O Gato Fritz (Fritz the Cat)
Anos 1960. Fritz é um gato descontraído, estudante universitário, um jovem de mente inquieta que quer viver a sua vida intensamente, procurando desfrutar de toda e qualquer experiência e aventura que possa passar à sua frente. Passeia-se por um Harlem extremamente violento e encontra muito sexo, drogas alucinogénas, mais sexo, música, sexo, jogo, sexo, brigas, sexo e… Bem, mais sexo. No seu encalço tem porcos políciais, corvos negros e várias personagens revolucionárias inspiradas na obra do lendário desenhador Robert Crumb. Um ícone da contra-cultura, “Fritz, the Cat” foi considerado a primeira longa-metragem pornográfico da história da animação.
Baseado nas tirinhas do Gato Fritz, desenhada pelo quadrinista mais foda que já pisou na terra, Robert Crumb, este filme é igualmente foda. Primeira animação a receber a classificação X, que a proíbe para menores de idade, além de ser a animação independente que mais arrecadou na história (100 milhões de dinheiros), Fritz The Cat não é só uma crítica voraz aos costumes americanos, mas principalmente aos costumes universitários.
Tais indivíduos são pintados como pessoas hedonistas, que só pensam em si e em propagar seus “ideais”, nunca tendo realizações reais. Não dá para deixar de dar aquela olhada para sua faculdade, ou para si mesmo, e não se identificar, ainda tendo que fazer um mea culpa. A passagem inicial que mostra os operários falando sobre trabalhar muito para dar educação aos filhos deixa isto muito evidente.
Fritz é a personificação desta crítica. É um gato que só quer saber de divagar, fumar drogas e transar o máximo possível. Para isso, não importa se ele tem que mentir e se passar por uma alma atormentada, ou usar toda sua lábia de “poeta”. Por este motivo, vive se metendo em confusões do barulho, e acaba se dando mal, ou bem, de várias maneiras diferentes, mas independente disto, sempre vive sua vida de busca pela esbórnia.
O filme faz uma crítica à polícia e à relação da sociedade americana com os negros. O momento delicado de segregação racial daquela época é bem retratado no filme. A caracterização destes personagens foi o que mais me chamou atenção. Os negros são corvos, os policiais são porcos. São claras alusões à características atribuídas a eles. De um lado, o corvo, que para além da cor, é uma ave estigmatizada como um símbolo de azar e é ainda um animal carniceiro, ilustrativo da situação dos negros e do que se pensava sobre eles na época. Os policiais como porcos deixam claro o desprezo de Crumb por eles, que personificam o poder estabelecido.
Fritz the Cat é então um retrato politicamente incorreto da sociedade americana e vale a pena qualquer tempo gasto. Acredito inclusive que se encaixa no tal humor anárquico que o Jo vem trazendo, pois o filme não respeita nada nem ninguém.
Se vocês não conhecem e não viram, corram atrás, não tem como se arrepender. Vai render uns bons momentos de gargalhadas e umas reflexões também. E vão por mim, leiam qualquer coisa e vejam qualquer coisa relacionada a obra de Robert Crumb, apesar de ele mesmo ter odiado o filme.
O Gato Fritz
Fritz the Cat (78 minutos – Comédia/Animação)
Lançamento: EUA, 1972
Direção: Ralph Bakshi
Roteiro: Ralph Bakshi
Elenco: Skip Hinnant, John McCurry, Rosetta LeNoire, Phil Seuling
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