Guia do Blues – Cap. II – Little Richard
E chegamos ao segundo capítulo do Guia. Hoje não vamos falar daquele blues mais encorpado nem nada, o papo será sobre Little Richard.
Alguns dizem que ele não é tão blues man. Eu até concordo, se for compará-lo com, por exemplo, o Stevie Ray Vaughan. Maaaaaaas, se estamos querendo destrinchar, temos que começar do início, NÉ? Não, porra, eu não quis dizer que Little Richard fundou o blues, só quero dizer que ele foi um dos pioneiros do roque e rol em geral, utilizando vários aspectos do blues posteriormente mais difundido.
Slippin’ and Slidin’:Little Richard, nascido lá no distante 1932, passou sua infância na Georgia. Eu sei que você não entende nada de geografia usamericana e nem eu, então vou logo dar o cheat: Fica bem próximo da área daquilo-que-dá-o-nome-a-esse-guia. Desde pirralho, foi acostumado a ouvir artistas gospel, o que fica bem perceptível na sua sonoridade. Bem semelhante com os bluesman completos, né não? Ele até fugiu de casa quando jovem pra fazer parte de uma banda bluezêra que saía vagando por ae.
Enquanto tocava piano, misturava os estilos que lhe agradavam de uma maneira furiosa, transformando num ritmo só dele. E como todo artista que começa tirando os emos, foi simbora tocar em clubs e bares. Seu golpe de sorte, na década de 50, foi com Tutti Frutti, roubada imortalizada na voz de Elves Presli. E claro, quem nunca ouviu um wap-bap-loop-bap-lap-bem-boom, ou wop-bop-a-loo-mop-alop-bam-boom, ou waa-laa-bup-bap-bep-bum-fuckyou-boom, ou qualquer parecido, deve ter tido os ouvidos entupidos de cera de abelha do infernu.
Depois foi aquela enxurrada inicial de talento. Hit atrás de hit, que o fez viver deles por praticamente todo o resto de sua vida musical. Mas cá entre nós, qual o problema disso? Seria no mínimo ridículo se Little Richard, por exemplo, pra continuar atendendo as necessidades comerciais e canibais das gravadoras fizesse umas parcerias com… BEYONCÉ?
Com tanto swing, homens muiéres, dorgas e Rock n’ Roll, Little Richard virou… Pastor evangélico. Não, infelizmente AINDA não era a Igreja do Sagrado Rock. E começou a passar uns anos entre o Céu e o Inferno, ops, a música e a igreja. Seu ego só não era maior que o topete. Mas era maior que uma das pernas dele. Pois é, o cara que fazia milhares dançarem, tinha as pernas defeituosas. Mesmo assim, homossexual, torto, egocêntrico, evangélico, a porra toda, a história da música não teria tanto brilho sem sua trajetória. Eu particularmente não lembro de ninguém que conseguisse manipular tão bem sua voz até aquela data. Dizem que o demi-god Jimi Hendrix disse certa vez:
Quero fazer com minha guitarra o que Little Richard faz com sua voz.
Jimi chegou a tocar com ele. Mas não era Jimi. O obrigaram a fazer acordes tradicionais, e sem nenhuma brincadeira de distorção. Pior que comer a gata da faculdade só num papai-e-mamãe.
Tutti Frutti:O cara sobreviveu até de um incidente aéreo, pow! Foi depois disso que se formou em Teologia, gravando alguns discos também. Deve ter sido meio James Brown no fantástico filme dos Blues Brothers. Graças a Deus, Deus o chamou pro lado certo novamente, e o Rock tinha ao seu lado esse grande homem. Dr. Jekyll controlou temporariamente o Mr. Hyde.
Keep A Knockin’:Hoje em dia, continua tão selvagem e disposto quanto antes. Essas pessoas, tipo o Chuck Berry, que dia desses fez um show em São Paulo, é como um fragmento da história musical, pra não cair no clichê da lenda viva, cristalizados às suas maneiras, e que, com certeza, farão a música perder um pouco do seu feeling quando passarem pro outro mundo do senhor Enma Daioh. No final, vai restar umas coisas sem sentido, inspiradas em quê? Nuns Cines da vida.
Como isso é frustrante.
Pra animar um pouquinho, então, uns bônuses:
Raul Seixas – My Baby Left Me – Thirty Days – Rip It Up:Jerry Lee Lewis, Little Richard, Ray Charles, BB King, Fats Domino, James Brown, Bo Diddley:
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