Meu Sério Problema com Cinema Brasileiro – Lula e o Oscar
Ok, ok. Até agora eu perambulei por alguns dos maiores clássicos nacionais, apontando seus vícios e problemas que tornam o Brasil – um país com uma potência cinematográfica exorbitante – em motivo de piada. Mas hoje eu vou falar de um, e apenas um filme, que com certeza não vai se tornar um clássico. Enquanto nas últimas décadas a indústria argentina e mexicana despontam na América Latina (Não vou nem chegar ao mérito de discutir que um filme peruano, A Teta Assustada, levou o Urso de Ouro e concorreu ao último Oscar, uma vez que ele aborda a estética da fome tanto quanto o Brasil – embora se assemelhe mais ao Irã (Potência de destaque do cinema mundial) – e cuja pobreza dá o tom da história, mas sem motivar o protagonista a certas ações, a Terra Brasilis continua em uma mesmice sem fim.
Calma aí. Acho que estou sendo positivo demais. Esse último ano apontou a decadência da indústria nacional. Quer a prova?
A escolha da cinebiografia do presidente Lula para representar o Brasil na briga por uma vaga no Oscar pode ter sido consensual entre os membros da comissão de seleção, mas não representa a vontade dos internautas que votaram em uma enquete popular promovida no site do Ministério da Cultura entre os dias 8 e 20 de setembro.
Para as pessoas que votaram, o candidato brasileiro à estatueta deveria ser o filme “Nosso lar”, de Wagner de Assis, que recebeu 70% do total dos cerca de 130 mil votos. Em seguida, outro filme inspirado na doutrina espírita, “Chico Xavier”, de Daniel Filho, com 12% dos votos na enquete.
“Lula – O filho do Brasil”, superprodução considerada um dos filmes mais caros do país, recebeu apenas 1% dos votos na enquete do MinC, atrás de filmes independentes como “Os famosos e os duendes da morte”, “O grão” e “Antes que o mundo acabe”.
Eu juro para vocês que ainda não consegui decidir o que é pior na situação que se deflagrou. O fato de OITENTA E DOIS porcento dos votos terem se resumido em dois filmes – soníferos (E com sérios problemas de atuação) – cujo maior (Pra não dizer único) mote foi a propagação da doutrina espírita. Ou seja, é como se o cinema pudesse ser descartado e utilizado apenas como panfleto. É ignorar direção, roteiro (Webcams espirituais, né, Uiara?), atuação, um orçamento que poucas vezes se viu no cinema brasileiro, e criar uma obra panfletária. Esqueçam meus períodos de Theós é Tanga – A Felicidade Não se Compra está no Top 100 do bacon, cáspita. Fora que vocês têm noção das portas que isso abre para uma possível tomada do cinema brasileiro por filmes evangélicos?
Brasil: País
da tolerânciado sincretismoda suruba de religiões.
Antes fosse, porém, esse fosse o único problema com a tal reportagem. O que cacete um outro filme panfletário está fazendo como nosso representante no Oscar? Sério, quantos países você já viu com um filme sobre o presidente da atual gestão, em uma conjuntura que não seja de ditadura? Tirando W, que é uma crítica monstro do Oliver Stone, sobre a gestão Bush. Nada contra o “cumpanhêro Lula”, sério. Antes um filme dele do que da “Dilma capetinha”, Serra, a.k.a. Nosferatu ou da Heloísa “eu acredito em Adão e Eva” Helena.
E o pior (Ou deveria dizer, o menos mal) é que o presidente NADA tem a ver com isso. O problema disso é uma mixagem dos últimos dois temas que eu abordei: Ufanismo e estética da fome. Sabendo dessas duas tendências, você consegue imaginar um cenário melhor do que a de um presidente cujas pesquisas mostram a maior popularidade da história e uma história sofrida (Com a qual a maior parte da população pode se espelhar)? É quase um Nelson Mandela, sem a parte de ter salvado um país do auto-extermínio e ter ensinado uma lição valiosa para humanidade, se tornando uma das pessoas (Se não a mais) importantes do século 20. Quase. A partir daí é fácil entender a decisão (Presepada) de eleger o filme do Lula – afinal, ele também foi chamado pelo Obama de “presidente mais popular do mundo”. O Lula é pop. E o cinema do Brasil continua afundando. Teremos que sobreviver de Cidade de Deus e Tropa de Elite eventuais para darem uma revitalizada na “indústria nacional”?
Ps. O Jornal “La Nacion” disse o seguinte de “Lula, El Hijo del Brasil”:
Cada episódio da vida do presidente do Brasil é mostrado como se fosse um manual de História escrito por seu biógrafo oficial.
Isso não te lembra alguma coisa?
Ps2. Senhoras e senhores, apresento-lhes a pior linha da história do cinema:
O senhor tem que ser forte. Seu filho nasceu morto. O senhor vai ter que ser mais forte ainda. Sua mulher também morreu.
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