Medo e Delírio em Las Vegas (Fear and Loathing in Las Vegas)

Filmes bons que passam batidos terça-feira, 08 de fevereiro de 2011

Então, eu não faço ideia de porque eu acabei me lembrando desse filme esses dias. Mas como eu preciso de alguma coisa pra escrever, bora falar sobre um filme legal por aqui, pra variar.

Antes de mais nada, o Medo e Delírio em Las Vegas é uma a adaptação do livro de mesmo nome escrito por Hunter S. Thompson, pai do jornalismo gonzo. O bacon até tem um post sobre esse livro, mas tá um tanto quanto superficial, então esqueçam essa informação.

Mas você, inculto leitor, ainda deve estar se perguntando: Ma que porra é essa de gonzo, afinal? Não entre em pânico, meu rapaz, é muito simples: O gonzo nada mais é do que uma vertente ainda mais espontânea, subjetiva e parcial do jornalismo literário, idealizada por nosso amigo Hunter Thompson, onde o acontecimento em questão é analisado, interpretado e registrado enquanto o jornalista interfere no mesmo, de preferência. Entenderam agora? Não? [Nota da editora: não, me perdi no meio dessa frase de 4 linhas.] Certo, voltemos ao filme. E ao livro também, já que o roteiro do Terry Gilliam é uma adaptação tão bem sucedida que, na minha opinião, as duas obras se complementam. Aliás, taí alguém que entende de adaptações. A gente percebe isso quando o cara desiste de adaptar Watchmen depois de uma conversa com o Alan Moore. Ao contrário de algumas pessoas. Né Sr. Zack Snyder?

Ok, a história começa quando o doutor em jornalismo Raoul Duke (alter-ego de Thompson) recebe uma proposta para cobrir uma tradicional corrida de motos no deserto de Las Vegas. Precisando da grana, ele e seu advogado Dr. Gonzo, alugam um conversível e decidem usar a matéria como pretexto para uma busca definitiva ao há muito perdido sonho americano. Mas não sem antes entupir o carro com as mais variadas drogas, claro.

 Não que nós precisássemos de tudo aquilo para a viagem. Mas quando você entra numa onda de colecionar drogas, a tendência e levar a coisa ao limite.

Chegando lá, mas que vergonha, só tinha maconha, realidade e ilusão se confundem enquanto Duke e seu advogado irrompem pela decadência da sociedade norte-americana por cassinos, circos, convenções antidrogas e quartos de hotel. Em meio a tudo isso, Thompson aproveita para discorrer sobre a contracultura dos anos 60 e o que diabos deu errado naquilo tudo. Em pleno ano de 1971, toda a esperança construída na década anterior começava a ruir e a cultura das drogas idealizada por Tim Leary se revelava tão vazia e individualista quanto o sistema que tentava derrubar. Todos estavam ocupados demais libertando a própria mente para realmente tomar alguma atitude. Tanto que, já no ano seguinte, Richard Nixon se reelegeu como presidente dos Estados Unidos.

Mesmo com essa conclusão extremamente desesperançosa, o filme consegue ser bem engraçado. Em grande parte por causa do estilo ácido da prosa de Thompson, muito bem transferido para a tela. A veia surrealista de Gilliam também entra com perfeição para dar a obra o clima de insanidade que ela merece. Assim como os personagens, todos bastante exagerados (E até caricatos, eu diria). Por falar em personagens, o Johnny Depp está sensacional como Raoul Duke, boa parte do sucesso do filme se deve a ele e sua narração. E o Benicio Del Toro dá simplesmente a performance de uma vida encarnando o samoano Dr. Gonzo.

Enfim, o filme cumpre muito bem com o papel de representar toda a estranheza e falta de sentido do período que retrata, e acaba soando como um último suspiro ilusório de uma geração que fatalmente precisou voltar a encarar a realidade. E faz tudo isso sem cometer o pecado de se apresentar como alguma espécie de despedida. Não, é simplesmente o fim. Mas como bem conclui Thompson, a perda e o fracasso deles, são nossos também.

Ah, e esse foi um dos poucos filmes que eu vi mais de uma vez e pretendo ver novamente, cês não fazem ideia do quão raro é isso.

Medo e Delírio em Las Vegas

Fear and Loathing in Las Vegas (118 minutos – Comédia, Drama)
Lançamento: EUA, 1998
Direção: Terry Gilliam
Roteiro: Terry Gilliam, Tony Grisoni, Tod Davies, Alex Cox, baseado no livro de Hunter S. Thompson
Elenco: Johnny Depp, Benicio Del Toro, Tobey Maguire, Christina Ricci, Mark Harmon, Cameron Diaz, Flea

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