J. Edgar
O longa explora a figura de um dos homens mais enigmáticos do século XX: John Edgar Hoover (Leonardo DiCaprio). Um dos principais responsáveis pela criação do FBI e seu homem forte por 48 anos, ele foi temido e admirado por várias décadas, mas em sua vida pessoal mantinha segredos grandes o bastante para acabar com sua reputação e sua carreira.
Quando foi anunciado que o próximo projeto do Clint Eastwood contaria a história do John Edgar Hoover, todo mundo já ficou empolgado. Depois, a confirmação do Leonardo DiCaprio como protagonista deu ao futuro projeto status de filme do ano. Então, vieram os trailers, nada espetaculares, mas mantendo as expectativas. Finalmente, chegou a temporada de premiações e… A obra foi sumariamente ignorada. Ninguém entendeu nada. Logo, eu fui ver o filme pra esclarecer essa história de uma vez por todas. E surpreendentemente, dessa vez culpa não é do Oscar. Mas vamos ver onde tudo deu errado. E tentar fazer tudo caber num texto só, heh.
A história começa com um J. Edgar em fim de carreira buscando alguém pra escrever suas memórias. A partir daí, a narrativa é intercalada entre o presente, nos anos 60, e o início da sua carreira, narrada por ele. Desde quando ele era um simples funcionário do governo, passando por sua ascensão ao cargo de diretor do FBI e a total reestruturação que transformou o departamento na maior força policial do mundo.
Essa estrutura poderia ajudar muito na construção do personagem, mas o que ocorre é justamente o contrário. O vai-e-vem excessivo entre diferentes períodos deixa o filme fragmentado demais. Em vez de conhecermos o personagem a fundo, não conseguimos nos conectar com sua história em momento algum. E se isso ocorre com relação ao protagonistas, imagina os coadjuvantes. A Helen Gandy (Naomi Watts), secretária pessoal, principal companheira e guardiã dos arquivos secretos de Hoover, não tem personalidade alguma. E isso é grave, considerando que o diretor decidiu focar na vida pessoal do cara.
Só que nem nessa tarefa o filme é bem sucedido. Tudo bem, a relação de Hoover com Clyde Tolson (Armie Hammer) é bem desenvolvida, apesar de em alguns momentos a história deixar de seguir naturalmente pra focar num olhar ou aperto de mão só pra dizer pra audiência algo como OLHA, SE CÊS AINDA NÃO PERCEBERAM ESSE CARA É VIADO, HEIN? VIADO! Até mesmo nos melhores momentos do filme, que demonstram a necessidade que Hoover tem da aprovação de sua mãe (Judi Dench), se perdem em meio a tantos flashbacks.
Só que mesmo com um certo aprofundamento, nós nunca chegamos a entender quem realmente é John Edgar Hoover. Porque um homem brilhante como ele, que revolucionou as investigações policiais, luta cegamente contra o comunismo, por exemplo? O que levou-o a defender tão ferrenhamente o ideal da sociedade norte-americana, que o fez reprimir seus sentimentos durante toda a vida? Uma possível resposta nunca é dada. Ou melhor, o questionamento nunca é feito.
Em meio a esse clima intimista, somos apresentados a extensa carreira do diretor do FBI. Que é interessantíssima, por sinal. Pena que, com a ânsia de englobar todos os momentos-chave de 50 anos de história, de novo, nada é aprofundado. Porra, daria pra fazer um filme só com a relação do Hoover com os presidentes americanos, a mídia ou os seus métodos escusos de investigação, coisas que são basicamente citadas. E o sequestro do bebê Lindbergh, caso que deu origem ao Lindbergh Act, que permitiu aos agentes do FBI carregarem armas e efetuarem prisões, único que tem o tempo necessário na tela, inexplicavelmente consegue ficar arrastado e desinteressante.
E tudo isso é protagonizado por um Leonardo DiCaprio competente, principalmente nos discursos no senado americano, mesmo com essas cenas se parecendo demais com as d’O Aviador. Pelo menos quando a maquiagem não ocupa metade da cara dele. E por falar em maquiagem, se a do Hoover idoso é meio duvidosa, a do Clyde Tolson é inacreditável. Sério, cada vez que ele aparecia, eu só conseguia pensar no Johnny Knoxville personificando um velho no Jackass:
A mesma coisa acontece com a fotografia, por vezes pálida demais e outras, excessivamente sombria. E estranhamente apropriada pro filme. O que nesse caso, não é necessariamente uma coisa boa.
No fim, o filme peca por querer abraçar todas as facetas de Hoover, e acabar não abraçando nenhuma com competência suficiente. Mesmo com alguns acertos, como a exposição da visão pessoal de Hoover, uma certa desmistificação do herói americano (Coisa um tanto quanto surpreendente vinda do Eastwood), eles se enfraquecem pela inconstância do filme. É com pesar que eu digo isso, mas está cada vez mais claro que o Clint Eastwood deveria ter parado no Gran Torino.
J. Edgar
J. Edgar (137 minutos – Drama)
Lançamento: Estados Unidos, 2011
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Dustin Lance Black
Elenco: Leonardo DiCaprio, Armie Hammer, Naomi Watts, Judi Dench, Jeffrey Donovan
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