Gênios Conflitantes

Nona Arte quarta-feira, 02 de setembro de 2009

Já repeti aqui inúmeras vezes que não tenho o costume de ler HQs semanais. Meu foco é, quase que exclusivamente, voltado àquelas HQs/Graphic novels já concluídas, ou que já têm um final definido e, portanto, não irão passar décadas se arrastando em histórias repetidas. Essa preferência tem dois motivos:

1. Eu não preciso/posso perder (mais um pouco de) sanidade para poder acompanhar a história do Lanterna Fantástico, Quarteto Verde ou o que quer que seja. Me contento com um conhecimento básico da história original para eventuais filmes ou arcos das revistas que prometam ser bons.

2. A fina nata dos roteiristas de HQs escreve roteiros fechados em 99,998% dos casos. Frank Miller, Grant Morrisson, Warren Ellis, Robert Crumb, Will Eisner, Garth Ennis e… Neil Gaiman e Richard Stallman Alan Moore, os gênios conflitantes do título.

Quando digo “conflitantes”, não corra para a caixa de comentários e digite:

HUSAHSAUSUA Q NUB, NEIL GAIMAN É UM AMIGAUM DO ALAN MORE, IMBECIL!!1!11!OLOLCO PIZURK DEMITE ESSE IMBECIL BEL EU TE AMO MIM DA SEU ORKUT

Você será banido permanentemente, não conseguirá minha “demissão” (ou o orkut da Bel) E ainda se passará por idiota (não necessariamente nessa ordem).

O conflito entre esses dois britânicos é inexistente na vida real (Tanto que, sim, eles realmente são amigos) e se resume, em meu ponto de vista, a uma questão de foco e abordagem das histórias.

Gaiman é o sonhador: toda sua obra tem um caráter onírico-fantasioso onipresente. Sandman é um bom exemplo para provar a afirmação anterior: toda uma mitologia criada a partir do nada (os Perpétuos e tudo aquilo diretamente relacionado a eles) e que, ainda por cima, não entra em choque com nenhuma outra mitologia/religião do mundo. Mesmo quando as histórias abordam fatos históricos, há sempre uma pitada de fantástico ou, em alguns casos, uma crítica velada à destruição da história e dos mitos, considerados pelo autor como algo indispensável ao desenvolvimento do ser humano.

Moore é o realista: todas as suas obras, mesmo as de caráter estritamente ficcional, envolvem uma pesquisa pesada (como A Liga Extraordinária – esqueça o filme, leia a obra) e, no caso de obras que abordam realidades alternativas (como Watchmen e V de Vingança), um cuidado notável em criar um mundo crível, com o qual não nos sintamos em choque. Até mesmo a abordagem “Teoria da Conspiração” usada em Do Inferno tem por trás uma bela pesquisa sobre a história do serial killer mais famoso do mundo. Não, não o Dexter. Tô falando do Jack, aquele mesmo, o Estripador.

Como nerd, sou inevitável e instintivamente atraído pela obra de Gaiman e toda a fantasia por trás dela. Como fã de Tolkien, Júlio Verne e mitologia de modo geral, sou atraído por tudo que Gaiman escreve como um besouro é atraído por uma vela. No entanto, ainda como nerd, tenho uma sanha incrível por história e informação de todo tipo, útil ou não, e isso me arrasta para o lado Moore da Força e toda a pesquisa e realidade irreal deste. Orra, V de Vingança é claramente inspirado em 1984 cuspido e escarrado!.

Mas, como foi dito no início, o conflito é apenas imaginário. Fantasia pura e “ficção realista” não se entrechocam na literatura, e isso não deve acontecer na realidade. A vida sem razão e lógica torna-se insanidade. Tampouco, devemos nos tornar máquinas sem sonhos, afinal:

Deixa voar alto a Fantasia:
Sem ilusões a vida que seria?

(Ramon de Campoamor)

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