Minha Idéia De Diversão (Will Self)
Eu já li algumas coisas muito estranhas. Estranhas mesmo. Se vocês acompanham isso, devem se lembrar de algumas.
Alguém se esqueceu do Crash, que contava sobre um grupo de pervertidos, sexualmente atraídos por batidas de carro?
Coisas desse tipo sempre fizeram parte da minha predileção literária.
No entanto, Minha Idéia De Diversão é um tanto quanto diferente. Talvez seja a primeira vez em anos em que eu me sinto verdadeiramente incomodado com as cenas que tenho lido nesse livro. Talvez pela riqueza de detalhes – Will Self tem uma incrível linguagem descritiva, rica em metáforas e comparações -, talvez seja porque a história é Realmente estranha, e até agora eu não sei exatamente se eu realmente entendi tudo.
Ian Wharton é um jovem e bem-sucedido publicitário londrino. Ele é casado com uma bela esposa, que inclusive está grávida de oito meses, e se prepara para a paternidade. No entanto, numa reunião entre colegas, numa conversa sobre o que os diverte, Ian lembra-se de que sua idéia de diversão é decepar mendigos em estações de trem e fazer sexo com o pescoço decepado, enfiando seu pinto dentro da garganta sangrenta.
Ok.
Isso foi estranho. Ok.
No entanto, soa um pouco como “hah, sou um escritor iniciante e vou te chocar!”, o que é algo bem idiota.
Mas isso acontece logo no primeiro capítulo e está longe de ser o que faz do romance algo interessante.
Quando o casal volta pra casa, Ian está pensativo sobre se deve ou não contar para sua esposa a sua idéia de diversão. Isso a encheria de pânico, e ele então teria que arrancar à força o feto de sua barriga grávida (???).
E a partir daí, como uma forma de dar argumentos aos leitores para que nós possamos ajudar na decisão, Ian começa a contar sobre sua infância perturbada, sobre sua atração edípica pela própria mãe, e principalmente sobre a figura do Sr. Broadhurst, um velho obeso que foi ocupar permanentemente um dos espaços de aluguel do hotel de veraneio que a mãe de Ian tinha aberto.
O sr. Broadhurst passa a influenciar cada vez mais o crescimento de Ian, substituindo a figura de seu pai, que havia há muito tempo sumido.
A coisa fica Bem estranha quando o sr. Broadhurst passa a sofrer alterações de comportamento e vestimenta cada vez mais radicais, cada vez que volta das férias de verão. Nos últimos encontros com Ian, ele já usa uma cartola, um terno classicamente inglês, e fuma um fedorento charuto.
Depois de descer a mão na orelha do garoto, pede que seja chamado, para sempre, como O Controlador Gordo.
E aí a coisa fica estranha…
Para ajudar: a história gira em torno na premissa de que Ian é eidético. Para quem não sabe, a eidese é o “dom” mental de gerar imagens, na imaginação, perfeitas, e manter essas imagens por longos períodos, sem a necessidade de qualquer esforço. Simplificando, a eidese é a memória fotográfica perfeita.
Um eidético pode se lembrar com perfeição de detalhes mínimos de algo que ele viu durante poucos segundos. Não só isso, como o eidético pode manipular mentalmente a imagem, girando um cubo na mente, por exemplo, sem perder a riqueza de detalhes do quadro geral.
Nós, pessoas normais, podemos nos concentrar em lembrar cada detalhe dos olhos de nossa amada, mas perdemos a riqueza de detalhes do resto do rosto enquanto o fazemos. Um eidético não, é como se ele criasse uma réplica de cera perfeita das coisas que ele lembra em sua mente.
O problema é que 90% dos eidéticos nasce autista. Aqueles que são “normais”, vão aos poucos se tornando pessoas deprimidas e compulsivas.
Ian teme perder completamente o contato com a realidade, mergulhando para sempre em imagens puramente eidéticas…
MInha Idéia De Diversão
My Idea Of Fun
Ano de Edição: 2002
Autor: Self, Will
Número de Páginas: 372
Editora:Geração Editorial
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