Na vibe do Oscar: La La Land
La La Land chegou com o pé na porta das premiações. Emma Stone e Ryan Gosling foram coroados como melhores atores na categoria de comédia ou musical do último Globo de Ouro. O longa abocanhou outros cinco prêmios na ocasião, inclusive o de melhor filme, direção e música original, a socorro, meu deus, tô apaixonada grudenta City of the Stars . Com toda a pompa de vencedor, é forte candidato ao Oscar, que acontece no próximo 26 de fevereiro, então era preciso conferir. Afinal de contas, quero garfar os bacons de todo mundo pelo segundo ano consecutivo no nosso tradicional bolão. Prioridades: A gente vê por aqui.
Musical não é bem minha praia, mas abrir a cabeça e não julgar o que é diferente tem tudo a ver com a premissa do filme, que é “siga seus sonhos”. Clichê, mas na vida real somos regidos por outras forças. Para alguns, a praticidade da zona de conforto basta para uma vida boa. Mas para uma daydreamer incorrigível, é impossível apenas contemplar uma vida mais ou menos. Prefiro nadar e morrer na praia. Por isso, imediatamente empatizei com o casal protagonista Mia (Stone) e Sebastian (Gosling). Ela, uma aspirante a atriz que falha em todos os testes e ele um wannabe pianista de jazz, que sonha em abrir seu próprio clube. Os dois se conhecem, soltam faíscas de antipatia, até descobrirem que possuem mais em comum do que imaginam e passarem a apoiar o sonho do outro, enquanto vivem uma intensa história de amor.
A história evolui inicialmente de forma tipicamente hollywoodiana. Como já adiantei, eles obviamente se apaixonam em meio à pindaíba em que se encontram, afinal são dois artistas bonitos com objetivos em comum, divertidos. Why the fuck not? E, ainda que as vezes se magoem e abram rusgas no relacionamento, no fim das contas se tornam amantes e grandes amigos, sempre apoiando as decisões um do outro e lembrando, em momentos de fraqueza, que são incríveis e têm um sonho a seguir.
O desfecho, ao contrário do início, ousa e rompe com os padrões de final feliz que estamos acostumado. Não me entendam mal, há um final feliz. Desde que o espectador compreenda que a felicidade é plástica, abstrata, repleta de coisas que nos agregam ao longo do caminho. O musical traz uma mensagem muito forte sobre como somos mutáveis e capazes de ressignificar aquilo que nos faz feliz, em prol de um objetivo maior. No caso, os elementos que costumam ter maior peso e apelo em comédias românticas, o que torna o musical, a sua maneira, um filme bastante corajoso.
La La Land é lindo e inspirador, mas não é grandioso ou extraordinário em nada do que se propõe. Emociona, mas não se esqueçam, eu sou uma sonhadora em uma busca constante por mim mesma. Sou preza fácil das emoções, mas a técnica não me escapa. As músicas são bem inseridas no contexto narrativo, o que é essencial para a fluidez da trama e um alívio para quem não é muito fã do gênero, mas se a dupla Stone-Gosling é boa de palco (Tela, no caso) não convence cantando ou dançando. Ele aprendeu a sapatear e a tocar piano para o filme, um esforço que eu admiro, e com aquele carisma a gente até perdoa, mas nada disso o transforma em ator de musical. Emma Stone se sai melhor que seu parceiro nos vocais, mas quando lembro de Amanda Seyfried em Mamma Mia, concluo que no fim das contas que as performances, nesse aspecto, são um pouco decepcionantes. Já a trilha sonora (Ouve aqui, vem) composta por Justin Hurwitz é uma delícia, moderna e catchy. Certamente cresceria se fosse defendida por atores mais capacitados. Não seria o estrondo de bilheteria que vem sendo, é verdade, mas daria mais caldo à obra de Damien Chazelle. Se fosse um romance comum, a escalação teria sido perfeita, porque os protagonistas funcionaram muito bem juntos, diante da câmera. Infelizmente, para isso, comprometeram o grande diferencial do longa: A parte musical.
Diante do que vi, foi superestimado pela crítica, pelos jurados do Globo de Ouro e as chances de se repetir no Oscar são gigantes. Não é um desperdício de ingresso, longe disso, mas tampouco é um filmaço em caps lock, negrito e pontos de exclamação. Tem um hype especial pelo elenco, conta uma história bonita e tem uma estética até modesta, mas absolutamente encantadora. É um entretenimento gostoso, que dá borboletas no estômago, mas ao fim deixa a sensação de que falta um algo a mais. Na vida e no filme.
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