Ler um livro ruim já é martírio suficiente para um leitor compulsivo que termina tudo o que começa. Mas por incrível que pareça, há outras coisas que podem fazer um leitor sofrer. Essas são as torturas literárias, coisas tão malignas e cruéis que me deixam sem palavras, mas que vou tentar arranjar algumas para descrever isso para vocês.
Existem vários tipos de atitudes que podem fazer o mais sensível chegar aos limites. Uma dessas atitudes é usar livros de apoio para aquela mesa que está meio bamba. Dependendo da mesa, o dano que o livro toma é extremo, muitas vezes o deixando desfigurado, com partes faltando e inutilizado para futuras leituras permanentemente, uma desgraça total. Exagero, eu sei, mas é a verdade.
Outra que já é ruim, mas não chega a ser tão cruel assim é o ato de dobrar a página para marcar onde parou. Sou da seguinte opinião: “Qualquer coisa pode ser usada como marca-páginas”. Nisso, já usei folhetos, papéis de bala, palitos, folhas, pedaços de plástico, entre outras coisas que podem ser consideradas lixo. Logo, NÃO HÍ JUSTIFICATIVA PARA DOBRAR A MALDITA PÍGINA! Quando vejo isso em livros antigos na biblioteca, chego a ter pena do livro, mas o que está feito, está feito.
Riscar trechos interessantes é legal quando feito com um lápis. 4B ou 6B são bons números de lápis para marcações. São fáceis de se apagar e não danificam as páginas. Logo, virar uma página e dar de cara com ela quase toda pintada de verde limão, laranja-ataque nuclear ou vermelho sangue florescente é algo que me deixa com a cara com um misto de confusão, raiva e pena, porque aquilo nunca mais irá sair dali, ficando sempre em suas páginas até o fim dos tempos. Olha o exagero aí de novo. Um lápis e borracha são tão caros assim?!?
Existem muitas outras atitudes que podem ferir a integridade de um livro. Usar ele de alvo para facas, esquecer na chuva, deixar ele aberto virado para baixo, tudo isso são coisas que não irei mais falar aqui porque são muito ruins só de pensar; imagine de falar delas. Talvez em outra oportunidade, quem sabe. Pra finalizar, uma das poucas torturas que foram feitas comigo, que testaram minha força de vontade quase que até o limite. Chego em casa e meu irmão logo começa:
-Carlos, não imagina o que eu vi hoje quando estava vindo de casa, quando passo pela rotatória. Sabe o que tinha lá?
-Nem imagino, está certo. O que era?
-Tinha um livro! Vi ele ali, com os carros passando por cima, fazendo ele abrir e as páginas ficarem balançando no vento!
Nessa parte, ele levanta os braços e simula o movimento das páginas, balançando os braços de um lado para outro, para ilustrar o movimento do livro, enquanto fala “fiuuuuu”
– E você não pegou ele para mim?
– Tá louco? Os carros estavam muito rápidos e eu não iria parar por UM livro, ainda mais um que ficava balançando…
E repete o movimento.
Nessa hora, penso em ir até lá, mas já era tarde. Isso que le me contou foi ás 18 horas, muito tempo havia passado para que eu fizesse algo que pudesse salvá-lo. Descanse em paz, livro desconhecido.
Porque a vontade de ler algo ruim sempre nos impulsiona até o final de um livro? Atualmente, estou lendo dois livros. Um deles, estou lendo aos poucos para que dure o máximo possível, para aproveitar bem cada palavra, cena, capítulo, tudo. Já o outro é outra história. O comprei em uma daquelas lojas que vendem livros novos com preço mais em conta e só paguei por ele porque a a editora era uma que, pelo que eu conhecia, só publicava livros foda. Levei ele pra casa com essa idéia na cabeça, começando a ler no ônibus mesmo.
Bem, isso já tem 3 meses que aconteceu. Até agora, não consegui avançar mais do que 100 páginas, mas uma coisa sempre me leva a continuar não importa quantas vezes eu durma no meio da leitura dele, algo que nunca aconteceu antes.
Mas a questão aqui é a seguinte: Porque continuamos a ler livros, mesmo eles sendo uma porcaria completa?
Não sei quanto a vocês, mas se eu decido começar um livro, eu não paro de ler até o final, mesmo que aquilo acabe com toda a minha paciência. Saber que aquilo é uma bosta me motiva a fechar o livro e desistir de ler ali mesmo, mas um dos princípios que tenho, o de nunca desistir, me impede de parar ali mesmo. Poucas as vezes o venci, mas isso não vem ao caso.
Isso é só com livros ruins, a raiva que sentimos ao ler eles só não é superada pela consciência, culpada por ter feito a escolha daquilo. Já com livros bons, o que acaba impedindo a leitura rápida?
Acredito que seja exatamente o contrário que nos impulsiona a terminar algo ruim. Ler algo agradável, algo que faz a gente se sentir bem nos dá a vontade de fazer com que aquilo dure o maior tempo possível para que aquela sensação de felicidade seja estendida semanas a fio, dependendo do número de páginas do ser que estamos falando aqui.
Reler pode ser uma boa, mas e quando essa possibilidade é impossível? Livros emprestados, pegos da biblioteca, por exemplo. A chance de os vermos novamente para reler é algo que pode nunca acontecer, sei lá como são esses lugares nessa sua cidade, mas aqui em Curitiba eu nunca consegui pegar um livro de novo para reler. Ou estava desaparecido, com outra pessoas, ou perdido entre outros tantos mil livros em uma mesa desorganizada.
Mas o final, a parte mais importante de todos os livros, sempre é algo que merece destaque. Chegar até ele é algo que exige trilhar um longo caminho, frases que muitas vezes parecem não fazer sentido, nos forçando a reler certas partes; mas a vontade de ter o final ali, o desfecho de tudo aquilo que foi ou bom de se ler ou algo que praticamente foi sua fonte de tédio durante semanas faz com que a raiva sentida seja esquecida se o final for de acordo com o esperado, ou faz com que a felicidade de chegar até ali seja totalmente jogada fora com um desfecho completamente idiota. Como o dessa coluna, que termino aqui, agora.
John Rain, personagem do Autor Barry Eisler volta para mais uma nova aventura. Escrever isso aqui, para mim é estranho, porque eu não conhecia o autor nem o personagem, mas desde já virei fã. Não espere uma critica imparcial aqui, ok?
John rain é um assassino profissional. Cuidadoso, atento, mortal. Seus métodos de matar são efetivos e sua maneira de agir é o que manteve ele vivo até hoje. Mas tudo isso pode acabar, quando a informação de que Midori, uma mulher que ele havia conhecido alguns anos antes, tem um filho dele.
Indeciso entre deixar tudo para trás e se dedicar a seu filho, ele resolve fechar todas as portas que poderiam impedir seu fim de carreira.
Mas como nada é perfeito, na cola de Midori está um político, chefe de alguma daquelas facções japonesas que nunca lembro o nome, que está com ela sob observação, só esperando ele se aproximar…
E acredite, ele se aproxima.
Isso é um bom resumo do livro, mas isso não diz metade do que acontece nele. Como deixar de falar de Dox e seu humor um pouco deslocado para um atirador de elite? E Delilah com suas habilidades tão boas ou superiores a de John Rain?
Eu, como um aficcionado por objetos cortantes como facas e espadas, descobri umas boas coisas sobre esses objetos tão interessantes. Além de ter especificações de modelos das armas, o livro é bem dedicado a explicar um pouco de técnicas com elas, locais para esconder, enfim, tudo que pode servir algum dia se você pretende esconder uma faca ou alguma outra coisa.
O personagem é protagonista de outros livros, dos quais agora me dedicarei a ir atrás para ter mais informações e para quem sabe, ser que nem ele quando crescer…
Mentira, nem quero ser.
O último Assassino
The Last Assassin Ano de Edição: Estados Unidos: 2006/ Brasil: 2008 Autor: Barry Eisler Número de Páginas: 292 Editora:Rocco
O que leva alguém a escreve um livro? Dinheiro? Duvido muito, o mundo editorial não é o melhor caminho pra ganhar dinheiro, ele é cruel demais com os autores, dando pouca margem de lucro sobre cada volume vendido. Se for pra ganhar algum trocado com livros, não seja um autor. Seja um editor, o cara da gráfica, revisor, qualquer coisa, mas cada um, cada um…
Fama? Já viu aqueles sites de fofocas de famosos? Me diga uma notícia falando sobre um autor de livros que foi a uma festa e pegou a Cameron Dias ou a René Zellweger por exemplo. Ou pelo menos alguma notícia negativa, do estilo de que tal autor foi pego no banco de trás de um carro comendo um travesti ou preso estuprando uma mulher? É claro, se o autor for aqueles ex-presidiários, a segunda opção acima está fora de cogitação. Ou quem sabe, um padre preso por pedofilia… Deixa pra lá, vamos em frente, antes que eu me perca.
Reconhecimento? “Ele é o melhor autor que eu conheço”, diz a mãe dele. Autores tem um lado anti-social meio psicótico, que isola ele de tudo que acontece a sua volta, o focando apenas em seu objetivo, que é terminar apenas aquele livro, capítulo ou página, depende muito do que ele escreve. Então, reconhecimento está excluído também. Vide a fama acima pra mais detalhes.
Se não é por nada disso, o que sobra? Sabe aquela frase que todo mundo ouve pelo menos umas… 100 vezes na vida? “Todo homem deve ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro”.
Alguns tem uma penca de filhos, achando que isso irá compensar os outros fatos. Outros se tornam ecologistas pentelhos, vegetarianos estranhos, ou simplesmente gente que abraça árvores para que não as cortem, achando que isso também irá compensar o fato do livro. Mas digo uma coisa: FODA-SE, o que tem de mais fácil e muitos morrem sem nem ao menos tentar?
Escrever um livro antes de tudo, é deixar sua marca aqui no planeta. Írvores, nascem, crescem e morrem, vegetarianos são usados de ração para vacas que irão para o abate, mas só um livro é marca suficiente que pode ultrapassar as barreiras do tempo, se ele for bom o suficiente, é claro. Viver tempo suficiente pra escrever um livro também é algo bem variado para muitas pessoas. Você pode ser que nem o autor de Eragon, que tinha a história desde seus 15 anos se desenvolvendo na mente. Autores com idades avançadas tem aos montes por aí, tempo suficiente para a história amadurecer na mente de cada um deles e passar pro papel de maneira que eu poderia chamar de perfeita. Dá pra perceber quando uma história foi escrita de maneira que cada palavra foi o resultado de esforço e de um grande tempo do autor.
E pra que isso tudo? Por causa da tríplice frase citada logo acima e que vou repetir aqui de novo porque eu sou chato: “Todo homem deve ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro”. Então, seu NOOB, escreve esse maldito livro e deixa ali, no canto de sua gaveta, só esperando o momento certo pra publicar. Se não achar o momento certo, tem uma grande seqüência de acontecimentos que pode fazer com que isso apareça depois de sua morte:
Depois que seu caixão for fechado, seu filho começa a limpar suas coisas. Ele encontra esse seu manuscrito, o lê debaixo daquela árvore que seu pai tinha plantado durante a infância dele e que faz com que ele lembre dos bons momentos. Se você não foi um pai filho da puta, que usava os galhos dessa mesma árvore para encher seu filho de cacetadas, a chance de ele divulgar seu livro depois da morte é uma grande possibilidade. Então aproveita, a vida é curta e daqui a 100 anos, se alguém ainda se lembrar de você e se ainda tiver algo no seu caixão, você poderá se sentir realizado.
Até semana que vem e acho que estou bêbado.
Falar com outros leitores são momentos que merecem destaque. Primeiro de tudo, juntar pessoas que conhecem literatura o suficiente para falar sobre isso é muito difícil, como se fosse vergonhoso ler. Depende muito do tipo de livros preferidos mas isso não vem ao caso.
mas voltemos ao que interessa, como se eu não fosse me perder de novo em breve. Juntar um grupo sociável o suficiente já é algo difícil, mas vale a pena. Pode ser em um bar, numa praça ou onde for, falar de livros com alguém é algo que rende muito, nem que seja recomendações e promessas de empréstimos. De qualquer forma, vamos ao que interessa, que já enrolei demais.
Esse fim de semana presenciei um desses encontros espontâneos, que acontecem sem que ninguém combine, em um lugar que onde o que se menos espera é falar sobre literatura. Primeiro de tudo, uma sala em uma casa fez com que um dos caras falasse sobre a sua sala dos sonhos, que seria mais ou menos como a daquele cara, cheia de pôsteres, TV de plasma e DVD’s de bandas, coisas assim que todo fã de música é praticamente apaixonado. Depois de discutir sobre o tipo da sala, o que teria na sala de cada um de nós, eu falo sobre que a minha seria uma biblioteca com livros até o teto, cheia de prateleiras e poltronas, uma biblioteca perfeita.
Qual foi minha surpresa ao ver que todos eles tinham a mesma idéia, só que essa seria sua segunda sala perfeita, não a sua primeira escolha como seria a minha. Depois disso, uma pequena discussão sobre tipos de livros, os preferidos, os que seriam banidos da face da terra, aqueles que valem a pena e tudo o mais. Mas sabe-se lá o motivo, acabou por aí e falamos de outras coisas. Mais tarde, depois que todo mundo estava meio alto, adaptações de filmes e quadrinhos entrou em pauta, uma beleza. Depois de discutir tudo o que está em cartaz atualmente, o foco foi passado pra estilos de adaptações, o que deu certo, o que deu errado e se o que vem por aí será válido do preço de ingresso e tudo o mais.
Agora, a questão principal: PORQUE DIABOS ESTOU CONTANDO ISSO PRA VOCÊS?!?
Sei lá, falar sobre mim nessas colunas é algo que não acontece muito, mas serve pra mudar um pouco a impressão de que sou um nerd fanático por livros. Sou até, mas isso não me impede de fazer tudo como outras pessoas.
Depois de falar isso que não fez sentido nenhum, vamos em frente. Os poucos outros leitores que conheci antes disso se encaixavam no estereótipo de que acredito que muitos tem na mente, que é daquele cara que fica só lendo, não faz nada além disso. É uma pequena variação de um otaku, que só assiste anime e mangá, com a diferença de que ele é mais inteligente que um otaku e menos sociável. Depois do dia da toalha, onde conheci pessoas que compartilham praticamente os mesmos gostos literários, acabei entrando em contato com pessoas que são muito diferentes dessa aparência que citei acima. Pessoas legais, acima de tudo.
Mas novamente estou entrando em fatos de minha vida, algo que não interessa nada a vocês. Reuniões literárias podem ser feitas em vários lugares. Livrarias em shoppings tem seus espaços pra isso, onde as vezes alguns especialistas vão discutir sobre alguns livros, tornando o local um dos melhores pra conhecer essas pessoas, além de ser um bom lugar para arranjar comida de graça e talvez uma bebida na faixa, se for o caso de você ser uma esponja de álcool.
E agora, eu poderia finalizar com alguma idéia pra que leitores se encontrem e tudo o mais, mas não adianta nada. Não depende de mim fazer com que todo mundo saia de seu buraco e vá atrás de alguém pra conversar. Então termino por aqui, antes que eu acabe mais deprimido do que já estou.
Livros que contam histórias de mortos e fantasmas existem por aí aos montes, mas entre todos esses, é difícil achar um que presta. Esse aqui que irei falar um pouco agora é um pouco diferente, pois a história que ele conta é narrada por um fantasma.
Tudo começa com uma morte, a morte de Bibi Chen, uma especialista em antigüidades, poucos dias antes de partir em uma viagem para um lugar chamado Birmânia. Mas apesar de ela estar morta, isso não significa que ela não irá nessa viagem junto de seus amigos. A história toda é contada pelos olhos de Bibi Chen, que com uma visão irônica e bem-humorada dos fatos descreve seus amigos, partes da viagem, seus planejamentos e de como eles são estragados durante o trajeto, conta um pouco de seu passado e as interações de cada um de seus amigos entre eles, que apesar de se conhecerem a algum tempo, nessa viagem mostram um traço de suas personalidades que nunca tinha tomado a atenção dela quando estava viva. Com alguns… poderes que só fantasmas ou seres desencarnados possuem, ela revela muito mais do que os próprios amigos sabem de si mesmos, uma beleza.
O livro é meio longo (444 páginas) mas a leitura é leve, flui de maneira suave e com facilidade. Apesar de ter algumas palavras difíceis de entender, como a parte das rezas dos Zertosiôs, não oferece dificuldades, nada que um pouco de costume não facilite a leitura ainda mais.
Pra terminar, só um aviso: Apesar de ser um livro longo, os fatos e descrições que ele tem se assemelham muito a livros de turismo ou históricos, dando muita ênfase a descrições de paisagens e ambientas. Se você não é chegado a isso, pode ser que o livro não seja lá tão legal para você.
as Redes da Ilusão
Saving Fish From Drowning Ano de Edição: Estados Unidos: 2005 / Brasil: 2008 Autor: Amy Tan Número de Páginas: 444 Editora:Editora Rocco
Uns dias atrás estive andando pelas sebos da cidade, estava folheando uns livros do balcão de descontos (entenda “5 livros por 3 reais”) e não pude de deixar de notar uma coisa. Todos aqueles livros tinham algo entre suas páginas, pelo menos a maioria deles.
Antes de começar a falar sobre isso, quero explicar que colocar coisas no meio de livros é algo comum quando se tem mais livros do que calças, algo que é uma verdade no meu caso. Enfim, no meio de meus livros guardo de tudo: Bilhetes, anotações, dinheiro e aquelas fitas que dão nos matsuris que dizem dar sorte. Estão perdidas no meio deles até hoje, apesar de ter que queimar elas para que dêem a tal da sorte. Então ver essas coisas entre as páginas dos livros pra mim é comum, acharia estranho até se não tivesse nada em algum livro que pudesse servir de marcador de páginas na falta de um.
Explicado isso, vamos voltar aos livros do tal balcão de descontos. Entre suas páginas, achei uma grande coleção de flores, pétalas de rosas, folhas de árvores, agulhas de pinheiro e outros exemplares da fauna e flora Brasileira.
Entre as páginas sabe-se lá quanto tempo, eles já tinham se incorporado a elas, praticamente ficando um pouco mais grossos que as páginas do livro e com uma resistência igual a de papel de seda.
Não comprei esses livros (Diana, Sabrina e outros livros melosos com histórias pouco mais profundas que um pires), mas isso me fez pensar na infinidade de pessoas que tornam seus livros caixões para esses objetos, os tornando para sempre um pedaço daquele livro. Ou até que o primeiro o retire dali e o jogue no lixo, vai saber…
Com essa idéia na cabeça, fui dar uma olhada nos livros que não me pertencem aqui em casa (Bíblia, Agendas, A Cura Pelas Plantas, esses livros que tem em quase todas as casas) e constatei que todos eles tinham algo parecido dentro deles. Pedaços de arruda, pétalas de rosa, sementes de laranja e maçã, um verdadeiro arsenal de produtos naturais.
Só que aqui em casa, eu pude saber a origem de cada uma dessas coisas. As sementes são distrações, coisas jogadas só pra marcar uma página e esquecidas ali. O galho de arruda é um negócio pra afastar mal olhado e aquele galho em específico é detentor de uma história da família que não vem ao caso aqui. Já as pétalas de rosas foram de um velório de uma pessoa próxima da família, não perguntei mais nada quando soube de onde elas vieram.
O que posso tirar de tudo isso? Cada pedaço estranho dentro de um livro é um tipo de lembrança que aconteceu com o dono do livro. Sejam fotos, pedaços da natureza, mosquitos, bilhetes, papéis de bala, bombom ou coisas parecidas, tudo o que está no meio significa algo pra pessoa que era dona desse livro.
O que me faz pensar uma coisa aqui: Qual será a história por trás de cada um daqueles negócios que tinham nos livros do balcão de descontos? Se for tomar como base os títulos de cada livro, posso acabar pensando que tudo aquilo são lembranças de decepções sexuais e de ex-namorados que a (presumo que seja uma mulher) abandonaram. Mas isso são só especulações, não sou pago pra criar histórias com base nisso, então vou arquivar essa inspiração pra outro momento. Fico por aqui, deixando um pacote de balas 7 belo no meio de um volume de Eragon.
Estava aqui eu escrevendo um trecho de minha história, mais um daqueles capítulos que demoro um tempo pra pensar e algumas horas pra passar pro papel. Enquanto estava concentrado nessa tarefa, chega do meu lado meu irmão e pergunta por que eu estava escrevendo a lápis. Depois de explicar pra ele que aquela era a única maneira que eu conseguia escrever, ele vem com o papo de que minha letra é uma bosta, de que se ele fosse ler aquilo, esperaria a versão impressa.
Esse fato me fez pensar aqui em umas coisas. A maneira que alguém coloca suas idéias no papel alteram o sentido delas de alguma maneira?
Muitos escritores usam seus próprios sistemas de escrever suas histórias. Alguns recorrem a esqueletos, maneiras de colocar os fatos da história de uma maneira organizada, para caso seja necessária uma consulta a algum fato que aconteceu antes aquilo possa ser feito da maneira mais rápida possível. Já outros utilizam a maneira mais simples e que pode demorar mais, mas é a maneira preferida, adotada por mim: Escrever apenas enquanto as idéias aparecem. ás vezes, a história já está toda definida na cabeça do autor, só faltando alguns detalhes para que ela funcione realmente.
Mas isso são algumas maneiras de arrumar a estrutura da história, não é exatamente disso que quero falar. Estive lendo a algum tempo atrás O Apanhador de Sonhos de Stephen King e pelo que me lembro esse livro ele revela logo no início ou no final que foi escrito por ele enquanto se recuperava de um acidente, na cama de hospital, usando um bloco e canetas. Posso estar errado sobre o livro, mas tenho certeza que o autor é o certo. Quem já leu essa história, sabe que ela não tem nada de ruim, sendo uma das melhores histórias dele. Antes que existisse toda essa tecnologia, muitos autores conhecidos como Edgar Allan Poe, Charles Dickens ou ainda Julio Verne utilizavam essa maneira de escrever e nem por isso que suas histórias deixavam de ser lidas por todos os lugares. Se elas só foram lidas depois da morte deles, isso não vem ao caso ainda.
Mas mesmo assim, resolvi mudar minha maneira de escrever, fui atrás de uma maneira alternativa e que ainda assim que não me envergonhasse caso eu contasse pra alguém que eu escrevia dessa maneira. Fuçando alguns lugares escuros daqui de casa, encontrei uma máquina de escrever portátil. Com uma aparência de que não era usada a pelo menos uns 10 anos, a retirei de sua maleta e a coloquei na mesa, onde logo comecei a digitar algumas besteiras. Após algum tempo, mais ou menos uns 10 minutos, enchi uma sulfite e resolvi ler o que tinha escrito. Tinha ficado uma bosta. Escrever ali cortava toda a graça de pensar enquanto se desenha cada letra e não poder apagar fazia com que cada coisa que eu escrevesse se tornasse definitiva, como se eu não pudesse alterar, o que no fim de tudo era verdade, pois tudo que escrevi ficou ruim demais.
A máquina de escrever já é algo mais conhecido, ela facilitou muito que as histórias fossem passadas para o papel, mas também fez com que elas ficassem com um estilo diferente das escritas com canetas e lápis. Os autores que podem definir esse estilo de escrita são aqueles de mais ou menos 1975, uma época anterior a criação dos editores de texto, essa ferramenta tão estranha e usada hoje em dia. Mas antes, vamos a próxima parte da história.
Logo após decidir que uma máquina de escrever era algo muito ruim, resolvi tentar escrever no Word, porque bloco de notas é coisa pra escrever post em blog e e não sou blogueiro. Abro o programa, dou uma olhada em umas partes, configuração de fonte, essas frescuras, e após alguns minutos começo a escrever alguma coisa. A história que tinha aparecido em minha mente tinha como protagonista um filete de nuvem que eu tinha visto, então comecei a escrever tudo o que conseguia pensar. Depois de 30 minutos, eu tinha uma história completa, com início, meio e fim. Uma verdadeira… porcaria total. A maneira de escrever nos editores de texto fazem com que as idéias sejam passadas no papel da maneira mais rápida possível, sem que elas tenham aquele tempo para amadurecer na mente, para que elas realmente sejam boas e mereçam ocupar um espaço no papel.
Acredito que seja por esse motivo que temos centenas de livros de auto-ajuda e de histórias que no fim de tudo, só contam tramas sem sentido e que não adicionam nada as pessoas que a lêem. Se eu citasse autores que se encaixam nessa categoria, isso aqui ficaria muito mais longo do que já está, então, vamos a última parte da história.
Depois de passar por todos os estilos que eu tenho a mão pra escrever, voltei ao caderno. Ali, mesmo que minha letra seja feia, eu tenho a vantagem de poder escrever onde quiser, sem ter o risco de ser roubado, problemas com baterias e peso de um notebook ou uma máquina de escrever sempre comigo.
Escreverei a história no PC, mas só quando ela estiver finalizada, com todos os seu fatos e detalhes totalmente definidos no papel. Até lá, onde eu puder escrever as partes, eu o farei. Termino por aqui, com um lembrete: Destruir esperanças de uma ótima história não faz com que ela morra.
Esse é um dos fatores que tornam tão difícil a literatura ser conhecida fora dos locais de sempre, como bibliotecas, livrarias e sebos. Propagandas de livros são complicadas de se ver por aí porque o mesmo pessoal que deveria fazer as propagandas não tem nenhum contato com algum tipo de literatura. Vide aquelas celebridades que em entrevistas a revistas ruins falam que seus livros de cabeceira são a Bíblia e alguma coisa de Paulo Coelho. Acredito que eles só dizem isso por dois motivos que servem para os dois citados acima: Puxar o saco e parecer espirituoso.
Mas esse não é o caso aqui, não vou reclamar de Paulo Coelho e nem de Deus, há outros que sabem fazer isso melhor do que eu e com mais raiva do que posso demonstrar, então vamos seguir em frente com as propagandas em foco. Como se eu pudesse me manter em foco em algum assunto…
Ao contrário de cerveja e cigarro que tem seu público bem definido, livros não têm sua parcela da população tão a vista assim. Logo, investir nisso pode parecer desperdício para as editoras, que tem em mãos pouca verba já para a divulgação normal que fazem por aí, que envolve muitas vezes aqueles displays com foto da capa ou do autor. Mas fora isso, o máximo que já vi por aí foi aqueles cartazes que se cola em pontos de ônibus e que duram… sei lá, 40 segundos no lugar. Eu mesmo arranco eles pra guardar, mas sou eu, é claro. Outros vândalos menos cultos só arrancam pra limpar a bunda ou fazer lixo.
Propagandas em livrarias também são só para livros que tem garantias de retorno, o que eu acho algo bom, afinal, se o negócio vai fazer com que o investimento retorne, nada melhor do que gastar o que se encaixe com aquilo, não é? É só ver as obras de Dan Brown, que tem de tudo nesses lugares: marcadores, folhetos, e algumas vezes, até o primeiro capítulo do livro em alguns pequenos cadernos. Mas é claro, isso não quer dizer que o livro é realmente bom.
Outros livros que sempre têm destaque são aqueles dos quais seus autores vão a TV pra falar um pouco sobre o que escreveram, mas se não é um programa como o Jô Soares, onde a maioria das pessoas que vêem estão mais dormindo do que acordadas, a chance de o entrevistador fazer uma pergunta inteligente é perto de zero. Não que o Jô Soares faça perguntas inteligentes, mas enfim…
A única maneira que acredito que realmente funcione de divulgar um livro que não tem seu espaço garantido em vários pontos de distribuição são aquelas que dependem exclusivamente dos leitores. Propaganda boca-a-boca, emprestar o volume e ter a chance de nunca mais o ver, blogs e sites que têm seu espaço pra resenhas e para opiniões dos leitores, todos esses espaços são os que deveriam ser mais utilizados pelas próprias editoras, que normalmente tem em seu poder um bom material, mas que quase nunca chega ao público. Mas algumas devem achar esses lugares onde cada um coloca sua opinião um lugar perdido, pois muitas vezes esses mesmos lugares nunca chegam a entrar em contato com a editora para divulgar o que estão fazendo, ficando ruim para os dois lados que não conseguem tirar proveito de nada do que tem em mãos.
Mas apesar de tudo, acho até bom que livros assim nunca cheguem ao conhecimento do público normal. Me diga qual seria a opinião de alguém que nunca teve contato com Lovecraft ser jogado em meio a um programa que discutiriam Cthulhu e que no final só chegariam a conclusão que aquilo ali é só um programa de loucos? Já temos amostras de como isso é recebido em programas quando tentam discutir RPG e nunca sai algo que o lado dos livros e leitores fiquem com uma imagem positiva.
Mas discutir literatura é algo que falarei em outra oportunidade, porque agora já me alonguei demais nisso. Até mais e que todos usem marcadores em seus livros, NÃO AS ORELHAS DOS PRóPRIOS, OK?
Stephen King.
Só esse nome já lhe causa arrepios e faz suas bolas ficarem do tamanho de ervilhas. Autor consagrado como o McDonalds da literatura (é lixo puro sem nenhum conteúdo saudável, porém delicioso e irresistível) e autor de clássicos do terror, como O Iluminado, Carrie – A Estranha, Christine, Cujo e Cemitério Maldito, cujas adaptações para o cinema preenchiam minhas tardes pré-adolescentes ao assistir o Cine Trash da Band.
Ele não é genial, ele não é subjetivo, ele não é lírico, ele não é um artista das palavras, mas vai saber narrar gostoso assim lá na PQP. Eu sou uma leitora cujos olhos brilham para clássicos como Madame Bovary, O Vermelho e o Negro e A Divina Comédia, mas eu seria hipócrita se não admitisse que devoro todos os livros do King que caem em minhas mãos.
Como eu disse, você NUNCA vai encontrar um escritor com uma habilidade narrativa tão afiada como a dele. Não é reflexivo, nem crítico e muito menos bonito, mas acredite: você vai curtir. Eu não poderia escolher outro autor para resenhar nessa sexta-feira 13.
Tendo confessado meu affair com Mr. King, posso começar a falar sobre Desespero sem parecer uma admiradora sem cérebro. Aliás, antes de começar a resenhar o livro em si, quero dizer que existe uma adaptação cinematográfica desta obra. Quer uma dica? Não assista. Os livros do Stephen King são uma uva se lidos e uma merda se assistidos. As excessões disso são á Espera de Um Milagre; que não é uma estória de horror, apesar de um forte elemento sobrenatural na trama e 1408, adaptação muito bem feita de um conto. Cemitério Maldito e Carrie (os filmes) eu adoro de paixão mas não são bons, eu é que sou trash.
Enfim, vamos ao Desespero:
Xerife:Você tem o direito de permanecer calado. Qualquer coisa que você disser poderá ser usada contra você no tribunal. Você tem o direito de ter um advogado presente durante qualquer interrogatório. Eu vou matar vocês. Se você não puder pagar um advogado, um defensor lhe será indicado. Você compreende seus direitos?
(Foi nessa parte do livro, bem no comecinho da narrativa, que os cabelinhos do meu braço se arrepiaram pela primeira vez. Eu também não entendi, só sei que gostei demais da sutil mensagem camuflada na Lei Miranda).
Desespero é uma pequena e abandonada cidade em Nevada, para onde um grupo de pessoas aleatórias – um escritor de meia-idade rebelde, uma família de pai, mãe e dois filhos pequenos, um casal moderninho de Nova Iorque etc. – são levadas após serem paradas na estrada pelo xerife Collie Entragian. Existem uns três personagens fortemente carismáticos nesse livro, o que acaba se tornando um dos grandes trunfos da obra. Dá até dó de saber que eles possivelmente morrerão (eu disse possivelmente). Maldito King sádico e sem coração!
Os viajantes logo percebem o comportamento bizarro e esquisito do xerife. O detalhe sórdido é que a cidade está literalmente abandonada porque o xerife Entragian… ah, não, não dá. Não vou contar a trama para vocês, vai estragar grande parte do prazer de acompanhar a narrativa. Só sei que tudo converge para uma apocalíptica batalha entre o bem e o mal, que falando assim parece tosca e nonsense, mas vale muito á pena você ver como as coisas caminham para esse rumo.
Essa é uma obra que contém imagens perturbadoras, do tipo que chegaram a invadir meus sonhos. Acredite se quiser: enquanto eu lia esse livro, tive dois pesadelos pavorosos envolvendo um ou mais elementos da trama. A minha sorte é que eu gosto de pesadelos e ok, admito que sou uma pessoa facilmente impressionável.
Stephen King é perito em descrever cenas, sentimentos, sensações e reações, geralmente ignorando a minha avidez pelos próximos movimentos das personagens, causando assim sensações fortes no leitor (inclusive fazendo meu braço arrepiar mais de uma vez). O livro peca, como toda obra de King, por parecer meio estúpido se descontextualizado e analisado á luz da lógica. Mas eu te garanto longas horas de prazer com Desespero. Uau, que frase sádica mais sexy…
Enfim, recomendo que você se arme com seus colhões e vá ler esse livro AGORA.
Desespero
Desperation Ano de Edição: 1996 Autor: Stephen King Número de Páginas: 540 Editora: Objetiva