Lana Del Rey: A diva do vintage
Era uma daquelas tardes chuvosas e vazias, que fazem você até se arrepender de ter matado aula… O tédio me consumia e eu só conseguia pensar: Merda, preferia ter ido pra faculdade ouvir meus professores divinizarem Adorno do que ter ficado deitada nesse sofá durante horas. Meu iTunes passava de Strokes pra Arctic, depois voltava pra Strokes e aí era Cage the Elephant, seguido de Foster e Two Door, ou seja, as mesmas coisas do dia anterior, e do dia anterior a esse. Meu enjôo da vida foi se transformando em um enjôo musical, eu não aguentava mais ouvir nada daquilo que estava acostumada e não tinha vontade alguma de procurar uma nova bandinha indie pra me viciar. “Preciso ouvir um negócio diferente”.
Meio que caído do céu, recebi um presente: Minha amiga colocou um vídeo no meu Facebook de uma tal de Lana Del Rey e disse que achava que eu ia gostar. Sim, eu não escondo, eu gosto de Lana Del Rey, sei que todo mundo tá cansado de ouvir sobre, mas foda-se, é sobre isso que eu quero falar.
Ok, daí eu ouvi a música, Blue Jeans por sinal, e eu pensei: Opa, curti. Então, em meio ao meu tédio, saí ouvindo as músicas mais famosas, Born to Die e Videogames. Nesse ponto eu já sabia que a mulher tinha me conquistado à primeira vista, não tinha mais saída. Safada. Fui pesquisando mais e ouvi o disco naquele dia mesmo, e mais algumas vezes durante a semana. Ok, durante o mês. Muitas vezes. Até eu precisar me desintoxicar daquela voz de veludo que já tava ficando enjoada depois da 876394º vez. A Lana era o que eu precisava naquele momento, serviu como uma luva. Fiquei apaixonada por sua voz, natural, crua e rara. Fiquei apaixonada pelo seu estilo. Fiquei apaixonada por sua beleza. Por Deus, eu viraria gay por essa mulher. Pronto, falei.
Olhando umas coisas na internet aqui, outras ali, acabei me deparando com as críticas à Lana, as quais eu não havia procurado até então. As opiniões são diversas, mas grande parte dos “entendidos” mete o pau nela. Pelo que pude notar, aparentemente, é cool não gostar de Lana Del Rey. “Cara, como eu vou fazer agora? Como ser ouvinte de Strokes e leitora (E entendedora) de Clarice? Como eu, estudante de comunicação, posso chegar agora na faculdade com uma camiseta escrita “Hendrix & Morrisson & Cobain & Winehouse”? Como vou pra Matriz com meu All Star de cano médio? Como vou comprar minha lomo? Como vou usar minha camisa xadrez? Como vou dizer que gosto de filmes da Nouvelle Vague? Como vou citar Nietzsche em uma mesa de bar e ser respeitada? E meu headphone? E aquele óculos retrô que eu queria tanto? Como fazer tudo isso E amar Lana Del Rey???” – eu pensei, desesperada, tendo um ataque de pânico, afinal, eu já tinha até colocado vídeo na minha wall. Ok, a parte do óculos retrô é mentira. Aliás, se você usa óculos retrô, não tem o meu respeito. E se você nem tem problema de vista e usa um desses óculos, pra mim você pode queimar no inferno. Mas enfim, só essa parte mesmo, o resto é verdade.
Fui, então, ler com atenção o que eles estavam falando, porque, modéstia à parte, meu gosto musical é dentro daquilo que a sociedade espera de uma garotinha zonasul-classe média-recém-saída de um colégio católico respeitado. Não ouço Luan Santana nem nada. Bom, as críticas se resumem basicamente a dois pontos:
1. Ela seria uma “cantora de estúdio”, não sabendo se portar ao vivo, o que pode ser percebido na sua apresentação caótica no Saturday Night Live.
2. Ela seria uma invenção empresarial, já que, em seu primeiro disco, ainda se apresentava como Lizzy Grant, não esbanjava sensualidade, não seguia um estilo vintage e ainda não possuía lábios tão cheios (Aqui é a parte de fofoca digna de TV Fama: Lana Del Rey e preenchimento labial, fez ou não? O que você aí do outro lado da telinha acha? Vamos discutir mais o assunto depois que eu mostrar pra vocês essa câmera sensacional, Tekpix, blablabla).
“Ahaaa, mas pra isso eu tenho resposta!”- exclamei mentalmente. Ok, vou dar uma de advogada da Lana aqui. Primeiro, sim, a apresentação no SNL foi ruim, nem de longe comparada às gravações de estúdio. Sua voz fraquejou em diversos momentos e a cantora parecia desconfortável. Mas gente, vamos dar um desconto! Todos estamos sujeitos a amarelarmos, eu mesma repeti a prova da autoescola duas vezes. Três. Existe um negócio chamado descontrole emocional, e é compreensível que ela possa ter ficado muito nervosa e isso tenha atrapalhado seu desempenho. A prova disso é que em outras perfomances, ao vivo, Lana foi muito bem. Aqui um exemplo:
Indo pra parte da acusação de falsidade… Mudar de nome, até Bob Dylan e Elton John mudaram. Infelizmente, música, hoje, é mercadoria e está muito atrelada à imagem (Lady Gaga, por exemplo, é uma personagem). Sendo assim, não duvido que tenha acontecido uma repaginada no visual e que seu estilo tenha sido moldado. Não penso, no entanto, que tudo deve ser levado tão a sério. Ok, e se Lana Del Rey é uma criação? Isso não diminui seu mérito. E não me faz gostar menos de suas músicas. Sua voz não me causa menos arrepios por causa disso. Sim, alguns podem considerar a vibe anos 50/60 um pouco demais, e os clipes de Videogames e Summertime Sadness são recheados de filtros estilo instagram, mas pelo menos é algo diferente do que estamos acostumados. Ou o que é bom mesmo no universo pop é Rihanna e Katy Perry?
Lana del Rey é uma sensação mundial por apresentar-se como novidade, e uma novidade boa. Seu disco não é maravilhoso como um todo, há muita repetição de temas, mas a maioria das músicas são de qualidade, destacando-se Videogames, Born to Die, Blue Jeans e Carmen. Lana ainda é nova. É preciso, sim, tempo pra amadurecer musicalmente, porque talento pra se consolidar ela tem.
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