Leitura é liberdade

Analfabetismo Funcional terça-feira, 29 de junho de 2010

 Não há dúvidas de que os cidadãos dos países chamados “desenvolvidos” (Ou de “primeiro mundo”, enfim, países onde se tem boa qualidade de vida) são, em geral, grandes leitores. E há uma relação direta entre qualidade de vida e valorização da leitura. O bom-senso explica e as estatísticas comprovam. Estima-se que o brasileiro lê 1,3 livro por ANO, enquanto nos países desenvolvidos a média ultrapassa 10. Não quero dizer que o Brasil é o que é porque aqui não se valoriza a leitura, mas tal fato é um sintoma que integra um círculo vicioso que se arrasta secularmente.

A desvalorização da educação e da cultura nos fez esse país onde as oligarquias se revezam no poder com a legitimação da democracia, exercida por uma população maciçamente ignorante e facilmente ludibriada. Não se deve forçar ninguém a ler, tampouco a gostar de ler. Tal hábito decorre da própria cultura de um povo. Quando se valoriza a educação e, consequentemente, o conhecimento, a leitura passa a ser encarada como um prazer, um momento de enriquecimento e engrandecimento pessoal, algo prazeroso. Quem lê tem cultura, informação, desenvolve o raciocínio, a memória, a oratória, escreve melhor, se distrai, se emociona, relaxa, viaja etc. A situação é realmente difícil: Mal temos um sistema de saúde e educação, e muitos vivem num estado de miséria – sobrevivendo graças ao bolsa-miséria dado pelo governo. Como, então, exigir que esse povo se importe em investir tempo e dinheiro em leitura?

Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley) e 1984 (George Orwell) são duas obras que representam magistralmente como a limitação de informações é um eficaz instrumento de dominação popular. Nesses livros, os autores mostram como os ditadores que estão no poder perpetuam-se nessa condição, através do controle da informação, incluindo-se aí jornais, revistas, livros científicos, históricos, ficções e tudo que possa de alguma forma alimentar a mobilização social contra uma situação de subjugamento.

Assim sustenta-se o ciclo vicioso. O povo mal tem acesso ao essencial à sobrevivência, e educação fica em segundo plano. O problema fica feio quando vemos que aqueles que estão em boas condições financeiras e sociais também pouco se importam com cultura/educação/conhecimento. No Brasil, vê-se claramente que mesmo a chamada “elite intelecutal” – que curiosamente coincide com a “elite financeira” – não parece dar o valor que a leitura merece. Só a título de exemplo, basta ver a dificuldade que pequenas livrarias tem tido para sobreviver em meio às grandes megastores.

Contudo, parece que as coisas estão melhorando, a passos lentos, diga-se. Basta ir a uma estação de metrô em São Paulo, por exemplo, e perceber que várias pessoas lêem durante seu trajeto, além de quiosques e máquinas que vendem livros. A esperança é que essa nova geração de leitores de Harry Potter, Crepúsculo e afins, propague o prazer da leitura e nossa realidade continue mudando. Os clássicos parecem estar sendo re-valorizados com os constantes relançamentos. Espero que a propagação dos blogs e sites como esse também contribua para o nascimento do prazer da leitura e pelo consumo de informação no nosso país tropical e cheio de distrações. Libertemo-nos! Enfim, divago…

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