Havia por volta de 250 pessoas enfileiradas naquela praia. A paisagem não interessa, mas elas vestiam trapos purulentos e fediam como mendigos.
Esperavam há duas horas e ainda não havia começado.
Ele também já esperava há duas horas. A última palavra digitada, “começado”, era uma ironia e uma demonstração de seu fracasso como escritor.
Não que não soubesse como escrever: tinha uma técnica perfeita, sabia brincar com as palavras, movê-las como se dançassem no papel. Simplesmente não sabia sobre O QUE escrever.
Já ele esperava há uns 5 minutos. A última palavra digitada, “escrever”, só tinha sentido em sua ausência.
Não é que não soubesse como: tinha uma ótima técnica, sabia brincar com as palavras, movê-las como se fossem gotas de cuspe. Também não era uma questão de não saber sobre o que escrever. Simplesmente perdeu a vontade…
Pois é.
Essa deveria ser, mais ou menos, uma coluna sobre literatura.
Aqui, em duas sextas de cada mês, você deveria se deliciar com uma resenha sobre algo que Vale a Pena ser Lido (aliás, que Realmente Vale a Pena Ser Lido) ou aproveitar um de meus pequenos contos, cujo gosto alguns podem achar duvidoso. continue lendo »
Pois é, minha gente.
Uma de nossas melhores escritoras, se não for a melhor, acaba de ganhar Mais Uma Biografia, desta vez publicada aqui no Brasil pela Cosac Naify.
Você, leitor assíduo e fã de Clarice Lispector (Que eu tenho certeza que você é), pode primeiramente pensar que estamos falando do mesmo blá blá blá de sempre.
Aquela coisa toda de família ucraniana refugiada aqui no Brasil, casamento com diplomata, vida de dona de casa, câncer e fim. continue lendo »
Antes de mais nada, devo dizer que só li esse livro por dois motivos básicos: Primeiro, foi que eu ganhei ele de grátis, logo depois de ver o filme. Segundo, porque eu não tinha o que fazer e peguei o livro pra ler. Mas não é tão ruim quanto parece. E não tem muito a ver com o filme, também.
Mesmo depois de terminar com perfeição a história do volume anterior, Os Homens que Não Amavam as Mulheres, esse segundo volume da série não deixa a desejar em nada, apesar de alguns problemas que ele tem, mas isso vou falar mais à frente. continue lendo »
Perdi o último trem da noite. Desci correndo as escadas da estação e ele já acelerava e guinchava pelos trilhos de ferro.
De repente senti Medo. As luzes frias piscavam, a estação tremia com o movimento do trem se afastando.
Por algum motivo eu não gritei. Sentia vontade de passar por aquela pequena porta eletrônica, com metade da minha altura, que dava acesso aos trilhos. Biquei a trava e engatinhei pela passagem, entrando num pequeno corredor de concreto, medindo uns dois metros de altura e vinte de comprimento. No final, podia ver uma porta de madeira gasta, uma placa de aço na porta, como a indicação de algum gabinete.
Me aproximei. “Fevereiro”. Girei a maçaneta antiga de trinco e entrei.
Um amplo corredor, as mesmas luzes frias, em menor quantidade, piscavam, impedindo que eu visse o comprimento do lugar. Nas paredes laterais, altas prateleiras, com uma infinidade de pequenas caixas estreitas, coloridas. Conseguia ouvir pequenos guinchos de ferro ecoando.
Andei, imaginando haver alguma passagem no final do corredor.
Ao fim das prateleiras, encontrei uma bifurcação.
Sempre estive vivendo no Agora. Numa era de velocidade crescente, a única presença do futuro é a Aposentadoria Privada & a Pressão Familiar para um casamento. Claro que minha família é antiquada. Conheço casos em que só há aposentadoria. A velocidade dos trens, das motos e das pessoas pelas passarelas suspensas era a Velocidade de meus batimentos cardíacos, do ar entrando pelo meu corpo, o próprio ritmo de minhas células morrendo e se separando em mitoses infinitas.
Ao fim de cada bifurcação, o início de um novo corredor de prateleiras. À esquerda e à direita, o fim de outras prateleiras, indicando outras bifurcações. Algumas escadas que levavam a níveis superiores exatamente iguais aos anteriores, com luzes frias piscando e pulsando ao ritmo distante dos guinchos de ferro. Tinha um cheiro de Passado, onde eu não sentia o ritmo frenético do ar e a passagem rápida do Tempo.
Afirmam que a culpa é dos Celulares, Rádios, Televisões e Internet. Algo a ver com uma ressonância permanente na Terra, que aumenta vertiginosamente de acordo com a Interferência. Num labirinto catalogado, onde embrulhos nunca iguais desfilavam pelos meus olhos, todas as ressonâncias Congelavam, todas as mitoses Congelavam, todos os cheiros e cores e respirações Congelavam. Encontrei a Paz.
Primeiro volume da trilogia Millenius, de Stieg Larsson, um autor que eu ja falei a algumas semanas atrás, nessa coluna. Mas digo uma coisa. Ignore o que diz a orelha do livro, ignore as críticas citadas na contracapa, ignore ainda o nome dos capitulos, ignore, se preferir, até o que irei escrever aqui, pois o livro é bem mais do que parece ser. continue lendo »
Estava a pouco olhando o Skoob e percebendo que aquilo lá estava mais morto do que essa coluna, então, para matar dois coelhos com uma caixa d’agua, vou falar dele aqui hoje. Pelo menos uma parte dele.
Ano passado, rolou pela internet a lenda de um artista porto-riquenho (A saber, Guillermo Habacuc Vargas) que, como obra de arte, havia exposto um cachorro vivo, amarrado a uma corda, no meio de uma bienal.
Escrito com comida de cachorro, colada na parede atrás do animal, aparecia a frase “Você é o que você lê” e o cão, teria, teoricamente, ficado preso até morrer de fome.
Ignorando a crítica à crueldade do autor (Blá blá blá, direitos dos animais etc), a idéia de se ter a morte exibida para milhares de espectadores é algo deveras tentador, especialmente num ambiente “limpo”, “elevado” e “enriquecedor”, como uma bienal de arte.
Além disso, o artista afirma que, apesar dos inúmeros protestos virtuais, nenhum dos visitantes do evento fez Qualquer esforço para alimentar ou soltar o animal. continue lendo »
Chegou terça feira, dia 14/09, às melhores livrarias o novo livro de Dan Brown, The Lost Symbol.
Ainda não tive tempo de dar uma folheada, mas a obra apresenta, novamente e obviamente, nosso querido professor Robert Langdon em mais um mistério envolvendo segredos antigos e organizações secretas.
A diferença, porém, é que o autor parece ter se inspirado em algumas séries americanas de sucesso, já que toda a ação se passa em apenas 12 horas da vida do protagonista. continue lendo »