O Cardeal do Kremlin (Tom Clancy)
Faz já um bom tempo desde a última vez que resenhei um livro, e cada vez que descubro mais acerca de Tom Clancy e sua obra, cada vez mais queria não ter sequer começado. É o tipo de coisa que os gringos botam num pedestal só porque são gringos (Com suas inerentes capacidades conhecidas por todos nós) e que deveria ter acabado junto com a porra do muro de Berlim… Aliás, me lembra bastante o Stephen King.
Como a grande parte das pessoas, meu primeiro contanto com Tom Clancy foi através dos jogos Ghost Recon, Rainbow Six e Splinter Cell, e como a grande parte das pessoas, eu devia ter me mantido só nisso. Quero dizer, nunca joguei Rainbow Six e minha experiência em Splinter Cell é pouca coisa maior que a já parca em Ghost Recon, mas porra, você pode ignorar a história (Já que não dá pra pular a porra das CGs) e atirar em coisas. É fácil e rápido, além de ser gratificante no que toca a violência embutida. Bem, o livro não é rápido e nem gratificante, mesmo sendo fácil e relativamente violento.
Vocês já sabem que uma coisa que mais prende o leitor é o fatídico “só vou terminar isso aqui…”, que normalmente consiste em parágrafos/cenas curtas e dinâmicas, bem como capítulos curtos e com uma linha constante de “ação”, ou seja, o tempo todo acontece alguma coisa, seja o que for, mas que não seja “comum”. Pois então, os capítulos e os parágrafos de O Cardeal do Kremlin são curtos e sempre tem uma certa “ação”, e ainda sim o livro se arrasta.
Não estou brincando quando digo que só tem ação “de verdade” depois de 350 páginas do livro. Não é exagero quando digo que o primeiro terço inicial do livro é completamente irrelevante para a história, e que todas as explicações minimamente necessárias caberiam em um único capítulo. E não é brincadeira também quando digo que o livro não tem nem clímax, e que é só um grande e inútil desenvolvimento que, tal qual as negociações entre URSS e EUA na história, não levam à lugar algum.
O livro se arrasta, te conta coisas que não interessam nem um pouco, e o pior é que as conta aos poucos: Você lê um parágrafo sobre nada, muda pra outro parágrafo sobre outro nada e volta pro nada anterior, e repete isso o livro todo. Você não se importa com o que vai acontecer, não se importa com os personagens e nem liga pros locais onde elas acontecem. Aliás, cabe o aviso: Há vários e vários e vários personagens recorrentes, sendo que você não só não liga pra nenhum, como praticamente todos tem uns 3 nomes diferentes… Tipo Tolkien, mas em russo. Aliás, russos são probidos de ter menos de 3 e mais de 3 nomes.
Mas eu devia lhes contar a história, né: Tanto a URSS quanto os EUA estão desenvolvendo um laser que será capaz de monitorar satélites e comunicações, mas que também podem derreter os tais satélites em órbita, bem como desarmar e detonar mísseis inimigos em pleno ar. E, claro, ambos os governos espionam o outro para conseguir detalhes de tudo que quiser. Os EUA tem um espião em alto cargo no governo russo, o coronel Filitov, que passa os dados do projeto do laser russo pros EUA, mas ele é descoberto (Lá pela metade do livro) e vai ser morto por traição (Sim, ele é russo) se Jack Ryan, um cara da CIA, não o salvar.
E como não poderia deixar de ser, o livro fala sobre a guerra fria: Uma guerra que não dá, não desce mas que os dois lados mantêm só pra não perder poder. O livro é cheio de histórias paralelas, que importam tanto quanto a história princial, e que, claro, unem-se numa só no final. Aliás, o final do livro é ridículo: Tudo se resolve em um quarto de capítulo mais o epílogo de cinco páginas. Pior que final de novela, tenham certeza.
O Cardeal do Kremlin é o quarto livro do Tom Clancy, sendo que é o terceiro do Jack Ryan, que viria a estrelar mais uns 12 ou 13 outros livros (Sim, todos relacionados, mas, claro, de forma não cronológica), e eu tenho certeza ABSOLUTA que são todos iguais. Do mesmo jeito que todos os Rainbow Six são, todos os Splinter Cell, todos os Ghost Recon e todas as outras séries que esse infeliz já escreveu. E tenho certeza que todas são iguais entre si também. E não basta um Jack Ryan só, tem o Jr. também, além do “lado sombrio” com outro nome. E aí tá a coisa: Do mesmo jeito que acontece com os jogos, acontece com os livros, pelo simples fato que esse filho da puta não aceita que a Guerra Fria acabou há mais de 20 anos (Não que já não fosse um saco enquanto ainda durou) e não larga o osso. E, claro, sempre tem alguém pra gostar da merda que for.
Por fim, o resultado disso tudo é um total e grande “foda-se”. Fodam-se os personagens, a história, a Guerra Fria, os russos, os muçulmanos, os americanos e os agentes duplos. A única coisa que importa nesse livro é que você leu, gastando tempo precioso no qual você poderia estar praticando mergulho de viadutos. Serve pra te ensinar que a fama que muito gringo tem de ser idiota não é sem fundamentos, e pra dar um tapa na sua própria cara pra aprender a parar de ser burro… Pelo menos nos jogos você atira em pessoas, ao invés de querer atirar em si mesmo.
O Cardeal do Kremlin
Cardinal of the Kremlin
Ano de Edição: 1988
Autor: Tom Clancy
Número de Páginas: 533
Editora: Editora Best Seller
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