Mate-me Por Favor (Legs McNeil e Gillian McCain)
Eu ando com tempo livre pra ler, depois que mudei de emprego. Troquei um serviço burocrático, que tava num computador e sempre tinha coisa pra fazer mesmo que não relacionada ao trabalho, por uma vaga operacional, que tem alternância entre momentos de ócio com tempestades de serviço bem no meio do meu cu e não chega nem perto de tecnologia. Não vejo a hora de voltar pro serviço burocrático. Mas até lá, vamo aproveitar o tempo livre pra ler. Ler coisas que caem na minha mão por acaso, de certa forma. Feito Mate-me Por Favor, que me foi emprestado porque eu chego na pessoa que tem trocentos livros e peço um livro emprestado falando “me surpreenda”.
Mate-me Por Favor é uma espécie de biografia do punk, aquele estilo musical que hoje em dia está morto e enterrado, segundo os fãs mais exaltados, e que em partes perdeu toda sua essência. Duas vezes, segundo eu. A que todo mundo conhece foi a “popalização” do punk, aquela parada de bandas como Offspring, Greenday e Blink-182 terem zoneado o rolê nos anos 90. Baita frescura, na minha opinião, considerando que o punk já tava morto na mídia fazia muito tempo, e essas bandas na verdade deram uma sobrevida, ou um enfoque diferente, como você preferir, ao defunto. Mas o mais grave foi a transformação do punk americano, aquela coisa de nego que não quer nada com nada fora drogas e pegar umas cocotas [Ou marmanjos, o sexo era livre], no punk inglês, politizado, sobre o fim do sistema, anarquismo, comunismo e todas essas coisas, que segundo a galera que cunhou o termo punk, é uma puta traição ao movimento punk, véio. Ah, é: O livro fala muito mais dos punks americanos, como se eles fossem os únicos e verdadeiros, e todo o resto não tivesse passado de cópia comercial. O que de certa forma é irônico, já que o Ramones, a banda mais comercial do punk até hoje, tendo em vista que é a de maior sucesso não lançou o primeiro single [Obra de Patti Smith], nem o visual [Que veio do guitarra do Television, o Richard Hell] ou mesmo o primeiro álbum, que foi do The Dictators. Uma banda de punk chamada Os Ditadores, o quão irônico é isso?
Mas chega de discutir definições e definidores da bagaça, o livro é feito de entrevistas, com a galera que fundou a coisa toda, caras alternativos tipo o David Bowie ou os retardados do protopunk feito o Iggy Pop ou mesmo os trutas do MC5. Mas tem muito mais. São histórias desconexas, contraditórias, aleatórias, mas que explicam e desmistificam muita coisa, como aquela lenda de que ninguém no Ramones tocava nada. Eles não tocavam bem, mas tocavam alguma coisa. Mesma coisa com o Sid Vicious, apesar do livro meio que satanizar o punk inglês, e rolar aquela lenda de que ele nunca tocou merda nenhuma. Mas temos aqui evidências que provam o contrário [Não que alguém ligue].
Dessa vez eu parei mesmo com essas discussões filosóficas. De resto, o livro é bom. Não é excelente, já que o ritmo é totalmente quebrado, devido à distribuição de assuntos por capítulos, sendo que cada capítulo é uma colcha de retalhos de entrevistas das mais diversas pessoas, ligadas ao punk de alguma forma. Tudo bem, é um trabalho do caralho compilar entrevista de sei lá quantas centenas de pessoas e escolher só as mais relevantes, mas isso poderia ter sido feito sem quebrar tanto o ritmo da coisa. Outra parte triste é que, além de negligenciar a parte inglesa do punk, que foi muito mais marcante na memória da galera [Ou pelo menos na minha], com seus moicanos coloridos, sua visão política extrema e sua violência sem sentido, é dado um destaque muito maior pra época pré-punk, como o protopunk e os alternativescos discípulos de Andy Warhol do que do punk em si. E quando cê acha que a coisa vai melhorar, PÁ! O livro acaba na sua cara. O ritmo, que era lento mas sem grandes solavancos, salta de banda sem grande cerimônia e te deixa chupando o dedo. Sem contar que a edição que eu li foi dividida em dois volumes com a desculpa de se tornar pocket, mas claramente quer capitalizar em cima, já que dava pra fazer uma versão pocket completa sem grandes dificuldades.
Resumindo, pra você é um vagabundo que não quer ler tudo isso: Se você gosta de punk, o livro é pra você. Mas cê tem que ter um conhecimento prévio também, senão cê vai se perder no meio de tanta papagaiada.
Mate-me Por Favor
Please Kill Me
Ano de Edição: 2004
Autores: Legs McNeil e Gillian McCain
Número de Páginas: 293/232
Editora: L&PM
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