A revista ViceLand, conhecida mundialmente, acaba de ganhar sua versão brasileira, com estréia em junho.
Para quem não conhece, a Vice é uma revista de atualidades, moda, design e música, distribuída gratuitamente em centros culturais e casas de show, conhecida por seu humor ácido, seu conteúdo duvidoso e suas matérias politicamente incorretas.
Recentemente, uma coleção temática foi encomendada para certos autores contemporâneos de diferentes países: que cada um deles reescrevesse, à sua maneira e à sua escolha, um importante mito da cultura ocidental.
Essa coleção foi editada no Brasil pela Cia das Letras com o simples nome de Mitos.
Além de novas versões para Sansão e Odisséia, encontramos esta fabulosa obra: O Elmo do Horror, escrita pelo russo Victor Pelevin, reinventa o mito de Teseu e o Labirinto do Minotauro.
Mais do que isso, ele dá uma profundidade muito maior ao conceito de labirinto dentro do imaginário popular e ao próprio papel da mitologia dentro da cultura ocidental.
Eu já li algumas coisas muito estranhas. Estranhas mesmo. Se vocês acompanham isso, devem se lembrar de algumas.
Alguém se esqueceu do Crash, que contava sobre um grupo de pervertidos, sexualmente atraídos por batidas de carro?
Coisas desse tipo sempre fizeram parte da minha predileção literária.
No entanto, Minha Idéia De Diversão é um tanto quanto diferente. Talvez seja a primeira vez em anos em que eu me sinto verdadeiramente incomodado com as cenas que tenho lido nesse livro. Talvez pela riqueza de detalhes – Will Self tem uma incrível linguagem descritiva, rica em metáforas e comparações -, talvez seja porque a história é Realmente estranha, e até agora eu não sei exatamente se eu realmente entendi tudo. continue lendo »
Imagine um distinto cidadão. Seu nome poderia ser algo entre Arnaldo e Jair.
Como todo distinto cidadão, ele tem um bom emprego burocrático numa boa firma burocrática, uma boa mulher dona de casa e dois bons filhos com boa educação em um bom colégio particular.
Sua idade pode ser, caso vocês queiram, por volta dos 28 e 34 anos.
Facilitando, o proclamo com 31 anos, casado há 12 e pai há 9. continue lendo »
Pois é, mais uma daquelas loucuras habituais, que vocês já estão começando a se acostumar em me ver chamando de geniais.
No entanto, por mais que vocês não tenham gostado de nada que eu indiquei até agora, duvido que vocês não se sintam atingidos, de alguma forma, por este livro.
Matadouro 5 é uma história trágica escrita de forma hilariante. Ou poderia dizer uma história hilariante escrita de forma trágica. continue lendo »
Resolvi contar algo que vivi durante minha passagem pela Ásia.
Alguns amigos íntimos já sabem, mas vale a pena repetir que estudei durante cinco anos em um colégio interno na Índia. Na época meu pai era um empresário gorducho e metido da Embraer (isso foi logo antes dele ser acusado de desviar dinheiro e iniciar a decadência da minha família que terminaria com esse mesmo gorducho, agora 10 quilos mais magro, pendurado na cristaleira da sala com uma corda em volta do pescoço); portanto viagens eram freqüentes. continue lendo »
Muito se fala de V de Vingança. Muito se fala (agora principalmente com o filme) de Watchmen.
Inegavelmente, são as duas obras mais conhecidas de Alan Moore e aquelas que o tornaram mundialmente consagrado no mundo dos quadrinhos e, por que não, na literatura.
Alguns fãs admiram seu trabalho mais recente em Lost Girls e relembram a genialidade de A Piada Mortal.
Mas poucos falam de Do Inferno. Por quê?
Por conta da péssima adaptação hollywoodiana?
Por ser um tema menos popular aqui no Brasil? continue lendo »
Trata-se de uma resenha e de uma crítica.
Iniciada no dia 23/04, está sendo apresentada no Sesc da Vila Mariana a exposição Em Torno de Will Eisner, com curadoria de Álvaro de Moya.
A mostra, que dura até o dia 26/04, conta com material autografado, capas originais e conta um pouco da história do principal pioneiro na criação das histórias em quadrinho modernas, com destaque para as Graphic Novels.
Caso sua mente precise ser refrescada, sua criação mais famosa acaba de ganhar uma adaptação chula para o cinema: The Spirit.
Will Eisner pode ser considerado, sem sombra de dúvidas, como o criador das Graphic Novels (Novelas Gráficas, em tradução literal) – de modo completamente natural, ao ser questionado por seu editor “what the heck is that?”.
Ele falava de Um Contrato com Deus, considerada historicamente a primeira obra do gênero, e só havia uma resposta à pergunta:
– It’s a Graphic Novel!
No entanto, apesar da importância histórica de Will Eisner para a história da Nona Arte, o Sesc Vila Mariana decepciona Muito pelo espaço destinado à exposição.
Montada no meio de uma sala de convivência, você é obrigado a passar por sofás e mesinhas para acompanhar a parede onde estão montados os cartazes, capas e documentos de Eisner.
Não só isso, como o acervo completo ocupa simplesmente uma parede.
Não só isso, há um estúdio de ensaio para bandas do outro lado da parede, exatamente onde está colocada a televisão com a gravação da entrevista com Álvaro de Moya. Você simplesmente não ouve nada.
Não só isso, metade do acervo é formado por cartinhas entre Eisner e Álvaro de Moya, numa clara demonstração egocêntrica do curador em demonstrar “oh! eu o conheci pessoalmente! fomos amigos!”
Patético.
Ainda assim, a exposição vale a pena para os fãs de quadrinhos em geral e para os interessados em design gráfico – as antigas capas, especialmente as de Spirit, surpreendem pela inventividade.
Fica a dica.
Mas acaba dia 26 agora.
E para quem se interessar: The Spirit
Eu peso trinta e seis quilos.
No entanto, sou alto. Meço exatamente um metro e oitenta e dois centímetros. Minha garra ossuda fecha-se com força em volta do pescoço de mais uma puta. Ela chora baixinho, mas os mamilos permanecem endurecidos.
Eu a levanto pelo pescoço com facilidade e a deposito gentilmente em meu estômago. O buraco em meu tórax mastiga feliz a carne macia e eu gozo.
A mão esquerda rapidamente procura o pacote de cocaína no chão. Ele é jogado com pressa pra dentro de minha cavidade, juntamente com um punhado de latas de cerveja, e eu entro em êxtase. Prazer.
Incontáveis unhas já quebrei, sentado nesse trono de madeira, arranhando de prazer, arranhando de fome. Fome. O meu estômago ronca, está vazio. Sempre. O buraco arreganha os dentes, mastigando o nada e pode-se ver a garganta secando, enrolando-se, espremendo-se. Sede.
Levanto-me. Os joelhos estalam sob um peso negativo, metafísico, e o suco gástrico escorre da boca de meu estômago. Meus olhos estão injetados. Agarro a Europa com minhas garras e a enfio buraco adentro. Sento-me nas rochas de um oceano vazio, exatamente onde antes era Dresden.
Estico a mão para alcançar a África, mas desisto. Só um pouco da Somália me fará feliz. E talvez algumas guerras étnicas no Congo. Todos triturados pelos dentes de meu estômago, a boca da barriga babando de prazer e mais fome, a língua reptiliana estalando. Fome.
Meus velhos amigos tornaram-se somente alguns incômodos pedaços de carne presos entre os dentes. Devoro os novos lentamente, saboreando o gosto do desconhecido.
Desinteresso-me depois de mastigar metade de suas cabeças, mas termino a refeição por educação. Tédio.
Um sagaz observador, antenado nas velhas e novas tendências das lendas morais, poderia visualizar o final de minha história: eu acabo por devorar a mim mesmo, arrancando pedaço por pedaço.
Sinto muito. A falta de três dedos de minha mão esquerda marcam a tentativa falha, o gosto ruim e podre ainda atormenta o fundo da língua chicoteante da boca de meu estômago.
Eu continuo aqui. Arranhando. Comendo. Bebendo. Cheirando. Gozando. E querendo mais.
Mais.