porta para deixar a chave de seu restaurante, para que a colega mostre o local aos interessados na compra do imóvel. Em uma cena bizarra, mãe e filha levam o corpo do finado para o restaurante, a fim de colocá-lo em um congelador. O corpo nem está duro ainda, quando a tia insana de Filisbina morre. Sentiram o humor negro? A partir disso, o filme gira em torno da superação e aprendizado das três mulheres (Paula, Filisbina e a irmã), juntamente com o espírito de Irene, a mãe morta. Esse filme entrou na minha lista de preferidos pela forma como a morte é tratada. Como uma coisa normal, corriqueira; algo material, necessário, e aceitável. Uma forma maravilhosa de enxergar a vida.

Nota: O nome da personagem é Raimunda, e eu sabia. Mas nome feio por nome feio, Filisbina pelo menos é engraçadinho (heh).

 Irmã (Que eu não lembro o nome, de verdade), Paula e Filis…Raimunda

Nota final: Após me apaixonar por Volver, decidi assitir Fale Com Ela novamente, dessa vez com mais idade, mais maturidade, etc. Só digo uma coisa: Pedro Almodóvar agora me deve 224 minutos da minha vida.

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